TUNDAVALA
Revista Angolana de Ciência
Resumo
O estudo que ora se apresenta tem por nalidade a
abordagem das dimensões que têm a ver com os valores
morais e cívicos em Angola. O conito prolongado em
Angola causou transformações profundas na vivência
e manifestação de prácas outrora consideradas
estruturantes das suas sociedades. A mobilidade das
comunidades - geralmente para as cidades - em busca
de locais mais seguros ou de melhores condições
de vida, levou a que encontrassem mecanismos de
reprodução sociais e de adaptação aos novos contextos
de vida. As transformações em causa levaram a que,
muitas dessas prácas, hábitos, comportamentos,
atudes sofressem recongurações ou mudassem na
sua essência, mormente os valores morais e cívicos em
sociedades vímas do conito prolongado, na província
da Huila sudoeste de Angola. Os valores morais por
constuírem parte integrante das idendades das
sociedades, têm importância parcular, pois são as
principais referências do património cultural herdado.
Assim, o estudo tem como objecto a idencação dos
principais valores que sofreram mudanças por movo
da guerra havida em Angola, bem como a variabilidade
desses valores quando cruzados com as variáveis sócio
demográcas, prossão e habilitações académicas.
Para isso, recorreu-se a uma amostra de 237 sujeitos,
aos quais se administrou o quesonário de valores
morais e cívicos.
De referir que a mudança de valores nas sociedades
não são apenas inerentes aos conitos violentos, daí
que nos propomos também vericar se houve, a par
deste movo, outras causas que mereçam ser referidas.
O conito armado foi dentre outros o principal factor de
mudança dos valores.
Palavras-chave: Valor, valores morais, valores cívicos,
mudança social.
OS VALORES MORAIS E CÍVICOS ANTES E DEPOIS
DO CONFLITO VIOLENTO: O CASO DA HUÍLA
David Domingos Luis, davidluis2003@yahoo.com.br
Instituto Superior Politécnico Tundavala
Lubango-Angola
Introdução
Este trabalho vai debruça-se sobre a problemáca dos
valores morais e cívicos na província da Huila, mormente
a sua alteração comparavamente aos valores vigentes
antes do conito prolongado em Angola.
A violência vivida pelos angolanos em todos estes anos
de guerra, criou comportamentos adversos e alterou
valores de referência das comunidades, que veram
de adaptar-se a novas condições sociais e encetaram
mecanismos de resiliência e recomposição social.
De acordo com Ventura (2003), ao caracterizar uma
das consequências da guerra em Angola enfazava
que por movo das acções de guerra, registaram-se
alterações dos valores morais e toda uma situação de
instabilidade psicossocial. Mais grave que a destruição
das infra-estruturas foi a degradação moral e espiritual
de pessoas que se senram forçadas a disputar os bens
mais elementares, perdendo muitas vezes o sendo da
dignidade e solidariedade.
Os valores são algo que possui unidade e perenidade;
valores são as metas às quais a moral aspira metas que
conferem à moral um objecvo. Nas metas está situada a
exigência normava, a parr da qual a moral experimenta
a sua juscação ou desqualicação – ou simplesmente o
seu objecvo (Leisinger e Schim, 2001). Para os mesmos
autores a moral é constuída por valores e normas.
As normas já pressupõem os valores e exigem que os
mesmos sejam realizados. Com frequência, tecem-se
considerações controversas da éca num dado grupo em
que parceiros não parlham os mesmos valores sobre os
quais se juscam as suas normas morais. Aquilo que é
um valor para um, para o outro pode ser um desvalor ou
até mesmo uma ofensa grave.
Segundo Lourenço (2006:356), os valores morais
“referem-se a tudo o que é suscepvel de orientar a
acção e o pensamento em situações normavas ou
prescrivas. (…) São uma categoria de conteúdo, não
uma categoria estrutural. O valor cívico é o conjunto
de caracteríscas e comportamentos necessários para
que exista uma cidadania minimamente responsável
para que as pessoas parcipem realmente e de forma
mais séria na comunidade em que vivem. Estes valores
baseiam-se no princípio de que, para que haja um
entendimento entre todos os cidadãos, é muito
importante que estes respeitem os direitos e o bem-estar
de todas as pessoas (Antunes, 2008/2009).
Para este trabalho traçamos os seguintes objecvos
especícos:
a) Reconhecer a possível inuência de experiências
vivida em conitos violentos, sobre alguns valores
morais e cívicos em populações urbanas e rurais da
província da Huila;
b) Vericar se os valores morais e cívicos em questão
variam em função do sexo, idade e movos de
deslocação.
Metodologia
Design e Modelo de Análise
Entendemos ajustado elaborar um estudo cujo
design fosse correlacional, buscando as ocorrências
que induziram e provocaram as supostas alterações
dos valores morais e cívicos em consequência da
guerra havida em Angola por cerca de três décadas,
tomando como referência os valores herdados da
colonização. Far-se-á recurso ao programa estasco
SPSS versão 11.5 do Windows para análises
descrivas (frequências, médias e desvio padrão) e
inferências (interações estasca entre as variáveis
ulizando análises de variância). No capítulo da
análise qualitava das entrevistas, visamos idencar
temas, frases e ideias que podem formar unidades de
sendo, relações semâncas e enlaces que originam
signicações parculares relacionados com os valores
morais e cívicos nomeados e que nos ajudem a
construir o quesonário.
Abstract
This study deals with moral and civics values in Angola.
The long conict in Angola, caused deep changes in
the living and praccal manifestaon, considered in
the past as the backbone of the society. The move
that the communies had to make towards the city
looking for safer places or beer living condions had
as a consequence mechanisms of social reproducon
and adaptaon of the new context of live. The changes
made many of these pracces, habits, and behaviors
change in their essence, mainly the moral and civic
values in the society as a result of the long conict,
in Huíla Province, southeast of Angola. Moral values
being part of the identy of the society have a parcular
importance, because they are the main references
of the cultural patrimony inherited. Thus, the study
aims at idenfying the main values that suered
changes due to the conict held in Angola, as well as
the variability of these values when crosschecked with
socio-demographical variables, jobs and academic
level. For that purpose we used a populaon sample of
237, to whom we applied a quesonnaire about moral
and civic values.What is more, it is known that the
change of values in the society are not only the result of
violent conicts, and that prompts us to verify if there
were other causes which are worth menoning. The
war was among others, the main factor in changing
people´s values.
Keywords: Value, moral values, civic values,
social change
e Civic and Moral Values before and after Conit in Huila Province
TUNDAVALA
Revista Angolana de Ciência
Hipóteses
Este estudo teve como ponto de parda as seguintes
hipóteses estascas:
Ho = Não há diferença entre os valores morais e cívicos
das populações rurais e urbanas da província da Huila
expostas à guerra, nem entre o sexo masculino e
feminino e movos de deslocação.
H1= Os valores morais e cívicos das populações da
província da Huila diferem em função da zona (rural
ou urbana) e do sexo (masculino e feminino), sendo
superiores no zona rural e no sexo feimino.
Foram recolhidos dados através do Quesonário de
Valores Morais e Cívicos. A seguir, para ver o efeito
das interacções entre as variáveis (zona, sexo e movo
deslocação) na variável dependente (valores morais),
foi feita uma ANOVA One-way e o teste t de Student.
Determinamos como nível de signicância p < .05 para
refutarmos a hipótese nula a favor da hipótese alternava.
Variáveis
Neste estudo traçamos as seguintes varáveis:
- Zona (rural/urbana)
- Sexo
- Movos de deslocação
- Valores morais
Escolha da População e Amostra
Tivemos como população o universo dos sujeitos
expostos e não expostas ao conito armado dos
municípios da Matala e Lubango, classicados como
rurais e urbanos respecvamente.
A amostra é composta por 237 sujeitos sendo 128 do
sexo masculino e 109 do sexo feminino, pertencentes
aos municípios da Matala e Lubango.
As frequências relavas às áreas rural e urbana
representam 122 e 120, correspondendo a 50,4 % e
49,6 %, respecvamente. Essas frequências em relação
ao sexo foram de 128 para os homens e 109 para as
mulheres, correspondendo a 54 % e 46 % respecvamente.
Os dados referentes à variável prossão, apresentam
uma frequência maior para a variável funcionário
público com 118 equivalente a 50,9 %. A variável com
menor frequência foi a de outros” com 15 equivalente
a 6,5 %. É interessante notar que, mesmo nas zonas
rurais, a maioria da população é funcionário público.
Apenas 8,6 % são camponeses. Isso pode ter a ver com
o facto de ser o estado o principal empregador, dada
a impossibilidade da maioria exercer a agricultura
por razões de guerra. A variável habilitações mostra
que a maioria dos sujeitos possui o ensino médio
correspondendo a 46,8 % e a minoria 1.3 % referentes
ao ensino superior.
A variável local de nascimento mostra que a maioria
nasceu na Huila representando 71,1 % e a minoria
nasceu em Benguela com 4,7 %. Quanto aos movos
de deslocação a guerra foi o segundo movo com 24,1 %
ao passo que a maioria deslocou-se das suas regiões por
outras razões. A média de idade dos sujeitos foi de 32 anos.
Instrumentos e Métodos
Para a recolha de dados foi ulizado o Quesonário
de Valores Morais e Cívicos, aplicado a uma amostra
de 237 sujeitos, composta por homens e mulheres
adultos das áreas rurais e urbana (Matala e Lubango
respecvamente). O quesonário foi constuído de
uma parte com os dados socio demográcos e outra
com 8 questões com quatro respostas optavas, donde
o sujeito apenas escolheria uma. As questões foram
inspiradas nos dilemas de Kholber. A cotação de cada
dimensão/resposta obedeceu ao princípio segundo
o qual a resposta menos adequada teria a cotação
1 e por ordem crescente, a mais adequada com o
valor 4. A soma dos scores do instrumento (totalhist.)
constui o somatório dos valores morais e cívicos. Para
validação do instrumento obvemos um alpha .57,
que se encontra abaixo de .70 (considerado razoável).
A referida escala está dotada de alguma precisão
mostrando alguma homogeneidade interna entre os
itens da escala.
Recolha de Dados Através de Entrevistas
Semi Estruturadas.
Realizaram-se também entrevistas semi–estruturadas
a 5 pessoas, nomeadamente um soba, um professor
primário reformado, uma estudante universitária,
uma pesquisadora em ciências sociais e uma docente
universitária.
Com vista ao reforço da teoria e da sustentação dos
resultados quantavos, escolhemos o método de
Exploração da Linguagem associando-o ao Método
Etnográco. O 1º modelo comporta três procedimentos
a saber; (i) a idencação da caracterísca da linguagem,
(ii) a descoberta de regularidades na linguagem, (iii) a
compreensão das signicações da acção humana pela
linguagem e, (iv) a reexão. Este modelo de análise de
conteúdo baseado na exploração da linguagem dá uma
imagem de um connuo (Forn, 2003:303-308) e apoia-
se no modelo de entrevista etnográca elaborada por
Spradley (1979) e de Exploração da Linguagem de Tesh,
1990; Deslauriers, 1991.
Resultados e Discussão
Análise qualitava das entrevistas
Das 5 (cinco) entrevistas, foram extraídas algumas
conclusões parciais que nos pareceram pernentes por
corresponderem às indicações das teorias descritas
e de algumas respostas ao quesonário dos valores
morais e cívicos. Os entrevistados enfazaram haver
diferenças acentuadas entre o respeito observado
angamente (no tempo colonial) e o respeito actual.
Nos dois casos manifestaram a ausência de respeito
aos mais velhos e pelos seus ultrapassados princípios.
Verica-se o consumo desregrado de bebidas
alcoólicas, com predominância (admirável) em
indivíduos jovens e em alguns casos de menores dos
dois sexos, não havendo o indispensável controlo social
desde os pontos de venda aos locais de consumo.
Ainda, actualmente, não se observa o controlo da
gravidez, permido apenas às raparigas ritualizadas
pelo eko e preparadas. Ainda, a família e a sociedade
não controlam o consumo de programas de cinema e
Tv mediante o critério de idades como era comum no
tempo colonial.
Foi possível determinar as causas (algumas) de
mudanças de valores, comportamentos e prácas,
atribuindo-as à guerra, à força do tempo, à
globalização cultural e tecnológica, ao cruzamento de
culturas devido às migrações provocadas pelo conito
armado ou ainda pela difusão de programas de outras
realidades sócio culturais (não sabemos bem o porquê,
diziam alguns dos entrevistados).
Dados quantavos
Quanto à análise dos dados, no respeitante à variável
Zona (urbana e rural) encontramos diferenças
estasca nas diversas Histórias (pertencentes ao
Quesonário de Valores Morais e Cívicos):
- Na História 1 registaram-se diferenças de médias
significativas em função da zona de residência com
t (237) = 15.940; p < .001.
- Na História 2 vericam-se mais valores morais a
favor da zona rural (t (237) = 8.140; p <.005);
- As Histórias 3, 4 e 5- não têm signicância estasca.
A história 3 é o caso de um recluso que violara uma
menor pretendendo evadir-se, sendo seu primo
carcereiro, a história 4 é o caso da viatura entregue
pela dona a um amigo para levar de volta visitas dela
e acidenta e a história 5 relata o caso de um médico
a quem uma doente pediu para dar-lhe uma injecção
letal para acabar com o sofrimento.
- Na História 6, a zona regista também signicância
estasca com t (237) = 3.514; p < .05, a favor dos
sujeitos da zona rural;
- Na História 7, a Zona parece ter inuência nas médias
obdas com t (237) = 16.765; p < .001, quanto à
decisão de uma lha que nha o pai a morar com ela,
marido e lhos;
- A História 8 regista também diferenças estascas
signicavas em função da Zona t (237) = 17.236; p < .001,
quanto à questão racial;
Os Valores Morais e Cívicos antes e depois do conito violento: o caso da HuÍla
David Domingos Luis
TUNDAVALA
Revista Angolana de Ciência
Recordando a teoria de Kohlbergiana sobre o
nível convencional, refere-se os indivíduos que
interiorizaram as normas e as expectavas sociais, onde
o indivíduo já não confunde o justo com o injusto, nem
age sob a pressão de ser casgado. A manifestação
da sua moralidade recai para as regras parlhadas
socialmente, dando primazia aos interesses do grupo
(Kohlberg e Candee, 1984). Por isso mantém-se a
tendência de maiores valores morais na zona rural do
que na urbana.
A influência do sexo é significativa na História 1,
(t (237) = 10.56; p < .001) embora no geral, homens
e mulheres vessem optado por respostas mais morais.
A História 2 apresenta signicância estasca ao nível
de t (237) = 10.003; p < .002. È interessante notar
que na história 2 as mulheres defenderam assumir
o lho e arcar com as consequências, enquanto os
homens optaram, maioritariamente pela interrupção
da gravidez. Quer dizer que as mulheres apresentam
maior moralidade, provavelmente ligado ao insnto de
protecção materna aos lhos.
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Na História 3, 4 e 5 a variável sexo não apresenta
signicância estasca conforme se vericou também
na variável zona.
Na história 6 o sexo apresenta signicância estasca,
o que quer dizer que neste item o sexo teve inuência
nos valores morais; t (237) = 4.324; p < .039.
A história 7 apresenta inuência a nível das médias em
função da variável sexo com (t (237) = 16.522; p <.001).
Os resultados indicam que os homens optaram por
conversar com a família no sendo de aceitarem
a presença do idoso e as mulheres optaram,
maioritariamente, por separa-se do marido e procurar
outra casa para viver com o idoso/pai.
Apesar do sexo ter inuenciado as respostas em alguma
s das histórias, se considerarmos o valor total (total de
histórias), não parece haver inuência signicava do
sexo com um score de t (237) =.315; p < .575. Mais uma
vez se verica que, apesar das diferenças na resolução
das situações entre os sujeitos de sexo masculino e
feminino, no geral, os valores morais se mantêm iguais
no essencial.
Conclusões
Em geral foi possível vericar a mudança e ou a
reconguração de alguns valores morais e cívicos não
apenas por movo do conito prolongado mas também
por factores polícos e sociais ou ainda pelo carácter
dinâmico das sociedades, pelos factores psicossociológicos,
as migrações que provocam a hibridação de culturas,
hábitos, costumes, prácas, comportamentos e outras
formas de recomposições sociais (Marns, 2008), bem
como pela força da globalização que impõe novas
formas de vida. É rejeitada a teoria segundo a qual as
sociedades normalmente se encontram num estado de
equilíbrio imutável e que a mudança social aparece como
um fenómeno de perturbação acva, capaz de alterar a
conformidade de normas e valores (Parsons e Smelser,
1957). As transformações são inerentes às caracteríscas
das sociedades em si. Portanto, não sendo as sociedades
estáveis, outros factores como a guerra podem alterar
ainda mais essa “estabilidade” e acelerar de forma
desordenada e anómica essa mudança o que não é,
propriamente, a mudança decorrente das dinâmicas
sociais e das congurações entre as pessoas como dizia
Elias (2005).
Os valores morais e cívicos mais afectados são; a
solidariedade, a coesão, o respeito pelos mais velhos,
respeito pelo casamento, respeito pelo professor, o
comunitarismo, a sexualidade responsável dentre
outros. Os principais valores emergentes ou achados
alterados, perdidos e ou recongurados foram,
dentre outros os seguintes: o individualismo e a
individualização, a falta de respeito (aos mais velhos,
ao outro, ao casamento, ao namoro, e ao professor)
o imediasmo, a auto realização, à ostentação, à
concorrência desmedida, o consumo desregrado de
bebidas alcoólicas inclusive por menores de idade, a
violência domésca.
A análise quantava e qualitava mostra que em
grande medida, considerando o po de valores
vigentes, a mudança e alteração dos valores morais e
cívicos se deveram ao conito prolongado em Angola e
que outras recongurações e construções se deveram
à acessibilidade imediata às tecnologias de informação,
ao avanço das comunicações propiciadas pelo
modernismo e pela globalização à escala planetária.
Esta conclusão responde, também, à primeira pergunta
de parda. Por outro lado, cou demonstrado pelos
resultados dos testes inferenciais que a correlação
entre zona ( e o connum rural/urbana) com as histórias
(valores morais e cívicos) apenas cinco itens apresentam
signicância estasca. Os restantes e incluindo o total
de histórias não são signicavos, podendo concluir-se
que a variável zona apenas em parte teve inuência nos
valores morais e cívicos.
As interações entre o sexo e as histórias apenas quatro
itens foram signicavos. Os restantes não foram,
tal como o total de histórias. Isso pode signicar que
apenas em parte a variável sexo teve inuência nos
valores morais e cívicos. O mesmo resultado se aplica
à variável movo de deslocação com as histórias onde
apenas uma história apresenta signicância.
As médias marginais sobre a variável movo de
deslocação mostrou que as mulheres deslocaram-se
mais que os homens. Isso conrma a ideia segundo a
qual, pelo facto de os homens se encontrarem (grande
número) envolvidos na guerra de um e do outro lado do
conito, as mulheres eram as responsáveis pela guarda,
segurança e sobrevivência da família.
Como causas principais da alteração dos valores morais
e cívicos idencamos as seguintes; o conito armado
prolongado, as dinâmicas sociais em constantes
mutações, a falta de constância educava para adopção
de referências da família, a convergência e a interacção
de múlplos valores no meio urbano por movo da
migração, a acessibilidade aos meios de informação e
comunicação (cinema, televisão, rádio e internet).
Os Valores Morais e Cívicos antes e depois do conito violento: o caso da HuÍla
David Domingos Luis