TUNDAVALA
Revista Angolana de Ciência
infeção com o VIH até ao início das doenças associadas
à SIDA. Uma pessoa infetada com o VIH pode car
assintomáca por 10 ou mais anos (OMS, 2010).
As pessoas infetadas com VIH que não são tratadas,
desenvolvem doenças associadas, dependendo das
caracteríscas do vírus e do hospedeiro (OMS, 2010).
Desde a primeira descrição da SIDA, em 1981, os
invesgadores idencaram dois pos de VIH: VIH-I
e o VIH-2. O VIH-1 é o po predominante em termos
mundiais e o VIH-2 ocorre mais frequentemente na
África Ocidental, ocorrendo infeções ocasionais na
África Oriental, Europa, Ásia e América Lana. Ambos
causam a SIDA e as suas formas de transmissão
são as mesmas. Contudo, a transmissão do VIH-2 é
ligeiramente mais dicil e a progressão para SIDA pode
ser mais lenta. Este vírus pode car incubado por muitos
anos, sem que o infetado manifeste sintomas de SIDA
e por isso não saber que está infetado (OMS, 2010).
O VIH e a SIDA podem denir-se como uma doença
crónica, de curso prolongado, que pode ser progressiva
e fatal ou associada a um período de vida relavamente
normal, apesar da deterioração da função mental/
psicológica (Canavarro, Pereira, Simões, Pintassilgo,
& Ferreira, 2008). Em termos do impacto psicológico
do VIH e SIDA podemos encontrar perturbações em
três áreas disntas: a nível emocional, cognivo e
comportamental. Por isso, torna-se necessário intervir
nestas áreas, nomeadamente: (a) a nível emocional
(e.g., lidar com a mágoa de poder perder alguém,
a culpa, a tristeza e a raiva); (b) a nível cognivo
(e.g., educar a família sobre o VIH e SIDA, incluindo a
transmissão, a progressão e o tratamento); e (c) a nível
comportamental (e.g., ajudar a integrar a doença crónica
na vida diária do doente e da família, realizando as
mudanças necessárias, o que exige grandes adaptações
e levanta tensões nas relações e ronas familiares,
provocando stress no sistema familiar) (Correia, 2004).
Os esforços de prevenção são gravemente minados por
uma atmosfera de perseguição, negação e informações
erradas. As pessoas que enfrentam o VIH exprimem
temas e senmentos que lhes são comuns. É frequente
passarem por senmentos profundos de ansiedade
e depressão, principalmente depois de receberem o
resultado posivo de um teste de VIH. Podem senr-se
inseguras sobre como evitar infetar os outros, como
cuidar da sua saúde, se devem ou não connuar num
emprego ou numa relação e se devem revelar o seu
estado de saúde aos outros (Souto, 2008).
VIH e SIDA: Qualidade de Vida
A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2010) dene a
saúde como um estado de completo bem-estar sico,
mental e social e não simplesmente como ausência
de doença. Esta denição implica que as iniciavas
de promoção de saúde não sejam apenas dirigidas
ao controlo de sintomas, diminuição da mortalidade
ou aumento da expetava de vida, mas que valorizem
igualmente aspetos como o bem-estar e a qualidade
de vida. Por sua vez, também o aumento da esperança
média de vida, em virtude do progresso tecnológico
da medicina (Fleck, 2008; Han, Lee, & Park, 2003,
citados por Teixeira, 2007), a alteração no panorama
das doenças, de predominantemente infeciosas a
predominantemente crónicas (Bowden, Fox, & Rushby,
2003; Lowy & Bernhard, 2004, citados por Teixeira, 2007),
a inuência das medidas médicas objevas e tradicionais
na avaliação das limitações impostas pela doença e os
seus tratamentos nas diferentes dimensões da vida
da pessoa doente e o movimento de humanização da
medicina foram fatores que contribuíram para reforçar
a relevância da qualidade de vida em contextos clínicos/
médicos (Bonomi et al., 2000; Feck, 2008; Ribeiro, 1994,
citados por Teixeira, 2007).
Na área da saúde, a qualidade de vida dene, portanto,
o impacto da doença sobre a vida e o bem-estar do
indivíduo, sendo neste contexto parcularmente
conhecida por qualidade de vida relacionada com
a saúde. É no âmbito da doença crónica que se tem
vericado um maior interesse em avaliar a qualidade
de vida, sendo que a importância da conceptualização
deste conceito está inmamente ligada à evolução
das doenças prolongadas (Heinemann, 2000; Ribeiro,
1997, citados por Teixeira, 2007). A terapêuca
anretroviral (TAR) permiu uma redução signicava
da mortalidade e da incidência das principais infeções
oportunistas, introduzindo, assim, importantes
alterações à história natural da infeção pelo VIH, e
constuindo uma intervenção ecaz na melhoria da
sobrevivência dos doentes infetados (Schumaker,
et al., 1997, citados por Polejack & Fortunato, 2002;
Seidel, Tróccoli & Zannon, 2001). Neste contexto, a
melhoria da qualidade de vida torna-se um aspeto
central para o cuidado e apoio às pessoas que
vivem com o VIH e SIDA em que, para um doente
infetado pelo VIH, não é apenas a duração da sua
vida o centro da sua preocupação, mas igualmente
a sua qualidade. A este respeito, Leplége, Rude,
Ecosse, Ceinos, Dohin, e Pouchhet (1997, citados
por Pereira, 2005) referem que, em temos gerais,
os doentes rejeitam um tratamento especíco que
aumente a duração da sua vida mas que reduza a sua
qualidade de vida. Consequentemente, e no contexto
mais global da doença crónica, trata-se de viver e
não sobreviver (Moniz & Barros, 2005, citados por
Pereira, 2005). Apesar dos avanços nas terapêucas,
a infeção pelo VIH connua a caracterizar-se pela
presença de múlplas manifestações, a maioria das
quais fortemente comprometedoras da qualidade de
vida dos doentes infetados (Remple, Hilton, Ratner, &
Burdge, 2004, citados por Fleck, 2006).
VIH e SIDA: Impacto na Vida Familiar e Coping
O diagnósco do VIH e SIDA tem um impacto negavo
não só nos doentes, mas também nas respevas
famílias desses doentes. Normalmente, as famílias
podem ser alvo de preconceitos, os quais podem
estar relacionados com o medo de contaminarem
outras famílias, o que faz com que, muitas vezes,
sofram de isolamento social, desemprego (quando a
endade patronal descobre a seroposividade) e o
próprio sujeito doente pode apresentar senmentos
de culpa para com a família. Neste sendo, podemos
armar que não é só o doente que sofre com o VIH e
SIDA, mas todo o sistema familiar é afetado por esse
diagnósco (Relvas, s.d). Atendendo ao subsistema
conjugal, quando um dos parceiros é seronegavo
e o outro posivo, os conitos podem ser intensos,
começando o parceiro não infetado por quesonar a
delidade do outro, recusando-se a manter uma vida
sexual ava, enquanto a origem da doença não for
desvendada, não querendo aceitar a traição da pessoa
amada, e preocupando-se por poder desenvolver
a doença (Dicks, 1997, citado por Correia, 2004).
Não obstante estas situações, é possível encontrar
casais que se unem, para enfrentar a doença, criando
mecanismos que melhoram a maneira de lidar com
a doença, contando aos elementos da família a sua
seroposividade, procurando o amor nos lhos, na
família, nos amigos, deixando a doença para segundo
plano (Veronesi et al., 1999, citados por Jackson,
2002). Nesta altura, há famílias que se remetem ao
silêncio para protegerem o doente e a si próprias, o que
provoca, muitas vezes, uma disfunção na comunicação
(BIPAI, 2010). Por outro lado, os níveis emocionais,
afevos e funcionais podem estar afetados, o que
altera a vida de cada elemento da família, e muitas
vezes, de todo o grupo familiar. Como em qualquer
doença crónica, também no VIH e SIDA a família tem
que fazer o luto pela sua imagem de família saudável,
com tudo o que isso pressupõe em termos do futuro
da família (Relvas, s.d.). O sistema familiar é composto
por funções e papéis desempenhados pelos seus
elementos, e quando alguém adoece, de um momento
para o outro, é preciso reorganizar o sistema familiar,
pois ocorrem mudanças relevantes na vida da família,
quer a nível estrutural, quer a nível laboral, nanceiro
e social. Para que a família se reorganize e dena
novos papéis, é preciso ajustar as funções atribuídas
a cada um, de modo a que a família possa fazer face à
doença crónica do seu familiar. Embora isso não seja
uma tarefa fácil, há famílias que conseguem, enquanto
outras simplesmente abandonam o familiar doente à
sua sorte (Veronesi et al., 1999, citados por Jackson,
2002). A importância do suporte familiar no processo
de adaptação a uma nova condição de vida pode
ser evidenciada de diversas formas, em diferentes
momentos, do diagnósco às manifestações clínicas,
desde que o sujeito saiba como dar conta da sua
doença aos outros, e quais as possibilidades que
Estratégias de Coping Familiar e Qualidade de Vida em Angola: Estudo Exploratório com Doentes com VIH e SIDA em Contexto Militar
Palmira Gaspar Correia