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REME
Revista Científica de Estudos Multidisciplinares do Planalto Central, v. 1, n.1, Janeiro-Junho, p. 99-106, 2024
O papel transformador da educação: uma reflexão sobre o ensino
superior em Angola e no mundo lusófono
The transformative role of education: a reflection on higher education in Angola and the
lusophone world
El papel transformador de la educación: una reflexión sobre la enseñanza superior en
Angola y en el mundo lusófono
Manuel de Almeida Damásio
1
Universidade Lusófona de Lisboa, Portugal
administracao@ulusofona.pt
Marta Santos Vieira
2
Universidade Lusófona de Lisboa, Portugal/Instituto
Superior Politécnico de Humanidades e
Tecnologias Ekuikui II, Huambo, Angola
mvieira@isupekuikui2.co.ao
Resumo
A presente entrevista foi realizada com uma das figuras de destaque do maior grupo de ensino
em língua portuguesa do mundo. O Professor Doutor Manuel de Almeida Damásio, tem
nacionalidade portuguesa e uma vasta experiência: foi docente no ensino secundário e
posteriormente no ensino universitário em Portugal; é membro fundador da maior rede de
ensino de língua portuguesa, distribuída em diversos países, nomeadamente Portugal, Angola,
Brasil, Cabo Verde, Guiné e Moçambique. Nesta entrevista, o Professor Manuel de Almeida
Damásio, teceu algumas considerações sobre a história do Grupo Ensino Lusófona nos
diferentes países em que se encontra representado, em particular a experiência vivida em
Angola. Abordou sobre a dificuldade que jovens angolanos enfrentam no acesso ao ensino
superior, traçou um panorama actual da educação e do ensino superior em Angola, e os
principais desafios do sector, a necessidade de intercâmbio internacional (Angola) com os
países da região e da Europa, culminando com a abordagem da importância de se investir na
produção cientifica e criação de revistas científicas para melhor e maior divulgação do
conhecimento produzido. Por fim, o entrevistado deixou conselhos e reforçou a necessidade de
se definir políticas públicas e estratégias eficazes para o desenvolvimento do país,
considerando a máxima de: se queres desenvolver o teu país, investe na educação e tudo o
mais será dado por acréscimo”.
Palavras-chave: Grupo Ensino Lusófona, Ensino Superior, Angola.
_________________________
1
Entrevistado. Doutor. Presidente do Conselho de Administração do Grupo Ensino Lusófona, Portugal.
2
Entrevistadora. Doutora. Investigadora Colaboradora do Centro de Estudos Interdisciplinares em
Educação e Desenvolvimento (CeiED - Universidade Lusófona de Lisboa) Editora Chefe da Revista de
Estudos Multidisciplinares do Planalto Central - REME do Instituto Superior Politécnico de Humanidades
e Tecnologias Ekuikui II, Huambo, Angola.
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Abstract
This interview was conducted with one of the leading figures in the world's largest Portuguese
language teaching group. The Professor Manuel de Almeida Damásio is a Portuguese national
with a wealth of experience: he was a secondary school teacher and later a university teacher in
Portugal; he is a founding member of the largest Portuguese language teaching network, spread
across several countries, namely Portugal, Angola, Brazil, Cape Verde, Guinea and
Mozambique. In this interview, Professor Manuel de Almeida Damásio spoke about the history
of the Lusófona Teaching Group in the different countries where it is represented, in particular
his experience in Angola. He spoke about the difficulties that young Angolans face in accessing
higher education, gave a current overview of education and higher education in Angola, the main
challenges facing the sector, the need for international exchange (Angola) with countries in the
region and in Europe, culminating with a discussion of the importance of investing in scientific
production and the creation of scientific journals to better and more widely disseminate the
knowledge produced. Finally, the interviewee gave advice and emphasised the need to define
effective public policies and strategies for the country's development, considering the maxim
that: “if you want to develop your country, invest in education and everything else will follow”.
Keywords: Lusófona Education Group, Higher Education, Angola.
Resumen
Esta entrevista se realizó a una de las figuras más destacadas del mayor grupo mundial de
enseñanza de la lengua portuguesa. El Profesor Manuel de Almeida Damásio es portugués y
tiene una gran experiencia: fue profesor de secundaria y más tarde de universidad en Portugal;
es miembro fundador de la mayor red de enseñanza de la lengua portuguesa, extendida por
varios países: Portugal, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guinea y Mozambique. En esta entrevista, el
Profesor Manuel de Almeida Damásio habló de la historia del Grupo de Enseñanza Lusófona en
los distintos países donde está representado, en particular de su experiencia en Angola. Habló
de las dificultades de los jóvenes angoleños para acceder a la enseñanza superior, ofreció una
visión actual de la educación y de la enseñanza superior en Angola, de los principales retos a
los que se enfrenta el sector, de la necesidad del intercambio internacional (Angola) con los
países de la región y de Europa, y culminó hablando de la importancia de invertir en la
producción científica y en la creación de revistas científicas para difundir mejor y más
ampliamente los conocimientos producidos. Por último, el entrevistado dio consejos y destacó
la necesidad de definir políticas públicas y estrategias eficaces para el desarrollo del país,
considerando la máxima de que: si quieres desarrollar tu país, invierte en educación y todo lo
demás vendrá por añadidura”.
Palabras clave: Grupo de Educación Lusófona, Educación Superior, Angola.
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APRESENTAÇÃO
Fonte: Universidade Lusófona (https://www.ulusofona.pt)
Manuel de Almeida Damásio é natural da freguesia de Fajão, concelho de Pampilhosa
da Serra, distrito de Coimbra Portugal. A Família em que nasceu e cresceu até aos dez
anos, era tipicamente rural. Os seus valores eram os tradicionais, com destaque para a
solidariedade, a entreajuda e a partilha de recursos comunitários. A economia das
famílias radicava numa agricultura de minifúndio e em produções conexas de
silvicultura e pastorícia.
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Frequentou e concluiu a educação escolar inicial na Escola Primária de Porto da Balsa,
fez o exame da terceira classe na Escola Primária de Fajão e o da quarta classe na de
Pampilhosa da Serra. A Educação básica e secundária foi adquirida nos Seminários da
Diocese de Coimbra e a superior, o bacharelato em Política Social e a licenciatura em
Sociologia, no ISCTE-IUL - Instituto Universitário de Lisboa. A formação universitária foi
continuada na Universidade Lusófona com o Mestrado em Economia e Sociologia do
Espaço Lusófono e na Universidade Portucalense, onde se doutorou em História.
Ao longo de mais de cinquenta anos lecionou no Ensino Secundário, no Ensino Superior
Politécnico e no Ensino Superior Universitário, além de, em simultâneo, proferir
palestras, organizar conferências e debates sobre gestão de pessoas e das
organizações, especialmente em situações de conflitualidade desrazoável.
Paralelamente às anteriores atividades promoveu e desenvolveu iniciativas
empresariais, cooperativistas e de índole cívico-educacional em quase todos os Países
do Espaço de Língua Portuguesa.
Nota introdutória
O Grupo Ensino Lusófona é o maior grupo de ensino de língua portuguesa, um Projecto
ambiscioso e inovador com uma visão internciaonal única, que integra várias
Instituições de Ensino Superior e não Superior (desde básico até ao secundário) em
Portugal, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné e Moçambique. O Grupo Ensino Lusófona
tem como principal objectivo a promoção da ciência, da cultura e do desenvolviemnto
económico em todos os países onde se fala a Línga Portuguesa. O Grupo Ensino
Lusófona já contribuiu para a formação e educação superior de mais de vários milhares
de estudantes que connosco estão a construir o seu futuro.
ENTREVISTA
O Senhor Professor Manuel Damásio é um homem que dedicou toda a sua vida à
Educação e à defesa do princípio de que a “liberdade de ensinar e aprender” é o
que faz evoluir o mundo. E foi assim que o Projeto de Ensino Lusófona passou
fronteiras e se instalou em outros países do espaço da Língua portuguesa.
Nos anos 90 do século XX, todos os países de língua portuguesa tinham como grande
característica comum populações com muito baixa literacia inclusive elevadas taxas
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de analfabetização. Além desta característica, uma outra subsequente ou
complementar era o elevado índice de pobreza, sendo difícil encontrar razões para
explicar a existência de indicadores que os contrariem. Infelizmente, estes indicadores
civilizacionais tinham uma dinâmica social resultante de políticas públicas que tinham
adesão entre as elites conservadoras e, paradoxalmente, também entre os mais pobres
e iletrados.
As iniciativas, nomeadamente a nossa, para alterar tão difícil situação provinham, regra
geral, de organizações filantrópicas, movidas por interesses especulativos, visando
apoderar-se das riquezas, especialmente as minerais, e sem respeito pelos direitos
humanos.
Assim, o nosso projeto de ensino visou, desde a sua concepção, promover o ensino e
os direitos humanos. Para isso, a preocupação foi desenvolver iniciativas que
promovessem, além do ensino, as artes e as tecnologias, pela criação de Projectos
educativos adequados. E ainda que as bases científicas dos Projectos educativos
beneficiassem da “casa-mãe” houve sempre o cuidado que estivessem de acordo com
o enquadramento jurídico que regula o sector, atentos os contextos específicos em que
estavam a ser implementados.
Após algumas experiências em países do espaço de língua portuguesa, nomeadamente
em Portugal, foi visível a mudança de objetivos nos Projetos Educativos, tendo
triunfado, mesmo na comunicação social, a convicção de que desenvolver a educação
era o caminho certo para vencer o subdesenvolvimento e a pobreza.
No essencial o Grupo Ensino Lusófona pretende afirmar-se como um dos pilares
essenciais para o desenvolvimento dos países de Língua Portuguesa. Queremos
continuar a desenvolver e criar escolas que sejam um farol de desenvolvimento
cultural, científico e tecnológico para as comunidades onde se inserem.
Admitindo que tenham sido muitos os obstáculos à instalação de
Estabelecimentos de Ensino nos territórios desses países, fale-nos um pouco da
experiência angolana.
O que se passou em Angola foi sensivelmente igual ao que ocorreu em qualquer outro
país, ou território, ou espaço de língua portuguesa: de início hostilidade, oriunda de
estratos das classes dirigentes pelos nossos Projetos e, finalmente, o aparecimento de
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uma concorrência desleal, oriunda das próprias caraterísticas sociais das classes
dirigentes, semelhantes em cada país, no que se refere aos indicadores citados.
Podemos dizer, por isso, que Angola difere dos outros territórios de língua portuguesa
na medida em que expressa as ambições dos grupos sociais ligados às forças políticas
culturais, económicas e mesmo étnicas, típicas da nação angolana.
Se tivesse que enumerar as dificuldades que os jovens enfrentam no acesso ao
ensino superior em Angola, quais são para si as principais ?
As dificuldade de acesso ao ensino superior foram institucionais (falta de quadros,
professores, instalações e de outros equipamentos indispensáveis).
Porém, a grande e principal dificuldade, advinha da herança cultural dos países, em
grande medida resultantes dos processos de colonização.
Com efeito, não é possível a um analfabeto aperceber-se com facilidade da
importância de saber ler e escrever. Pelo contrário, o analfabeto sentirá que a
educação é inútil porque ele vive, sendo analfabeto, e até por uma questão de egoísmo,
acha que saber ler e escrever pode ajudar qualquer coisa. São os próprios analfabetos
aqueles que mais resistem.
Todavia, podemos constatar o sucesso da educação em marcha nos países do espaço
de língua portuguesa. E considerar, no que respeita ao futuro que o nosso trabalho é
um sucesso, não por si, mas pelo desmultiplicar de iniciativas entre projectos muito
meritórios. O que hoje acontece foi porque alguém atrás arrojou fazer e esse alguém
foi o Grupo de Ensino Lusófona.
Como define o estado actual da EDUCAÇÃO e do ENSINO SUPERIOR em Angola?
A característica do atual estado da Educação e do Ensino Superior em Angola é de
competição e de grande empenhamento das forças políticas e económicas em
projectos educativos promovidos pelo Estado e livre iniciativa.
Esta multiplicação de estabelecimento de Ensino num ambiente de pobreza e baixo
nível educativo, não pode ser comparável dos países de outras áreas culturais e que
há muito tempo realizavam projeto educativos ambiciosos.
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Em termos de futuro Angola tem condições para acolher as múltiplas iniciativas de
ensino, mas a falta de professores qualificados estrangula a qualidade dos Projectos
educativos.
Passados 50 anos sobre a independência, considera que Angola está a ganhar esta
luta pela educação? E que o ensino superior angolano está articulado com o tecido
empresarial de modo a promover o seu desenvolvimento?
A Independência de Angola foi essencial ao desenvolvimento da quantidade e da
qualidade dos projetos educativos, basta pensar no número de angolanos doutorados
ou com carreiras académica, mas os passos essenciais foram dados. E em termos de
perspectiva educacional a elite política angolana entendeu o valor da educação e
investe na educação o máximo de poupanças, para promover o triunfo pessoal e
empresarial.
Todavia, as necessidades continuam a ser muito grandes. Está longe de se alcançar o
nível educativo que permitirá aos angolanos para responder aos desafios da hora
presente, especialmente a nível regional, do continente africano e do espaço de língua
portuguesa.
Para desenvolver Angola e vencer as dificuldades atuais, a batalha de educação é, sem
dúvida, a mais importante para ganhar o futuro. Ganhar um futuro à medida das
perspectivas estratégicas de Angola.
Naturalmente que uma decisão que podia acelerar este processo seria canalizar os
lucros das riquezas naturais e das empresas para iniciativas no setor da educação, da
investigação e da formação profissional e tecnológica.
Considera desejável e possível o intercâmbio académico com outros países da
região, ou mesmo com a Europa ? Porquê?
Não é desejável como é possível o intercâmbio académico com os países da região,
especialmente com os países mais desenvolvidos do continente africano e dos vários
continentes. A importância da internacionalização é hoje um dos indicadores da
avaliação das Instituições exatamente pelos contributos que traz aos corpos docente e
discente pela vivência e riqueza em geral.
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Que importância pode ter a produção científica no país e, em geral, e qual a
relevância das revistas científicas angolanas, em seu entender?
A produção científica deve ser considerada num horizonte humano mundial, um
horizonte o mais amplo possível. Por outro lado, a produção científica estará cada vez
mais globalizada, e será necessário que organizações ligadas ao desenvolvimento
científico e tecnológico se associem a projetos internacionais, regionais e globais.
Se tivesse que dar um conselho aos Governantes que mensagem lhes gostaria de
deixar
Aos governantes de Angola cabe definir as políticas públicas e a política estratégia que
o país deve implementar e desenvolver. Como achega para o sucesso de qualquer
política, será bom considerar a contida nesta máxima se queres desenvolver o teu
país, investe na educação e tudo o mais será dado por acréscimo”.
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