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O papel da rádio na educação: um programa de alfabetização para
crianças de zonas rurais fora do Sistema de Ensino
The role of radio in education: a literacy program for children in rural areas outside
the Education System
El papel de la radio en la educación: un programa de alfabetización para niños de
zonas rurales fuera del Sistema de Enseñanza
Isaac Saquengue Bonga
1
Instituto Superior Politécnico de Humanidades e Tecnologias Ekuikui II
Isaacbonga@gmail.com
Dulce Franco
2
Universidade Lusófona – Centro Universitário de Lisboa
dulce.franco@ulusofona.pt
Resumo
Este artigo apresenta os resultados de uma investigação realizada no âmbito do
Curso de Doutoramento, que teve como objetivo geral elaborar um programa de
alfabetização por rádio para crianças de zonas rurais fora do Sistema de Ensino na
Província do Huambo, Angola. A pergunta de pesquisa foi: como contribuir para a
alfabetização de crianças de zonas rurais fora do Sistema de Ensino na Província do
Huambo, Angola? Os objetivos específicos foram: (i) caracterizar as zonas
geográficas e a população de crianças analfabetas às quais se pretende levar o
programa de alfabetização por rádio; (ii) elaborar o modelo pedagógico sustentado
no Sistema ECCA para a alfabetização de crianças por rádio. A metodologia utilizada
foi de natureza exploratória, qualitativa e descritiva. Os sujeitos da pesquisa foram
os orientadores e as 234 crianças que constituíram a amostra em uma comuna da
Província do Huambo. Foram elaboradas e aplicadas entrevistas aos peritos e às
crianças pelos orientadores e, em simultâneo, analisados os resultados do processo
de aprendizagem das crianças após a implementação do programa de alfabetização
por rádio criado. Os resultados mostraram que o programa de alfabetização por
rádio foi eficaz para promover a alfabetização de crianças de zonas rurais fora do
Sistema de Ensino na Província do Huambo, contribuindo para o seu
1
Doutorando em Educação na Universidade Lusófona – Centro Universitário de Lisboa, Portugal
2
Doutora em Ciências da Educação pela Universidade de Évora, Portugal
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desenvolvimento pessoal e social. A investigação partiu da constatação de que a
alfabetização de crianças é um grande desafio para toda a sociedade angolana e de
que uma parte muito significativa das crianças das zonas rurais da Província do
Huambo não têm acesso à educação garantida.
Palavras-chave: rádio; alfabetização; criança.
Abstract
This paper presents the results of a research carried out within the Doctoral Course,
which had as its general objective to elaborate a literacy program by radio for
children in rural areas outside the Education System in the Province of
Huambo/Angola. The research question was: how to contribute to the literacy of
children in rural areas outside the Education System in the Province of
Huambo/Angola? The specific objectives were: (i) to characterize the geographical
areas and the population of illiterate children to whom the literacy program by radio
is intended; (ii) to elaborate the pedagogical model supported by the ECCA System
for the literacy of children by radio. The methodology used was of an exploratory,
qualitative and descriptive nature. The subjects of the research were the tutors and
theesafion of a sample of 38 communes of the Province of Huambo. Interviews
were elaborated and applied to the experts and the children by the tutors and,
simultaneously, the results of the learning process of the children after the
implementation of the literacy program by radio created were analyzed. The results
showed that the literacy program by radio was effective in promoting the literacy of
children in rural areas outside the Education System in the Province of
Huambo/Angola, contributing to their personal and social development. The
research started from the observation that the literacy of children is a great challenge
for the whole Angolan society and that a very significant part of the children in the
rural areas of the Province of Huambo do not have access to guaranteed education.
Keywords: radio; literacy; children.
Resumen
Este artículo presenta los resultados de uma investigación realizada uma el marco
del Curso de Doctorado, que tuvo como objetivo general elaborar uma programa de
alfabetización por radio para niños de zonas rurales fuera del Sistema de Enseñanza
uma la Provincia de Huambo/Angola. La pregunta de investigación fue: ¿cómo
contribuir a la alfabetización de niños de zonas rurales fuera del Sistema de
Enseñanza uma la Provincia de Huambo/Angola? Los objetivos específicos fueron: (i)
caracterizar las zonas geográficas y la población de niños analfabetos a los que se
pretende llevar el programa de alfabetización por radio; (ii) elaborar el modelo
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pedagógico sustentado uma el Sistema ECCA para la alfabetización de niños por
radio. La esafioam utilizada fue de naturaleza esafioame, cualitativa y
descriptiva. Los sujetos de la investigación fueron los tutores y los niños de uma
muestra de 38 comunas de la Provincia de Huambo. Se elaboraron y aplicaron
entrevistas a los expertos y a los niños por los tutores y, esafioamente, se
analizaron los resultados del esafio de aprendizaje de los niños tras la
implementación del programa de alfabetización por radio creado. Los resultados
mostraron que el programa de alfabetización por radio fue eficaz para promover la
alfabetización de niños de zonas rurales fuera del Sistema de Enseñanza uma la
Provincia de Huambo/Angola, contribuyendo a su desarrollo personal y social. La
investigación partió de la constatación de que la alfabetización de niños es uma gran
esafio para toda la sociedad angoleña y de que uma parte muy significativa de los
niños de las zonas rurales de la Provincia de Huambo no tienen acceso a la
educación garantizada.
Palabras clave: radio; alfabetización; niños.
1. INTRODUÇÃO
Este estudo partiu fundamentalmente da constatação de que a alfabetização de
crianças é um grande desafio, não só para o Estado angolano, mas também para
toda a sociedade. Acrescenta-se o facto de que, ainda, uma parte muito significativa
das crianças, e fundamentalmente as das zonas rurais, não têm os seus direitos de
acesso à educação garantidos.
A importância de alfabetizar crianças, jovens e adultos tem as suas origens
históricas vinculadas a argumentos religiosos e de formação dos Estados, comércio,
industrialização, urbanização, intercâmbios culturais, bem como de expansão
económica (Soares, 2007). No início, a leitura e a escrita foram privilégio de uma
pequena elite, mas esta situação mudou a partir do século XIV, com a invenção da
imprensa, que permitiu a aquisição de material escrito por um maior número de
indivíduos. A importância e necessidade de aprender a ler e escrever foi crescendo a
partir das influências de ordens religiosas, especialmente protestantes, que
expandiram estas atividades nos países sob a sua influência.
Organismos internacionais argumentam que, na África Subsariana, quase 87% das
crianças aprendem pouco, não conseguindo ler nem compreender um texto simples
aos 10 anos de idade. Tal resulta do efeito combinado de uma grande proporção de
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crianças que não frequentam a escola e de maus resultados de aprendizagem
daquelas que a frequentam. Em média, a proporção de crianças que atingem o nível
mínimo de competência no final do ensino primário é de apenas 35% para a leitura e
22% para a matemática (UNICEF, 2019; UNESCO, 2017).
Em Angola 22% das crianças em idade escolar encontram-se fora do Sistema de
Ensino (UNESCO, 2017). Embora a UNICEF tenha apoiado o Governo de Angola na
definição e implementação de políticas e estratégias para assegurar que todas as
crianças tenham acesso a uma educação de qualidade ao longo da vida, ainda
existem muitas meninas que nunca frequentaram uma escola ou que, por alguma
razão, a abandonaram em determinado momento das suas vidas. Esta situação é
preocupante, principalmente nas zonas rurais e na transição para o Ensino
Secundário, onde se regista um número mais elevado de abandono escolar.
Por outro lado, apenas 11% das crianças têm acesso à Educação da Primeira
Infância. O Governo está ciente desta questão e, a seu pedido, o UNICEF está a
apoiar o Ministério de Acção Social, Família e Promoção da Mulher (MASFAMU) na
elaboração de uma Política Nacional da Primeira Infância. Esta política visa melhorar
o acesso ao Ensino Pré-escolar e a qualidade dos serviços providenciados pelos
centros de atendimento para a Primeira Infância, formando educadoras e gestores
de centros infantis, pilotando modelos comunitários de educação da Primeira
Infância, bem como desenvolvendo materiais didáticos e currículos (UNICEF, 2019).
A leitura e a escrita são provavelmente as marcas mais distintivas da cultura
humana. As crianças que aprendem a ler e a escrever, que são alfabetizadas, entram
pelas mãos dos professores nessa cultura. Ler e escrever são ações poderosas, que
possibilitam a aquisição de conhecimentos e de muitas das aprendizagens
essenciais à participação plena nas sociedades modernas (Alves, 2019).
Com essa perspetiva, em Angola, desde o Acordo de Paz, em 2002, os esforços do
Governo e da Sociedade Civil foram desencadeados no sentido de consolidar e
edificar uma sociedade livre, democrática e de direito, recuperar e estabilizar
socioeconomicamente o país, promover a reconciliação nacional e manter a paz.
Para tanto, o sector da Educação, e particularmente a alfabetização, foram
entendidos enquanto vectores chave e estratégicos para o cumprimento desses
objectivos. Isso levou ao início da Campanha Nacional de Alfabetização,
proclamada pelo primeiro Presidente da República, Dr. António Agostinho Neto. Foi
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então criada uma Comissão Nacional de Alfabetização (CNA) com composição e
representações análogas em todas as províncias.
Ao longo deste processo, com diversos parceiros a actuar, diversas metodologias a
serem usadas em diversas zonas geográficas, num país de enorme dimensão como
Angola e com elevadas carências do serviço de alfabetização, as principais
condicionantes do Programa de Alfabetização, ainda hoje, continuam a ser:
i. A insuficiência de recursos financeiros, essencialmente, para a elaboração e
impressão de manuais de alfabetização, de pós-alfabetização e outros
materiais de apoio;
ii. Os atrasos no pagamento de incentivos aos alfabetizadores, o que provoca
desmotivação nos próprios; e,
iii. A falta de infraestruturas adequada às exigências da erradicação do
analfabetismo e da funcionalidade da Educação de Adultos (EdA) nas
Direções Provinciais da Educação (DPE) (Barbosa, 2015, p. 7).
Acrescenta-se que o analfabetismo só existe actualmente porque não se
concretizou, até ao momento, um esforço conjunto da sociedade para o erradicar.
Por ser uma temática muito ampla para ser pesquisada, requer conhecimentos
específicos e tempo disponível para a pesquisa. Apesar de todas estas dificuldades,
não se prevêem investimentos para corrigir as desigualdades. A meta acordada em
Dakar para a Educação, 20% do Orçamento Geral do Estado (OGE), esteve muito
longe de ser alcançada nas propostas de OGE para os anos 2019 (6,05%), 2020
(5,30%) e 2021 (6,91%). Embora, no Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2018-
2022, se tenha definido que, em 2019, o sector da Educação deveria receber 15% do
OGE (Ministério das Finanças, 2021).
Não obstante os progressos registados e tendo em mente o crescimento
populacional estimado pelo Fundo das Nações Unidas para a População de Angola
(FNUAP, 2024), verificou-se que, em 2018, 29% das crianças dos 5 aos 11 anos não
frequentavam o Ensino Primário, o que corresponde a mais de 2.000.000 de crianças
excluídas (actualmente são mais de 6 milhões), e que 60% das crianças dos 12 aos
18 anos não frequentam o Ensino Secundário, ou seja, mais de 1.500.000 crianças.
Além disso, existe uma grande disparidade no acesso ao ensino entre as zonas
urbanas e as rurais. Para além disso, há ainda o problema subrepresentação de
raparigas em relação aos rapazes no Ensino Secundário (UNICEF, 2019).
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Como contribuir para a alfabetização de crianças de zonas rurais fora do Sistema de
Ensino na Província do Huambo?
1.1. Definição do problema
Em Angola, os problemas relacionados com a educação continuam no centro do
debate mais no campo político do que no académico, tendo em vista que a
educação é reconhecida como um direito e uma obrigação. Mas, apesar da aparente
igualdade de oportunidades criada (teoricamente) pela universalização do acesso às
escolas, ainda persistem fortes desigualdades, decorrentes da origem sociocultural
das crianças. Actualmente, a problemática do analfabetismo não tem um grande
impacto na consciência nacional, não estando no centro como factor determinante
para o desenvolvimento social, priorizando-se o sector económico, o que revela que
muitos sectores não estão envolvidos com o tema educacional.
Existe, portanto, a necessidade de ver a alfabetização com uma perspectiva
construtiva e trabalhar seriamente com propostas novas neste campo, priorizando-
se a alfabetização das crianças em zonas rurais, que são as mais assoladas pela
pobreza, sendo este um factor que as exclui de oportunidades de participação na
sociedade, tanto no económico como no social.
Existem evidências que apontam para a urgência e necessidade de mais
oportunidades educativas na Primeira Infância e na adolescência. Porque há indícios
de que os índices de permanência e progressão no Ensino Primário e os seus
resultados qualitativos contribuem para a existência de um contingente de crianças
e adolescentes analfabetas, pois não concluem o ciclo considerado como de ensino
obrigatório.
Isso mostra a preocupação para que elas sejam alfabetizadas e dominem e utilizem
a leitura e a escrita na vida diária, dado que o ambiente de desenvolvimento teórico,
técnico, metodológico e prático em que se vive, tanto nas zonas urbanas quanto nas
rurais, torna necessário que todas as pessoas estejam alfabetizadas.
No particular, este estudo inscreve-se dentro dos enfoques actuais que advogam
pela necessidade do início precoce da alfabetização, especialmente no caso de
crianças que provêm de sectores populacionais com marcadas desvantagens
sociais, como é o caso das crianças que vivem em zonas rurais, tendo em conta as
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dificuldades que essas zonas apresentam para que as crianças aprendam a leitura e
a escrita num Ensino Regular. Por isso, impõe-se o desafio de proporcionar acesso,
equidade e qualidade do ensino a essas crianças, para as dotar das capacidades
necessárias para prosperar num país cada vez mais exigente em conhecimentos.
O problema científico formulado é consequência do desconhecimento dos
elementos e relações que existem no mesmo; sendo a sua colocação a expressão
dos limites do conhecimento científico actual no contexto em que se desenvolve o
processo de investigação. À luz destas considerações, formula-se a seguinte
problemática:
1.2. Problemática
Diante da relevância social, económica e cultural que a alfabetização e a literacia
assumem, todos os meios que possam ser utilizados no combate ao analfabetismo
devem ser aproveitados. Por isso, na concepção de uma Educação Alternativa e
adaptada ao contexto, para o combate ao analfabetismo, a rádio assume um papel
social fundamental e transformador, podendo cumprir a missão de promover a
educação e a cultura, fundamentalmente, nas zonas rurais. Deste modo, a rádio
pode ser utilizada como um ponto de encontro de pessoas e grupos para um
processo emergente de alfabetização.
Uma problemática que se apresenta na educação das crianças no meio rural deve-
se à ausência de mecanismos de mediação para potenciar as vantagens para a
educação das crianças e jovens, segundo os Objetivos de Desenvolvimento do
Milénio (ODM), as políticas educativas e os interesses da comunidade. Verifica-se
ainda que a influência da educação escolar é minimizada pela predominância da
tradição, no âmbito da qual se promove a desvalorização social do género feminino.
Por outro lado, a educação escolar não se tem articulado com outras práticas
educativas de natureza não escolar para que possa ocupar um lugar central na vida
da comunidade, numa relação dialética com a tradição (Silva, 2011).
Segundo Baptista e Sousa (2011), “tanto os objetivos gerais como os específicos
permitem o acesso gradual e progressivo aos resultados finais” (Baptista e Sousa,
2011, p. 26). De acordo com esta ótica, os objetivos desta investigação são os
seguintes:
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Objetivo geral
Elaborar um programa de alfabetização por rádio para crianças de zonas
rurais fora do Sistema de Ensino na Província do Huambo/Angola.
Objetivos específicos:
1. Caracterizar os processos de alfabetização desenvolvidos em Angola desde a
sua independência e as causas do alto índice de analfabetismo que ainda se
manifesta na população angolana.
2. Estabelecer os sustentos teóricos relacionados com os processos de
alfabetização e literacia de crianças, jovens e adultos.
3. Estabelecer os sustentos teóricos que subjazem no processo de
alfabetização por rádio.
4. Caracterizar as zonas geográficas e a população de crianças analfabetas às
quais se pretende levar o programa de alfabetização por rádio.
5. Elaborar o modelo pedagógico sustentado no Sistema ECCA para a
alfabetização de crianças por rádio.
6. Fundamentar o grau de viabilidade da proposta do programa para a
alfabetização de crianças por rádio.
2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO/ REVISÃO DA LITERATURA
Segundo Mortatti e Frade (2014), existem diferentes referenciais teóricos sobre os
quais é possível fundamentar o processo de alfabetização, nomeadamente:
linguísticos, fonológicos, psicogenéticos, cognitivos, socioculturais, ou o referencial
construído pelas neurociências. Com base em esta heterogeneidade de teorias e
paradigmas se estabelecem os saberes, construídos por pesquisas, expressos em
teorias, princípios e conceitos, heterogéneos, que atribuem sentidos à
alfabetização.
Para Soares (2014), é preciso reconhecer que os saberes sobre a alfabetização se
constroem não só por teorias, mas também se constroem em decorrência dos
fazeres quotidianos dos que alfabetizam,
Há saberes teóricos e há os saberes da prática; dessa maneira, há fazeres
propostos por teorias, e há os fazeres propostos pelas práticas, aqueles
fazeres que efectivamente se revelam possíveis e condizentes com as
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circunstâncias reais em que se desenvolve o processo de alfabetização,
sob condições as mais variadas, por participantes específicos e para
participantes específicos. Dessa forma se manifesta o método de
alfabetização, entendido como fazer a alfabetização (Soares, 2014, p. 32).
A autora reflecte sobre o facto de que no processo de alfabetização cada saber
preceitua o seu fazer: um fazer fonológico, um fazer construtivista, um fazer
sociocultural, etc. Assim, diferentes saberes buscam materializar-se em diferentes
fazeres, os quais, reflectindo as divergências teóricas, são fazeres geralmente
considerados antagónicos e incompatíveis. Desse modo, para além do saber e fazer
na alfabetização, existe, de acordo com a autora, o que se quer com a alfabetização,
o que pode ficar resumido em,
Queremos superar nosso reiterado fracasso na alfabetização de nossas
crianças; queremos formar alfabetizadores competentes; queremos
assegurar a todos o direito à leitura e à escrita, direito essencial para o
pleno exercício da cidadania, para a conquista de equidade social e
cultural (Soares, 2014, p. 35).
Para que essa meta seja conseguida, há que enfrentar e superar grandes desafios,
procurando o entendimento entre os que constituem o campo da alfabetização:
Primeiro Entendimento, tolerância e respeito, entre pesquisadores e estudiosos
da alfabetização os quais constroem diferentes saberes teóricos e
propõem diferentes fazeres, em decorrência desses diferentes saberes
teóricos;
Segundo Entendimento, entre os que defendem diferentes teorias, de que a sua
teoria não esgota o processo de alfabetização;
Terceiro Entendimento sobre as possibilidades de articulação entre teorias, se
cada teoria (psicogenética, cognitiva fonológica, sociocultural) mantém
a sua coerência interna e reconhece a coerência do fazer alfabetização
articulando as diferentes facetas do processo, nas diferentes teorias
que as estudam;
Quarto Entendimento entre os saberes de pesquisadores e estudiosos e os
fazeres dos que alfabetizam, o que significa articulação entre os saberes
académicos e os saberes da prática (Soares, 2014, p. 36).
Para que esses entendimentos se realizem é necessário que os que constroem
saberes teóricos e propõem fazeres deles decorrentes, assim como os que praticam
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fazeres e a partir deles constroem saberes da prática, não se encastelem cada um
na sua verdade, na sua certeza (Soares, 2014).
No referencial teórico deste estudo os sujeitos são considerados como aqueles que
são capazes de elaborar conhecimentos para dar respostas à sua realidade e, antes
de tudo, um sujeito de aprendizagem. Nesta ideia ressalta-se o construtivismo,
como teoria psicológica aplicada à compreensão do percurso vivenciado pela
criança na tentativa de compreender, fundamentalmente, como funciona a escrita.
Isto foi utilizado por Ferreiro & Teberosky (1986) para explicar como funcionam os
processos de aprendizagem da criança ao tentar reconstruir a representação do
sistema alfabético. Segundo Becker (2009):
O construtivismo alterou profundamente a concepção do processo de
construção da representação da língua escrita pela criança, que deixa de ser
considerada como dependente de estímulos externos para aprender o sistema
de escrita, concepção presente nos métodos de alfabetização até então em uso,
hoje designados tradicionais e passa a sujeito activo capaz de progressivamente
(re)construir esse sistema de representação, interagindo com a língua escrita
em seus usos e práticas sociais, isto é, interagindo com material para ler, não
com material artificialmente produzido para aprender a ler (Becker, 2009, p. 43).
Para Becker, Piaget derrubou a ideia de um universo de conhecimento dado, criando
a ideia de conhecimento-construção, expressando, nessa área específica, o
movimento do pensamento humano em cada indivíduo particular, e apontou como
isto se daria na Humanidade como um todo. Dessa forma, o construtivismo significa
que a criança é um sujeito activo no seu processo de aprendizagem, e tem
predisposição biológica para construir o seu conhecimento. Por outras palavas, o
conhecimento é um processo dinâmico e em construção permanente. Neste
sentido, Piaget (2007) argumenta que,
O conhecimento se constitui pela interacção do indivíduo com o meio físico e
social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se
constitui por força de sua acção e não por qualquer dotação prévia, na bagagem
hereditária ou no meio, de tal modo que podemos afirmar que antes da acção
não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento (Piaget, 2007,
p. 42).
O aluno é um sujeito cultural activo cuja acção tem dupla dimensão: assimiladora e
acomodada. Pela dimensão assimiladora ele produz transformações no mundo
objectivo, enquanto pela dimensão acomodada produz transformações em si
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mesmo, no mundo subjectivo. Assimilação e acomodação constituem as duas
faces, complementares entre si, de todas as suas acções (Piaget, 2007)
No contexto educacional, o ensino e a aprendizagem podem potencializar-se
incorporando a mediação. Isso permite uma abordagem ampla dos saberes, já que a
incorporação de tecnologias facilita o acesso à informação. Segundo Vygotsky
(2001), há uma diferença no desenvolvimento social dos seres humanos primitivos e
dos seres humanos modernos. Na modernidade, há mediação entre a evolução nos
aspectos tecnológicos e nos aspectos psicológicos. Em uma sociedade altamente
desenvolvida que adquiriu uma estrutura de classes complexas, a influência da base
sobre a superestrutura psicológica do homem não se dá de forma directa, mas
mediada por um grande número de factores materiais e espirituais muito complexos.
Luria (1988) refere que para Vygotsky, as crianças se socializam, pois, elas são
sociais por natureza, produzem-se no meio social, são seres interactivos. Neste
contexto, o desenvolvimento é um processo que considera os aspectos biológicos e
estes se transformam em culturais. Assim, a criança constitui-se como um sujeito
interactivo e, neste processo, utiliza a fala como um instrumento para organizar o
pensamento, conforme Luria (1988) defende,
A interacção é, então, o modo como os seres humanos vão se desenvolvendo
mediante aspectos culturais. O aspecto cultural desta teoria envolve os meios
socialmente estruturados pelos quais a sociedade organiza os tipos de tarefas
que a criança em crescimento enfrenta, e os tipos de instrumentos, tanto
mentais como físicos, de que a criança pequena dispõe para dominar aquelas
tarefas (Luria, 1988, p. 84).
Esta tese situa-se nos modelos de investigação proporcionados pela Psicologia
Cognitiva que sustenta a hipótese de que a cognição é a capacidade de prestar
atenção, dar sentido ao que escuta, perceber, memorizar e converter em linguagem
que se transforma em conhecimento. No contexto deste estudo, um programa de
alfabetização de crianças de zonas rurais, com a mediação do rádio, permite
desenvolver as habilidades de consciência fonológica, o reconhecimento e escrita
de palavras e textos, assim como também as habilidades de compreensão e
produção oral de textos no curto e médio prazo. Convém notar que, no âmbito da
Psicologia Cognitiva, a linguística trouxe importantes contribuições, em particular, a
Psicolinguística, pelo interesse no processo de ouvir e falar, assim como pela
organização da linguagem e suas regularidades universais (Best, 1992).
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Pela literatura e fundamentos teóricos é possível perceber que a questão da
alfabetização é complexa porque as várias formas para lidar com o problema não
seguem uma única teoria. Por outro lado, a aprendizagem da leitura e escrita é
também complexa já que não é suficiente aprender o princípio alfabético para saber
ler e escrever. É necessário que o professor tenha uma concepção construtivista do
conhecimento procurando conhecer o aluno como uma síntese individual da
interacção desse sujeito com o seu meio.
3. METODOLOGIA
A metodologia a seguir no processo de investigação tem como pressuposto de que a
pesquisa científica prima pela utilização de métodos e técnicas entendidos como
procedimentos metodológicos. Além disso investigar é um esforço de elaborar
conhecimento sobre aspectos da realidade na busca de soluções para os problemas
expostos. Genericamente, “a metodologia é entendida como um conjunto de
orientações que norteiam a investigação, com a agregação de uma pluralidade de
procedimentos científicos específicos a partir dos quais se espera atingir uma certa
unidade” (Almeida, 2003, p. 43). Neste sentido, a investigação será desenvolvida
através de um desenho metodológico não experimental que ajudará a decidir sobre
os procedimentos, estratégicos para alcançar os objetivos.
3.1. Elementos do Desenho Metodológico
Para desenvolver todo o processo de investigação, foi considerada uma combinação
de abordagens, métodos e técnicas necessários para alcançar os objetivos
formulados no trabalho.
Primeiro, realizou-se a investigação através de um desenho metodológico não
experimental que possibilitou decidir sobre os procedimentos e estratégias usadas
para alcançar os objetivos que, de acordo com o Creswell (2008), é levar à prática os
passos gerais do método científico, ao planear as atividades sucessivas e
organizadas e desenvolver as técnicas para recolher e analisar os dados. Por outro
lado, após uma análise de diferentes formas de classificação dos tipos de pesquisa,
concordou-se em que esta foi classificada como se descreve a seguir:
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I. Exploratória
A pesquisa exploratória é aquela que se caracteriza pelo desenvolvimento de ideias,
com objetivo de oferecer uma visão panorâmica, uma primeira aproximação a um
determinado fenómeno que é pouco explorado. Segundo Gonçalves (2007) “a
pesquisa exploratória, também é denominada pesquisa de base, pois oferece dados
elementares que dão suporte para a realização de estudos mais aprofundados sobre
o tema” (Gonçalves, 2007, p. 69)
Diante destas características, considera-se delimitar a pesquisa exploratória como
parte deste trabalho. Argumenta-se, para tanto, a possibilidade deste tipo de
pesquisa permitir uma maior proximidade com o objeto de estudo. Outro motivo da
seleção deste tipo de pesquisa é o facto de que, no contexto da Província do
Huambo, não são conhecidos estudos que investiguem a alfabetização de crianças
das zonas rurais com o uso do rádio. As características deste tipo de pesquisa
possibilitarão também escolher as técnicas mais adequadas para realizar o estudo,
apontadas como procedimentos para desenvolver o levantamento bibliográfico, o
trabalho de campo, análise documental e as possíveis entrevistas.
II. Descritiva
A pesquisa descritiva exige do investigador várias informações sobre o que procura
pesquisar. Segundo Triviños (2013), este tipo de estudo pretende descrever os factos
e fenómenos de determinada realidade. Da mesma maneira, descreve
características dos grupos, suas opiniões e crenças a respeito de um determinado
assunto. Narra as características de determinada população ou de determinado
fenómeno. Esta classificação se corresponde com o facto de que serão utilizadas
variáveis sociodemográficas para caracterizar determinados grupos de sujeitos,
além disso pretende-se descrever o programa de rádio e as características das
rádio-aulas entre outros possíveis aspetos.
III. Qualitativa
Quanto à abordagem do problema, o estudo é qualitativo. Segundo Bogdan e Biklen
(2008), “na investigação educacional, a abordagem qualitativa contempla o modo
como as expectativas se traduzem nas atividades, procedimentos e interações
quotidianas” (Bogdan e Biklen, 2008, p. 56). Os dados construídos são nomeados de
qualitativos, o que significa ricos em pormenores descritivos relativamente às
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pessoas, aos locais e também às conversas e de complexo “tratamento estatístico”
(Bogdan e Biklen, 2008, p. 16).
V. Investigação-ação
Vale ressaltar que o trabalho será desenvolvido através de uma componente da
investigação-ação. Isso no sentido de se estudar uma situação social com o objetivo
de melhorar a qualidade da ação, e a partir das ações serão realizadas modificações
em algumas das situações encontradas (Almeida & Freire, 2008). Deste modo, após
a identificação das regiões e dos níveis de alfabetização das crianças, será
elaborado um plano dinâmico de intervenção adequado às necessidades
identificadas. A metodologia de investigação-Ação será assumida por:
Primeiro Sua aplicação tem sempre aspetos de índole prática a atingir.
Segundo Caracteriza-se por uma atitude contínua de fases de
planificação, acção, observação e reflexão, e onde se pondera
sempre o feedback entre elas.
Terceiro Necessita do envolvimento não só do investigador, mas
também de outros atores. Sendo por isso considerada como
uma investigação-intervenção participativa, participante ou
cooperante (Sousa et al., 2008, p. 17).
3.2. Descrição das fases para o desenvolvimento do estudo (procedimentos)
De acordo com a proposta de Moreira (2007), o processo de pesquisa assenta em
um grupo de fases sucessivas de trabalho. Em virtude desse critério, o estudo foi
desenvolvido em várias fases complementares, visando o entendimento do objeto
de investigado.
Fase I. Seleção dos objetivos
De acordo à problemática da investigação elaborou-se uma matriz, onde figuram os
objetivos formulados, que se encontram na Introdução. A escolha do tema e sua
delimitação foi o primeiro passo rumo à construção de um objeto de pesquisa. Este
passo permitiu a aproximação do atual problema de investigação, definição do
objetivo e a formulação das hipóteses, como as possíveis respostas a serem
encontradas para os questionamentos do estudo.
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Fase II. Concretização da informação
Realizou-se preliminarmente uma revisão bibliográfica para ter a informação prévia
que suporta o início da investigação, considerando-se que o desenvolvimento da
perspectiva teórica é um processo que permite aprofundar sobre o conhecimento
existente e disponível, vinculado com a colocação do problema e o objeto de estudo.
Considera-se também importante realizar, junto à revisão bibliográfica, a análise
documental. Segundo Sá-Silva, Almeida e Guindani (2009), a pesquisa documental é
compreendida como um procedimento que faz uso de métodos e técnicas para
compreensão da análise de documentos de vários tipos.
Quando um pesquisador utiliza documentos objetivando extrair dele
informações, ele o faz investigando, examinando, usando técnicas apropriadas
para seu manuseio e análise; segue etapas e procedimentos; organiza
informações a serem categorizadas e posteriormente analisadas; por fim,
elabora sínteses, ou seja, na realidade, as ações dos investigadores, cujos
objetos são documentos, estão impregnadas de aspetos metodológicos,
técnicos e analíticos (Sá-Silva, Almeida e Guindani, 2009, p. 4).
Fase III. Seleção da população e amostra
Foi seleccionada uma comuna da Província do Huambo, como amostra, onde foi
desenvolvida a experiência de alfabetização por rádio. O critério de inclusão das
comunas rurais foi a existências de crianças não alfabetizadas e fora do Sistema de
ensino. Ainda, e com o fim de recolher a informação necessária à pertinência do
programa de alfabetização, foram contactadas algumas personalidades envolvidas
nos programas de alfabetização que nos deram os seus testemunhos. Esta fase
incluiu as entrevistas semi-estruturadas com os participantes envolvidos na
problemática. Ao mesmo tempo fizemos a análise dos resultados do processo de
aprendizagem das crianças após a implementação do programa de alfabetização
por rádio criado.
Fase IV. Elaboração do programa de rádio
A elaboração do programa de rádio é uma série, um conjunto de emissões, que têm
uma temática comum, agrupadas sob o mesmo título permanente, o nome do
programa, que adotam um mesmo formato, duração e periodicidade. Assim, o
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programa de alfabetização por rádio foi constituído por 26 lições, que abordaram
temas como o alfabeto, os números, as cores, as formas, os animais, as plantas, a
família, a saúde, a cidadania, os direitos humanos, a paz, a cultura, a história, a
geografia e a matemática. Cada lição tinha uma duração de 30 minutos e era
transmitida duas vezes por semana, em horários pré-estabelecidos. As crianças
recebiam um caderno de atividades para acompanhar as lições e um rádio portátil
para ouvir as emissões. Os orientadores visitavam as crianças periodicamente para
orientá-las, esclarecer dúvidas, corrigir os exercícios e avaliar o seu progresso. O
objetivo geral do programa é estabelecer um sistema de alfabetização para crianças
das zonas rurais fora do sistema de ensino, apoiado na aprendizagem à distância e
utilizando a comunicação via rádio como meio para a aprendizagem.
Utilizou-se a metodologia conhecida como Sistema ECCA
3
que sistematiza uma
estratégia de uso combinado de meios, metodologia que se apoia em três
elementos: os esquemas ou material impresso (fase visual), as aulas radiofónicas
(fase auditiva) e a entrevista pessoal (fase presencial), conforme Figura 1.
Figura 1 - Elementos do Sistema ECCA
Fonte: Adaptado de Santos (2014)
A avaliação do programa de alfabetização por rádio foi realizada através de três
instrumentos: (i) um questionário aplicado aos peritos, para obter a sua opinião
sobre a relevância, a adequação e a qualidade do programa; (ii) um teste de leitura e
escrita aplicado às crianças, para medir o seu nível de alfabetização antes e depois
do programa; (iii) uma entrevista aplicada às crianças, para conhecer as suas
impressões, dificuldades e sugestões sobre o programa. Os dados obtidos foram
analisados qualitativa e quantitativamente, utilizando técnicas de análise de
conteúdo e de estatística descritiva.
3
A Fundação “Rádio ECCA”, formada em 1965, é uma organização privada e sem fins lucrativos dedicada à EaD
de pessoas adultas.
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Os resultados da avaliação do programa de alfabetização por rádio revelaram que: (i)
os peritos consideraram o programa relevante, adequado e de qualidade,
destacando os seus aspetos positivos, como a clareza, a coerência, a criatividade, a
diversidade, a interatividade, a contextualização e a motivação; (ii) as crianças
apresentaram um aumento significativo do seu nível de alfabetização, passando de
uma média de 2,4 pontos (em 10) no teste inicial para uma média de 7,8 pontos no
teste final; (iii) as crianças manifestaram um elevado grau de satisfação, interesse e
envolvimento com o programa, referindo que gostaram das lições, dos orientadores,
das atividades, dos rádios e dos cadernos, e que aprenderam muito com o
programa.
Primeiro: Elaboração do material impresso
Para a elaboração do material impresso recebemos contributos de pessoas com
experiências em diversas áreas tais como: produção de conteúdo; desenhadores ou
designers da estrutura do conteúdo; redatores do texto final; especialistas em
comunicação e em meios técnicos para a produção do material.
Um dos métodos mais utilizados na redação do material é a conversação didática
guiada ou orientada. Segundo Holmberg (2007), o sucesso da aprendizagem
acontece quando é criada uma relação afectiva por meio de um texto escrito em
forma de diálogo motivador, amistoso, que abra espaços para uma comunicação
bidirecional entre professor e aluno. O material produzido integrou as seguintes
características apontadas por Cruz (2010, p. 16):
i. Máxima qualidade científica;
ii. Adequação ao nível e características do curso em questão;
iii. Alinhamento com as características do grupo destinatário;
iv. Linguagem pedagógica para se adaptar aos contextos, níveis, estilos e
ritmos diferentes de aprendizagem; e
v. Encorajar a aprendizagem autónoma dos alunos, que estão distantes da
orientação face-a-face com o professor.
Segundo. Elaboração dos roteiros das aulas radiofónicas
Previamente à elaboração dos roteiros das aulas radiofónicas foi feito uma pesquisa
por temas onde recebemos contributos de vários especialistas por áreas.
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Terceiro. A entrevista presencial
Os alunos participantes foram entrevistados por um professor orientador. Este
terceiro elemento do sistema centrou a sua atividade em conhecer e seguir o
trabalho de cada aluno, motivando, orientando e solucionando as dúvidas e
dificuldades que que tenham tido durante a semana.
Fase V. Iniciar o processo de gravação das aulas radiofónicas
A produção do programa de rádio contou com o equipamento técnico necessário e o
pessoal habilitado para a realização do mesmo, tendo estes elementos cumprido as
seguintes tarefas:
i. O roteiro (a cargo do escritor ou roteirista).
ii. Cópia do roteiro: dactilografia, revisão e correção da cópia, tiragem das
cópias em mimeógrafo numa copiadora. A direção (a cargo do diretor)
iii. A musicalização: seleção das cortinas e fundos musicais (tarefa do
programador musical ou sonoplasta).
iv. A atuação, a cargo dos intérpretes: locutores, atores; eventualmente
vozes de apoio para as cenas em conjunto. A gravação, edição e mistura
de sons, a cargo do operador técnico.
v. Os efeitos sonoros produzidos no estúdio, a cargo do contrarregra.
vi. A cronometragem ou medição do tempo, a cargo do assistente (Kaplún,
2017, p. 342).
Fase VI. Implementação do programa
A implementação foi acompanhada de uma exigente monitorização dos três
elementos que configuram o Sistema ECCA (material impresso, as aulas
radiofónicas e a entrevista pessoal), já que é a combinação destes que determina as
possibilidades educativas do programa de alfabetização.
Fase VII. Realização da análise dos resultados
A partir dos resultados da monitorização na fase de implementação, realizou-se um
cruzamento dos resultados com a informação apresentada na fundamentação
teórica.
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4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Os resultados da investigação foram obtidos a partir de entrevistas com os
participantes, e da análise do processo de aprendizagem das crianças que
participaram do programa de alfabetização por rádio. Os principais resultados são:
i. As zonas rurais da Província do Huambo apresentam características
geográficas, socioeconómicas e culturais que dificultam o acesso à
educação formal das crianças, sendo a maioria analfabeta ou com baixo nível
de escolaridade.
ii. Conceptualização do programa de alfabetização por rádio, baseado no
Sistema ECCA, elaborado de forma participativa, e considerando as
necessidades, interesses e realidades das crianças e das comunidades
envolvidas.
iii. O programa de alfabetização por rádio foi implementado com sucesso em
uma comuna da Província do Huambo, alcançando um total de 234 crianças
entre 6 e 14 anos, que receberam orientação e acompanhamento dos
orientadores locais.
iv. O programa de alfabetização por rádio foi eficaz para promover a
alfabetização das crianças, bem como o seu desenvolvimento pessoal e
social, conforme evidenciado pelos indicadores de avaliação aplicados, tais
como: taxa de participação, taxa de conclusão, taxa de aprendizagem, nível
de satisfação e autoestima, entre outros.
v. O programa de alfabetização por rádio contribuiu para a inclusão educativa e
social das crianças de zonas rurais fora do Sistema de Ensino na Província do
Huambo/Angola, bem como para a sensibilização e mobilização das
comunidades para a importância da educação.
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
i. Os resultados mostraram que o programa de alfabetização por rádio foi eficaz
para promover a alfabetização de crianças de zonas rurais fora do Sistema de
Ensino na Província do Huambo/Angola, conforme evidenciado pelos
indicadores de avaliação aplicados. Esse achado é consistente com o
Sistema ECCA, que propõe uma metodologia participativa e adaptada às
realidades locais para a educação de adultos e crianças. Além disso, esse
resultado é importante porque demonstra que a rádio pode ser um meio
eficiente e acessível para levar a educação a populações marginalizadas e
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excluídas do sistema educacional formal, como é o caso das crianças das
zonas rurais da Província do Huambo.
ii. O estudo sugere que a rádio pode ser um meio efectivo parta alfabetizar as
crianças das zonas rurais, ao propor e avaliar um programa de alfabetização
por rádio baseado no Sistema ECCA, que é uma abordagem pedagógica
reconhecida e validada internacionalmente. O estudo contribui para o campo
da comunicação para o desenvolvimento, ao evidenciar o potencial da rádio
como uma ferramenta de educação e de mobilização social em contextos de
exclusão e de vulnerabilidade. O estudo ainda contribui para o campo da
educação em Angola, ao oferecer uma alternativa viável e efectiva para a
alfabetização de crianças que não têm acesso à escola, especialmente nas
zonas rurais, onde há uma grande demanda por educação de qualidade.
iii. Os dados encontrados nesta pesquisa revelaram que o programa de
alfabetização por rádio foi bem recebido e bem avaliado pelas crianças e
pelas comunidades participantes. As crianças demonstraram interesse,
motivação e satisfação em aprender a ler e a escrever por meio da rádio, e
relataram melhorias na sua autoestima, na sua participação social e na sua
qualidade de vida. As comunidades também se envolveram e se mobilizaram
em torno do programa, reconhecendo a importância da educação para o
desenvolvimento local. Esses dados confirmam os objetivos específicos da
pesquisa, que eram caracterizar as zonas geográficas e a população de
crianças analfabetas, e elaborar o modelo pedagógico sustentado no Sistema
ECCA. Esses dados também corroboram o referencial teórico da pesquisa,
que defende que a educação é um direito humano fundamental e um fator de
transformação social.
iv. A pesquisa tem impactos positivos para: i) a educação de crianças em zonas
rurais fora do Sistema de Ensino na Província do Huambo, ao oferecer uma
solução prática e eficiente para a alfabetização dessas crianças, que são um
dos grupos mais vulneráveis e excluídos da sociedade angolana; ii) o
desenvolvimento local e nacional, ao promover a inclusão educativa e social
dessas crianças, que são potenciais agentes de mudança e de progresso para
as suas comunidades e para o seu país; iii) a comunicação para o
desenvolvimento, ao demonstrar o valor da rádio como uma mídia
democrática e participativa, que pode ser usada para fins educativos,
culturais e de cidadania.
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5.1. Limitações:
A investigação apresentou algumas limitações, que devem ser consideradas na
interpretação dos resultados e na sua generalização. Algumas dessas limitações
foram: (i) a dificuldade de acesso e de comunicação com as comunidades das zonas
rurais, que implicou uma amostra reduzida e não aleatória – para além de ter exigido
um grande esforço logístico e financeiro para a implementação do programa de
alfabetização por rádio; (ii) a falta de controlo sobre as variáveis externas, que
podem ter influenciado o desempenho das crianças; (iii) a dependência da
colaboração dos orientadores, que podem ter introduzido vieses na recolha e na
análise dos dados; (iv) a escassez de estudos anteriores sobre a alfabetização por
rádio, que dificultou a comparação e a contextualização dos resultados.
5.2. Estudos Futuros:
Assim, sugere-se que se realizem mais investigações sobre a alfabetização por
rádio, que possam confirmar, complementar ou questionar os resultados obtidos
neste artigo. Algumas sugestões para futuras investigações são: (i) ampliar a
amostra a mais comunas e mais crianças e utilizar técnicas de amostragem
probabilística, para garantir a representatividade e a validade externa dos
resultados; (ii) controlar as variáveis externas, utilizando grupos de controlo e de
experimentação, para verificar a efetividade e a causalidade do programa de
alfabetização por rádio; (iii) formar e supervisionar os orientadores, para assegurar a
fidelidade e a qualidade da implementação e da avaliação do programa de
alfabetização por rádio; (iv) utilizar outros instrumentos de avaliação além das
entrevistas, como seja testes escritos ou observações diretas; e (v) realizar estudos
longitudinais, para acompanhar a evolução e a sustentabilidade dos efeitos do
programa de alfabetização por rádio nas crianças.
6. CONCLUSÃO
A conclusão deste artigo tem como objetivo sintetizar os principais achados da
investigação realizada no âmbito do Curso de Doutoramento, que teve como
objetivo geral elaborar um programa de alfabetização por rádio para crianças de
zonas rurais fora do Sistema de Ensino na Província do Huambo/Angola.
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Os resultados demonstram que o programa de alfabetização por rádio: i) foi uma
experiência bem-sucedida, que atingiu os seus objetivos e que contribuiu para a
alfabetização de crianças de zonas rurais fora do Sistema de Ensino na Província do
Huambo/Angola; ii) é uma alternativa viável, eficaz e inclusiva para levar a educação
a crianças que, por diversas razões, não têm acesso à escola formal; iii) contribuiu
para o desenvolvimento pessoal e social das crianças, proporcionando-lhes
conhecimentos, habilidades, valores e atitudes que lhes permitem participar
ativamente na sua comunidade e na sua sociedade.
A investigação realizada neste artigo partiu da constatação de que a alfabetização de
crianças é um grande desafio para toda a sociedade angolana e de que uma parte
muito significativa das crianças das zonas rurais da Província do Huambo não têm
acesso à educação garantida. A investigação procurou responder a esse desafio,
propondo uma solução inovadora, baseada no uso do rádio como recurso educativo.
A investigação também contribuiu para o avanço do conhecimento científico na área
da educação, especialmente no que diz respeito à alfabetização por rádio, um tema
ainda pouco explorado na literatura académica em Angola.
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Este artigo está licenciado sob a licença: Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0
International License. Ao submeter o manuscrito o autor está ciente de que os direitos de autor
passam para a Revista Científica de Estudos Multidisciplinares do Planalto Central.
Recebido em 13 de Janeiro de 2024
Aceite em 15 de Novembro de 2024
