Relação entre trauma e religião no pós-guerra - o caso da Huíla
Resumo
Dez anos depois da paz ter sido estabelecida em Angola, ainda se encontram muitas consequências da guerra. As populações que tiveram directamente ligadas à violência armada são as mais afectadas. Devido à guerra, tem havido uma erupção de novas religiões por todo o país, uma enorme explosão de igrejas que não são as tradicionais. De acordo com o Instituo Nacional dos Serviços Religiosos , em Angola neste momento existem 83 igrejas registadas e reconhecidas e 902 que não são. Este estudo propõe verificar a relação entre o trauma causado pelos 30 anos de guerra civil em Angola e a religiosidade. Os resultados indicam que existe uma relação entre a sintomatologia de PTSD (trauma) e o nível de religiosidade, bem como entre os motivos da deslocação (guerra e outros) e a religiosidade: os mais traumatizados e os que são deslocados apresentam maior religiosidade. As pessoas que são deslocadas de guerra são os que apresentam maior nível de traumatização. Compreende-se a relação entre o trauma e a religiosidade, uma vez que a religião é um factor de protecção e de preservação da comunidade , bem como um factor de protecção dos seus membros. De acordo com a teoria, as pessoas mais religiosas deveriam estar mais protegidas contra a traumatização. Contudo, os resultados mostram exactamente o oposto. Foram realizadas várias entrevistas com o fim de perceber este fenómeno e verificámos que as pessoas mais traumatizadas foram aquelas que mais procuraram refúgio na religião e não os mais religiosos que ficaram mais traumatizados.
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