TUNDAVALA
Revista Angolana de Ciência
Angola tem apresentado na úlma década um crescimento
assinalável do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano),
de acordo com o Relatório do PNUD (Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento) de 2012 (ver
A Revista Tundavala e o seu contributo para
o Desenvolvimento Cientíco de Angola
Carlos Ribeiro (1) e Margarida Ventura (2)
(1) Instituto Superior Politécnico Tundavala, CP 298 Lubango, Angola; cribeiro@isptundavala.org;
(2) Instituto Superior Politécnico Tundavala, CP 298 Lubango, Angola; mventura@gmail.com.
Fig.1). Esse crescimento permiu que o IDH de Angola
se encontre actualmente a um nível ligeiramente superior
à média dos países da África subsariana, embora ainda
bastante distante da média mundial.
Fig. 1- Comparação de IDH de vários países, nomeadamente da África sub-sahariana
Ao decompor a evolução do IDH na úlma década
(Fig.2), verica-se que o crescimento deste índice es
muito associado ao grande crescimento do PIB per
capita, aparecendo a educação como a componente que
tem evoluído menos favoravelmente, o que poderá
estar a condicionar uma melhoria ainda mais signi-
cava do IDH de Angola.
Fig. 2 – Decomposição da evolução do IDH de Angola na úlma década, nas suas várias componentes mais relevantes
Vale a pena lembrar que ainda há uma década o Banco
Mundial não encorajava invesmentos massivos em
educação nas economias em vias de desenvolvimento,
porque se tratariam de gastos economicamente
inecientes e socialmente regressivos”. Hoje em dia,
a necessidade de prossionais com formação superior e os
efeitos posivos consideráveis das pesquisas levadas
a cabo sob a égide de instuições de ensino superior
são sucientemente evidentes para que este po de
consideração não se coloque (TOFFLER, A. & TOFFLER,
H. 2006).
Nunca na história foi tão importante invesr na educação
superior como força maior na construção de uma sociedade
inclusiva e de conhecimento diversicado, além de avançar
em pesquisa, inovação e criavidade (UNESCO, 2009).
A década passada deixou evidências de que a pesquisa
e o ensino superior contribuem para a erradicação da
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Angolan Scientic Development
pobreza, para o desenvolvimento sustentável e para
o progresso, atingindo as metas internacionais de
desenvolvimento, que incluem as estabelecidas nos
Objecvos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) e
em Educação para Todos (EPT).
Em 1999 mais de 50% do PIB de alguns países estavam
baseados na produção de conhecimentos, o qual
contrasta com a redução cada vez mais marcada da
produção de bens básicos. Conhecimento e informão,
como bens intangíveis, para além do alssimo valor
agregado, dispõem-se a permutar o peso dominante
das matérias-primas na produção de bens e serviços para
a sociedade globalizada. No mesmo sendo, verica-se
que na actualidade a matéria-prima representa só 40%
do que cada unidade de produção industrial representava
em 1930; que a procura mundial por produtos de alta
tecnologia aumenta em cada ano 15%, enquanto a de
matérias-primas só o faz em 3%.
Até há pouco tempo, a maior parte das universidades nos
países em vias de desenvolvimento eram por regra um
instrumento disponível essencialmente para as elites de
cada país e controladas pelo aparelho do Estado; hoje,
graças à emergência de um sector privado, cuja qualidade
de oferta é sem dúvida muito variável, e cuja oferta é
normalmente concentrada em matérias como contabilidade,
gestão de empresas ou informáca, há maior variedade.
Como exemplo, a Universidade Makerere, no Uganda,
que em 1988 estava à beira da falência, hoje quintuplicou
o número de estudantes e tem disponibilidades nanceiras
para invesr em infra-estruturas cerca de 80% dos
estudantes pagam propinas e um terço do orçamento
TUNDAVALA
Revista Angolana de Ciência
Fig. 3 – Número de argos de invesgação publicados, referente a cada um dos países de África
No caso de Angola, a situação de acvidades de Invesgação
é manifestamente deciente (Fig. 3). Em 2010, foram
publicados 33 argos ciencos sobre Angola (Base
de Dados Scopus da Elsevier). Este número de argos
publicados é o terceiro menor dos países da área da
SADC, apenas ligeiramente superior ao de argos
Faz parte da missão das Instuições de Ensino Superior
a realização de invesgação e a parcipação em
instuições e eventos ciencos, promovendo a busca
permanente da excelência, a criavidade como fonte
de propostas e soluções inovadoras e diferenciadoras,
bem como a procura de respostas aos grandes desaos
da sociedade, e ainda a transferência, o intercâmbio
e a valorização dos conhecimentos ciencos e
tecnológicos produzidos, da prestação de serviços
à comunidade, da realização de acções de formação
connua e do apoio ao desenvolvimento, numa base
de valorização.
A Universidade deve ser aberta à comunidade. Pretende-
se que seja não um centro de transmissão de
conhecimentos, mas também um centro de invesgação
aplicada, dando soluções às necessidades da região,
tendo uma perspecva de colaboração internacional,
nomeadamente com os países limítrofes da região.
A iniciava de criação de uma revista cienca, revista
Tundavala, pode ser uma boa base para experiências
futuras ao nível do ensino/invesgação no espaço
lusófono, bem como do espaço regional onde Angola se
encontra inserida.
Esta revista denominada Tundavala, surge naturalmente
associada à Instuição que a promove, Instuto
Superior Politécnico Tundavala. Naturalmente, este
número inicial, número 0, tem argos sobre Angola
Referências Bibliográcas
Irikefe, V.; Vaidyanathan, G.; Nordling, L.; Twahirwa, A.; Nakkazi, E.
& Monastersky, R.(2010). THE VIEW FROM THE FRONT LINE -Africa’s
naons are achieving some success in building their science capac-
ity, but the foundaons remain unsteady. In Nature, 474: 556-559.
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UNESCO (2009). Conferência Mundial sobre Ensino Superior 2009:
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e o Desenvolvimento Social. Paris: UNESCO.
Sites Consultados
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de gestão é garando por invesmentos próprios de
natureza comercial, que incluem uma padaria e serviços
de consultoria prestados por docentes.
Face à ideia dominante de globalização, imposta pela
dinâmica das sociedades comandadas pelos avanços
cienco-tecnológicos de ponta, sem contemplação
para todas as sociedades de incipientes avanços nestes
âmbitos, impõe-se que, sem o atavismo dos funda-
mentalismos nacionalistas, se assuma a possibilidade
de idencar em que condições as nossas nações e
países se insiram compevamente na sociedade
globalizada. Segundo Tunnermann (2006), A Educação
para o Século XXI deve ensinar-nos a viver juntos e a
desejar essa convivência. É o sendo do “aprender a
viver juntos, um dos pilares da Educação para o Século
XXI, da sorte de nos transformarmos em “cidadãos do
mundo”, mas sem perder as nossas raízes”.
A mais recente Conferencia Mundial sobre a Educação
Superior (UNESCO, 2009) assinala que esta enfrenta,
em todos os países do mundo, problemas cruciais
como ... O nanciamento, a igualdade de condições
no acesso à mesma, uma melhor capacitação do pessoal,
a formação baseada nas competências, a melhoria e
conservação da qualidade no ensino, a invesgação e
os serviços, a pertença dos programas, as possibilidades de
serviço dos diplomados, o estabelecimento de acordos
de cooperação ecazes e a igualdade de acesso aos
benecios no que diz respeito à cooperação internacional”.
Atendendo às reexões da comunidade académica
internacional e dos diferentes organismos nacionais
relacionados com o ensino superior, a acvidade de
invesgação deve situar-se no centro da preocupação
instucional, dando-lhe especial atenção e apoio,
sempre que esta se inscreva nos âmbitos da contribuição
para o crescimento da capacidade regional e nacional
da ciência e da tecnologia. A invesgação não é
uma das funções principais do ensino superior mas
também é uma condição prévia para a sua presença
no meio social e qualidade académica.
Em 2006, os membros da União Africana xaram como
objecvo angir o gasto de 1% do respecvo Produto
Interno Bruto (PIB) em acvidades de Invesgação
e Desenvolvimento (I&D). Os dados disponíveis
mostram bastante progresso, mas muitas nações ainda
têm um longo caminho a percorrer (Irikefe et al,
2010). Em Maio de 2010, a União Africana publicou
African Innovaon Outlook 2010, um Relatório sobre as
nações da África Subsariana que melhoraram mais em
termos de acvidades de I&D. Nesse relatório, verica-se
que apenas três países, Malawi, Uganda e a África do
Sul, angiram o gasto de 1% do PIB em I&D, em 2007.
por ser lançada por ocasião da realização do Encontro
de Psicólogos da CPLP no Lubango, pelo que a temáca
será sobretudo a Psicologia. No entanto, pretende-se
que seja aberta à Comunidade Cienca de Angola,
da CPLP, bem como da SADEC, aceitando argos tanto
em Português, como em Inglês, língua estrangeira
maioritária, tanto na comunicação cienca, como
nos espaço geográco onde nos inserimos.
publicados sobre a República Democráca do Congo
e Lesotho. Este número também está muito longe
do dos três maiores países a publicar em África,
nomeadamente África do Sul (8.805 argos), Nigéria
(3.952) e Quénia (1.238).
Fig. 4 – Principais Hubs das Redes de conhecimento em África
Por outro lado, Angola não aparece
ligada a nenhum dos principais
hubs de conhecimento de África
(Fig. 4), por falta de conexões a ess-
es eixos, nomeadamente ao nível da
África Austral (Irikefe et al, 2010),
onde o principal pólo é a África
do Sul.
Citando o escritor moçambicano
Mia Couto (2005), “Na realidade,
só existe um modo de nos valorizar:
é pelo trabalho, pela obra que
formos capazes de fazer. Este é o
caminho que senmos necessário
percorrer em África, e parcular-
mente em Angola.
A Revista Tundavala e o seu contributo para o Desenvolvimento Cientíco de Angola Carlos Ribeiro e Margarida Ventura