Desafios Presentes e Futuros Para a Educação Angolana

Resumo

A educação é o baluarte do desenvolvimento sustentável e multifacetado de qualquer país, independentemente da sua localização geográfica, situação político-económica, social, regime de governação, laicidade, religiosidade, etc.

Do nível pré-escolar ao universitário, a educação exige investimento e seriedade, o que não tem sido feito, por muitos governos, sobretudo os dos países menos desenvolvidos.

A este respeito, dados recentes da UNESCO revelaram que cerca de 900 milhões de pessoas no mundo, ainda são analfabetas e 100 milhões de crianças estão fora do circuito escolar.

Diante destas informações preocupantes, questiona-se: Será que há preocupação, engajamento e (re)conhecimento de todos os governos, da importância da universalização da educação? Como têm olhado para a educação das novas e futuras gerações? Às quantas andámos em relação aos compromissos assinados sobre a educação de qualidade para todos? Estará a educação em crise? Que caminhos? Que soluções? Que propostas concretas para sair deste imbróglio?

Portanto, só uma investigação científica rigorosa pode ajudar-nos a compreender e responder. Aliás, é sobre a “educação em crise” que a UNESCO, outrossim, tem desencadeado “uma reflexão mais madura” alvitrando as bases nas quais deveria assentar uma política de educação que levasse em conta as contingências e idiossincrasias do quotidiano das pessoas. O que se deseja, portanto, é que sejamos capazes de apontar alternativas em direcção ao usufruto pleno do direito à educação, como exercício da cidadania em diferentes condições e cenários sociais, preocupação que se torna emergencial no contexto em que passamos a estar imersos com a pandemia.

Para o caso específico de Angola, a educação universitária e não universitária, enfrentam enormes desafios, desde a base ao topo, por isso, investir nelas é um imperativo inegociável. Fitos neste desiderato, e consabidos de que a investigação e publicação científicas são imprescindíveis, divulga-se nesta edição inaugural da Revista Científica do ISCED-Huíla, um conjunto de artigos académicos resultantes de pesquisas originais teóricas e de campo, da área da Educação, que ajudarão a aprofundar a compreensão sobre a realidade actual da Educação em Angola e no mundo.

As temáticas elencadas neste primeiro número mobilizam saberes que abarcam do ensino pré-escolar ao universitário, cujas discussões, reiteram a importância do protagonismo da escola no enfrentamento dos desafios sociais, culturais e metodológicos da educação em Angola e no mundo.

Deste modo, o artigo que abre esta edição, das autoras Simone Vieira de Souza, Diana Carvalho de Carvalho, trata da relação entre a escola pública e o seu compromisso pedagógico, social e político na produção de cenários de aprendizagem e de desenvolvimento da criança/estudante. O artigo de Elison António Paim, Solange Maria Evangelista Mendes Luís identifica o agenciamento da experiência, memória, patrimônio e cultura locais na produção dos saberes escolares.  José Martins dos Santos Neto convida-nos a pensar sobre a função educativa da escola na actualidade, a partir da análise do filme Entre lés murs, de Laurent Cantet, enquanto Elsa Ofélia Sequeira Rodrigues e Leonardo Pomba Correia exploram a influencia da preparação didáctica-metodológica dos alunos na aprendizagem significativa.

O artigo de David Benje Mucuenje busca através de uma análise documental, compreender o funcionamento do curso de formação de professores do Ensino Primário do Instituto Superior de Ciências da Educação de Benguela (ISCED-Benguela), focando-se na análise da grelha curricular.

Margarida Maria Fernandes Ventura, Teresa Almeida Patatas e Carlos Fernandes Ribeiro apresentam-nos as principais causas do insucesso escolar a partir de um trabalho realizado no Sul de Angola nas províncias da Huíla e Namibe, já o autor Waldemar Sérgio Tavares oferece-nos um exame sobre a construção do currículo escolar em particular no ensino universitário de formação de professores no curso de Ensino da Geografia, colocando no centro da questão, a necessidade de integração no currículo, do estudo das localidades.

Os dois últimos artigos desta edição tratam de problemas relacionados ao campo das ciências exactas, sendo o artigo de Rogélio Alberto Valdés Gámez, focado na compreensão dos principais problemas no ensino de grandezas matemáticas por meio da mensuração com unidades de medidas não convencionais em creches e escolas do ensino primário e o de Bernardo Manuel Camunda aborda a resolução de problemas químicos com cálculo, mediante a problematização da realidade contextual.

Todas estas reflexões pertinentes, actuais e transversais apresentadas neste número inaugural da nossa Revista Científica do ISCED-Huíla, vão permitir que a RCIH se constitua gradualmente, num veículo relevante na divulgação do conhecimento científico produzido no campo da educação em Angola e  possibilite desta forma, ampliar a nossa compreensão sobre o nosso sistema de ensino.