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Estatutos da língua portuguesa em Angola: pressupostos e proposta de
didactização
Statutes of the Portuguese language in Angola: assumptions and proposals for
didacticisation
Estatutos de la lengua portuguesa en Angola: hipótesis y propuestas de didactización
Dorivaldo Alfredo Zua
1
Instituto Superior de Ciências de Educação da Huíla, Angola
dorivaldo.zua@isced-huila.ed.ao
Resumo
O presente artigo pretende discutir sobre os vários estatutos da língua portuguesa em Angola e
apresentar uma proposta de didactização da temática para a formação inicial de professores
de Português nas instituições de formação de professores em Angola, com vista a reflectir
sobre a metodologia de ensino (língua materna/língua segunda) a usar tendo em conta os
vários contextos angolanos. Para este estudo, foi utilizada uma metodologia assente na revisão
bibliográfica e na leitura crítica e reflexiva dos normativos que regem os vários estatutos da
língua portuguesa em Angola. Conclui-se que a língua portuguesa, em Angola, pode ser língua
materna ou segunda do indivíduo, por isso, a escolha da metodologia para o seu ensino deve
ter em conta este facto e o contexto de ensino.
Palavras-chave: Estatuto, metodologia, didactização.
Abstract
This article aims to discuss the various statutes of the Portuguese language in Angola and to
present a proposal for teaching the subject in the initial training of Portuguese teachers at
teacher training institutions in Angola, with a view to reflecting on the teaching methodology
(mother tongue/second language) to be used in the various Angolan contexts. This study used a
methodology based on a bibliographical review and a critical and reflective reading of the
regulations governing the various statutes of the Portuguese language in Angola. The conclusion
_________________________
1
Doutorando em Ciências da Educação, especialidade em Literacias e Ensino do Português pelo
Instituto de Educação da Universidade do Minho; Professor do Instituto Superior de Ciências de
Educação da Huíla, Departamento de Línguas e Ciências Humanas.
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is that the Portuguese language in Angola can be an individual's mother tongue or second
language, so the choice of methodology for teaching it must take this fact and the teaching
context into account.
Keywords: Status, methodology, didacticisation.
Resumen
Este artículo tiene como objetivo discutir los diversos estatutos de la lengua portuguesa en
Angola y presentar una propuesta de enseñanza de la asignatura en la formación inicial de
profesores de portugués en las instituciones de formación de profesores en Angola, con vistas a
reflexionar sobre la metodología de enseñanza (lengua materna/segunda lengua) a utilizar en
los diversos contextos angoleños. Este estudio utilizó una metodología basada en la revisión
bibliográfica y en la lectura crítica y reflexiva de los reglamentos que rigen los diversos estatutos
de la lengua portuguesa en Angola. La conclusión es que la lengua portuguesa en Angola puede
ser lengua materna o segunda lengua de un individuo, por lo que la elección de la metodología
para su enseñanza debe tener en cuenta este hecho y el contexto de enseñanza.
Palabras clave: Estatuto, metodología, didactización.
INTRODUÇÃO
Em Angola, o português é a língua materna ou a segunda língua de um número
considerável de cidadãos e, a nível político, é língua oficial (artigo 19.º da Constituição
da República de Angola), de discurso pedagógico (artigo 16.º da Lei de Bases do
Sistema de Educação e Ensino) e disciplina escolar (Plano de Estudos do Ministério da
Educação).
Neste artigo, far-se uma revisão bibliográfica e apresentar-se uma proposta de
didactização da temática ligada aos vários estatutos que a língua portuguesa, no
contexto angolano, pode adquirir, no âmbito da formação inicial de professores de
língua portuguesa. A sua escolha da justifica-se pelo facto de este ser um tema que
contextualiza, por um lado, a língua portuguesa em Angola e, por outro, os seus vários
estatutos, visto que Angola é um país plurilingue e a aquisição/aprendizagem da a
língua portuguesa ocorre nos primeiros anos de vida (língua materna) ou após a
aprendizagem de uma língua bantu de Angola (língua segunda). Neste sentido, torna-se
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imperativo que o futuro professor de Português conheça os vários estatutos da língua
portuguesa no contexto angolano para a adequar à sua metodologia de ensino.
O artigo visa i) apresentar os conceitos de língua materna, segunda e estrangeira; ii)
identificar os vários estatutos da língua portuguesa em Angola, de acordo com os
contextos de utilização; iii) compreender as implicações desses estatutos na
organização do processo de ensino-aprendizagem deste idioma, em Angola; e, por
último, iv) apresentar uma proposta de didactização da temática no processo de
formação inicial de professores.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada para a redacção do presente artigo assentou-se na revisão
bibliográfica, realizada por meio da procura, leitura crítica e reflexiva da produção
científica, e dos normativos que regem os estatutos da língua portuguesa em Angola. A
leitura e análise crítica da bibliografia envolveu os conceitos de língua materna e não
materna e os estatutos da língua portuguesa em Angola, com a finalidade de reunir
informações que permitissem uma melhor compreensão da problemática. A revisão
bibliográfica contribuiu também para a selecção dos normativos que regem o estatuto
da língua portuguesa em Angola e para fazer o enquadramento e justificação da
temática.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
1. Conceitos de língua materna e de língua não materna: língua materna, segunda
língua e língua estrangeira
Em Angola, um número considerável de pessoas fala o português, que é a língua oficial,
do discurso pedagógico, disciplina escolar e língua veicular. A par do português, outras
línguas bantu são também faladas, mas é o português que apresenta maior difusão,
principalmente nas zonas urbanas, onde, para a maioria dos cidadãos angolanos (Cf.
Dados do Censo Populacional, 2014), é língua materna ou segunda.
Em contextos plurilingues, como o angolano, o conhecimento do conceito de língua
materna, segunda língua e língua estrangeira é determinante para a vida profissional do
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professor de Língua Portuguesa, pois ajuda a definir a metodologia a utilizar para o seu
ensino (metodologia de ensino do português língua materna ou segunda).
Língua materna, adiante LM ou L1, é considerada, na maior parte dos casos, como
sendo aquela adquirida, não necessariamente aprendida, num contexto familiar
(Tabilo, 2011). É “a língua em que, aproximadamente até aos cinco anos de idade, a
criança estabelece a sua primeira gramática, que depois vai reestruturando e
desenvolvendo em direcção à gramática dos adultos da comunidade em que está
inserida” (Leiria, 2005, p. 10), permitindo-lhe relacionar-se linguisticamente com os
restantes membros da sua comunidade.
A aquisição da LM é uma componente da formação do conhecimento de mundo do
indivíduo, porquanto junto com a competência linguística, adquirem-se também os
valores pessoais e sociais (Spinassé, 2006). Assim, a LM determina, em geral, a origem
do indivíduo e é usada, na maioria das vezes, no quotidiano.
A LM é a língua adquirida em primeiro lugar, e em casa, por influência dos pais (não
sendo necessariamente a língua da mãe) e é, também, frequentemente, a língua da
comunidade onde o indivíduo que a adquire está inserido. No entanto, outros aspectos
linguísticos e não-linguísticos estão associados à definição, tais como: “a língua dos
pais pode não ser a língua da comunidade e, ao aprender as duas, o indivíduo passa a
ter mais de uma L1.” (Spinassé, 2006, p. 5).
De acordo com Ramon (2021), a identificação da língua materna está geralmente
associada aos seguintes critérios: i. afectivo (língua falada pelos progenitores); ii.
geográfico (língua falada no país onde o indivíduo nasce); iii. autodesignação (língua
relativamente à qual aquele que fala se sente parte da comunidade que a fala); iv.
primazia (primeira língua adquirida e falada); v. proficiência (em geral, língua que é
melhor dominada); vi. associação (língua que identifica a origem étnica de quem a fala).
Caso prático:
Uma criança que nasce no município da Matala, província da Huíla, filha de pais
que têm o nhaneka como língua materna e falam com frequência em casa, mas
na creche, com a educadora e com os colegas, fala português, claramente terá
o nhaneka e o português como línguas maternas.
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para Spinassé (2006) a identificação da LM é possível se forem combinados
aspectos como,
a língua da mãe, a língua do pai, a língua dos outros familiares, a língua da
comunidade, a língua adquirida em primeiro lugar, a língua com a qual se
estabelece uma relação afectiva, a língua do dia-a-dia, a língua
predominante na sociedade, a de melhor status para o indivíduo, a que
ele melhor domina e a língua com a qual ele se sente mais à vontade
(Spinassé, 2006, p. 5).
Em Angola, a identificação da LM pode representar problemas, pois é um contexto
multilingue e multicultural onde os indivíduos podem adquirir duas LM ao mesmo
tempo ou de forma seguida, tal como acontece no caso prático apresentado anterior.
A língua segunda (doravante L2) é aquela que é aprendida logo a seguir à aquisição da
LM e usada dentro das fronteiras territoriais em que ela tem um estatuto reconhecido.
Em geral, é a língua usada pelos sistemas administrativo, judicial e educativo do
território. Em Angola, por exemplo, o português é a língua segunda de alguns
indivíduos.
Para a definição da L2, dois critérios são importantes: i. cronológico (língua adicional,
aprendida em fase posterior à aquisição da LM); ii. institucional (língua oficial no
território) (Ramon, 2021).
Língua estrangeira (LE) é a língua diferente daquela que é falada pelos membros de uma
comunidade linguística (Musanji, s/a). Por extensão, num país geralmente plurilingue,
como é o caso de Angola, esta expressão engloba toda a língua que não pertence ao
património cultural do Estado-nação, independentemente do facto de a mesma ser ou
não praticada pelos cidadãos deste Estado. Portanto, é a língua aprendida e usada em
territórios onde não goza de nenhum estatuto sociopolítico.
Caso prático:
Um indivíduo que vive no município de Balombo, província de Benguela, não
frequentou a escola até aos sete anos e, portanto, fala a língua da sua comunidade
(umbundu); muda-se para a capital da província (Benguela) para frequentar a escola e,
com isso, tem que aprender a língua portuguesa para melhor se comunicar com os
professores, os colegas, os vizinhos e os amigos. Para esse indivíduo, o português é
língua segunda.
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Assim, o processo do ensino da língua portuguesa, no contexto angolano, não pode ser
encarado da mesma forma em todo o território, pois os contextos e os alunos que a
aprendem ditarão a metodologia a ser usada pelo professor – metodologia de ensino do
português língua materna ou segunda língua
2
.
2. Os vários estatutos da língua portuguesa em Angola
O português foi a língua oficial da Angola colonizada e é a língua oficial da Angola
independente (Mingas, 1998) que, com o tempo, se tornou uma língua importante.
Actualmente, para além do estatuto de língua oficial (Art. 19.º da Constituição da
República de Angola), é a língua de discurso pedagógico (Art. 16.º da Lei n.º 32/20 Lei
de Bases do Sistema de Educação e Ensino); é a língua do ensino (Planos de Estudo dos
Subsistemas de Ensino sob Tutela do Ministério da Educação) e é língua veicular.
A par do português, outras línguas bantu são faladas em Angola (umbundu, kimbundu,
nhaneka…), o que torna o país plurilingue, mas é o português que goza, tal como vimos
_________________________
2
A este propósito, sugere-se as seguintes leituras: Spinassé, K. (2006). Os Conceitos de Língua Materna,
Língua Segunda e Língua Estrangeira e os Falantes de Línguas Alóctones Minoritárias no Sul do Brasil.
Revista Contingentia, 1. pp. 4-7. https://seer.ufrgs.br/index.php/contingentia/article/view/3837/2144 ;
Tabilo, L. (2011). O Ensino do Português como Língua Estrangeira por Professores não Nativos.
Dissertação de Mestrando. pp. 11-13.
https://run.unl.pt/bitstream/10362/7160/1/O%20ENSINO%20DO%20PORTUGU%C3%8AS%20COMO%2
0L%C3%8DNGUA%20ESTRANGEIRA%20POR%20PROFESSORES%20N%C3%83O%20NATIVOS%20-
%20L%C3%ADa%20Tabilo.pdf
Caso prático:
Um indivíduo angolano tem o kimbundu como língua materna e o português como língua
segunda, mas -se na necessidade de aprender o francês (porque é uma disciplina
escolar, porque quer ler textos literários ou científicos nessa língua ou porque pretende ir
à França a passeio). Para esse indivíduo, o francês é língua estrangeira.
Nota: Apesar dos conceitos apresentados, a diferenciação, na prática, não é absoluta,
portanto, cada caso poderá ser analisado como um caso, principalmente em contextos
plurilingues.
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acima, de estatuto privilegiado, por ser a língua oficial, sendo, por isso, a língua
hegemónica no território angolano (Zua, 2021).
Individualmente, o português, em Angola, goza do estatuto de LM e L2 do mesmo modo
que o kikongo, o kimbundu ou o umbundu e, cada vez mais, vai-se tornando a língua
materna de um número considerável de indivíduos.
Tendencialmente, nas zonas urbanas, o português é a LM da maior parte dos
indivíduos, principalmente dos jovens, e nas zonas rurais, com a implementação das
escolas, é a L2 de um número considerável de cidadãos e vai, cada vez mais, sendo
também a LM
3
.
3. Proposta de didactização dos vários “Estatutos da língua portuguesa no
contexto angolano”
Conteúdos: Conceitos de língua materna e não materna: língua materna, segunda
língua e língua estrangeira; estatutos do português em Angola.
Resultados de aprendizagem: i. conhecer os conceitos de língua materna, segunda
língua e língua estrangeira; ii. identificar os contextos de utilização da língua portuguesa
em Angola; iii. conhecer os estatutos da língua portuguesa em Angola, de acordo com
os contextos de utilização; iv. compreender as implicações dos vários estatutos da
língua portuguesa para a organização dos processos de ensino-aprendizagem deste
idioma, em Angola.
_________________________
3
A este propósito, sugere-se as seguintes leituras: Calossa, B. V. (2021). Português Língua Materna e não
Materna em Angola: Implicações Didácticas e Políticas. Em Timbane, A. A., Sassuco, D. P. & Undolo, M.
(Org.). O Português de/em Angola: Peculiaridades Linguísticas e a Diversidade no Ensino (pp. 144-159).
São Paulo, Brasil: Opção Editora; Mingas, A. A. (1988). Português em Angola Reflexões. Macau: VIII
Encontro das Universidades de Língua Portuguesa; Zua, D. A. (2021). A Influência da Guerra Civil
Angolana na Hegemonia do Português no Século XXI. Em Timbane, A. A., Sassuco, D. P. & Undolo, M.
(Org.). O Português de/em Angola: Peculiaridades Linguísticas e a Diversidade no Ensino (pp. 161-173).
São Paulo: Opção Editora.
Nota: As situações anteriormente expostas muito podem contribuir para a definição da
metodologia a usar no processo de ensino da língua portuguesa em Angola. Portanto, o
português, tendo em conta o contexto, poderá ser ensinado como LM ou como L2.
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ACTIVIDADES A SEREM REALIZADAS DURANTE AS AULAS
Antes da aula: Leitura do artigo “As metodologias em língua materna, segunda e
estrangeira”, de Nagalasso M. Musanji (s/d); AS METODOLOGIAS EM LÍNGUA
MATERNA, SEGUNDA E ESTRANGEIRA.pdf (dropbox.com)
QR Code de acesso ao artigo
Durante a aula:
1. Como se definem os conceitos de língua materna, língua segunda e língua
estrangeira?
1.1. Discuta com o colega do lado, o artigo e, de forma oral, apresentem à turma os
três conceitos em causa.
2. Elabore a sua autobiografia linguística seguindo o modelo apresentado pelo
professor
4
.
Quadro n.º 1 – Autobiografia linguística
5
Estatuto
Competências
L1
L2
L3…
Escrever
Falar
Ouvir
Ler
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
_________________________
4
O estudante preencherá o espaço das línguas que fala; nos espaços “estatuto” e “competências”,
preencherá usando um X nos quadros adequados à sua realidade linguística.
5
Quadro elaborado de acordo com o modelo proposto por Ramon, M. (2021), em aula de Metodologia de
Ensino da Língua Portuguesa II, Universidade do Minho.
6
No quadro apresentado como exemplo, o indivíduo (cidadão angolano) tem o português como LM
(escreve, fala, ouve e lê), o kimbundu e o umbundu como L2 (fala apenas) e o espanhol como LE (fala,
ouve e lê).
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3. De forma oral, apresente a sua autobiografia linguística e troque impressões com
os colegas e com o professor sobre a(s) língua(s) que fala e sobre a ordem de
aquisição/aprendizagem da(s) mesma(s);
4. Em grupo, analise os casos práticos sobre língua materna, língua segunda e língua
estrangeira apresentados infra.
Caso 1.
Elenna tem 20 anos de idade e vive em Portugal desde os 14 anos. Veio da
Moldávia com os pais e ingressou na escola portuguesa sem saber uma palavra
de português. Agora domina a língua portuguesa na perfeição e deixa muita
gente surpreendida quando revela que é moldava e que aprendeu português
aos 14 anos de idade. Agora está no ensino superior português e afirma gostar
muito mais de falar o português do que a língua moldava, idioma que fala em
casa com os pais.
Neste caso, o português é língua ___________________________________________
Caso 2.
Bárbara é alemã, tem 40 anos e vive 15 anos em Portugal. Começou a
aprender o português no ensino superior na Alemanha, já na fase adulta. Domina
muito bem o português, no entanto, o seu sotaque denuncia a sua origem
alemã. Mesmo depois de viver em Portugal mais de uma década, afirma ter
dificuldades em algumas áreas morfossintácticas, como por exemplo, o uso dos
tempos verbais portugueses ou a ordem das palavras na frase.
Neste caso, o português é língua ___________________________________________
Caso 3.
Johann, de 22 anos, é austríaco, vive e estuda em Viena. Por ter interesse em ir
trabalhar no Brasil, decidiu estudar português na universidade. Está no terceiro
semestre do seu curso, frequentando o curso de Língua Portuguesa. Ainda não
teve a oportunidade de viajar para um país de LP. Porquanto, o único contacto
que tem com esta língua limita-se ao contexto de sala de aula.
Neste caso, o português é língua ___________________________________________
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Caso 4.
Nassova Mbamba tem 10 anos, é angolana e vive em Cuilo Camboso, município
de Buengas, província do Uíge, uma das 18 províncias de Angola. A sua língua
materna é o kikongo. Entrou na escola este ano, onde começou a aprender
português. Antes de entrar na escola nunca tinha entrado em contacto com a LP.
sabe o abecedário português, algumas palavras e uma canção que a
professora lhe ensinou.
Neste caso, o português é língua ___________________________________________
Caso 5.
Áureo e Arsénio têm 6 anos, são angolanos e vivem no município do Lubango,
bairro do Nambambe, província da Huíla. Estudam na classe no colégio “O
Sol” e têm aperfeiçoado o domínio da L.P com a disciplina de L.P e outras
ministradas nesta língua.
Para além do português, não dominam nenhuma outra língua.
Neste caso, o português é língua ___________________________________________
4.1. Em grupo, identifique, nos casos apresentados, o estatuto que a língua portuguesa
tem para cada um dos indivíduos referidos nos casos. Registe as respostas
7
.
5. Conseguem identificar um caso parecido com o de algum colega ou de alguém
que conheçam?
5.1. Se sim, qual/quais?
6. Que estatutos tem o português em Angola? Em um parágrafo, justifique a sua
resposta, fundamentando-a com exemplos práticos.
7. Que importância têm os conceitos de língua materna, língua segunda e língua
estrangeira na vida profissional do professor de língua portuguesa em Angola? Discuta
com o colega do lado e apresentem, de forma oral, a vossa posição à turma.
_________________________
7
Os casos serão copiados e distribuídos aos grupos.
Flores, C. M. M. (2013). Português Língua não Materna: Discutindo Conceitos de uma Perspectiva
Linguística. Em Bizarro, R., Moreira, M. A. & Flores, C. (Coord.) (2013). Português Língua não Materna:
Investigação e Ensino. Lisboa: Lidel Edições Técnicas, Lda. (Casos 1, 2 e 3)
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No fim da aula
8. Considera adequada a maneira como a língua portuguesa é ensinada no contexto
angolano? Porquê?
8.1. Discuta as questões com o seu grupo e apresentem os vossos argumentos à
turma.
8.2. Leia os capítulos 7 e 8 do ebook “O português de/em Angola: peculiaridades
linguísticas e a diversidade no ensino”, de Timbane, Sassuco & Undolo e responda às
seguintes questões: Capítulo 7: i. em Angola, o português é língua materna, segunda ou
estrangeira? Justifique a sua resposta com base na leitura feita; ii. o que sugere o autor
para o ensino do português em Angola? Capítulo 8: i. que razões têm levado o
português a tornar-se língua hegemónica em Angola? ii. que sugestões apresenta o
autor para o seu ensino?
CONCLUSÃO
Angola é um país plurilingue, mas com uma política linguística que coloca o português
numa posição de prestígio, porquanto é a língua oficial e de discurso pedagógico.
Apesar de o português ser a língua hegemónica em Angola, o seu ensino deve levar em
conta a existência de outras línguas que com ele coabitam e os indivíduos que o
aprendem. Não se deve ensinar o português da mesma maneira em todos os contextos
e deve-se, igualmente, ter em conta a ordem de aquisição/aprendizagem do português
pelo indivíduo para, a partir desse conhecimento, ser definida a metodologia a usar no
seu processo de ensino.
A proposta apresentada não é uma prescrição para o trabalho com a temática em
causa. No decorrer da planificação da temática ou durante as aulas, poderão surgir
outras possibilidades, dependendo do contexto e do entendimento do professor. A sua
escolha deve-se ao facto de, em muitos casos, o professor de Língua Portuguesa em
Angola não considerar os vários estatutos que o português pode assumir no âmbito no
processo de ensino-aprendizagem da língua, usando-se, a mesma metodologia para o
seu ensino a indivíduos que o têm como língua materna ou segunda.
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Assembleia Nacional.
Flores, C. M. M. (2013). Português Língua não Materna: Discutindo Conceitos de uma
Perspectiva Linguística. Em Bizarro, R., Moreira, M. A. & Flores, C. (Coord.) (2013).
Português Língua não Materna: Investigação e Ensino (pp. 35-46). Lisboa, Portugal:
Lidel Edições Técnicas, Lda.
INIDE (2019). Planos de Estudos dos Subsistemas de Ensino Sob Tutela do Ministério da
Educação. Luanda, Angola: Ministério da Educação.
Lei n.º 32/20, de 12 de Agosto de 2020. Diário da República n.º 123 – I Série. Assembleia
Nacional - Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino.
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Musanji, N. M. (s/d). Língua Estrangeira/Língua Segunda. Em Carla, M. F. (2012). Manual
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Ramon, M. (2021). Metodologia de Ensino da Língua Portuguesa II. UC do Mestrado em
Metodologia de Ensino da Língua Portuguesa no Ensino Secundário. PTT. Braga,
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Spinassé, K. (2006). Os Conceitos de Língua Materna, Língua Segunda e Língua
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Humanas da Universidade Nova de Lisboa. https://run.unl.pt/handle/10362/7160
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Século XXI. Em Timbane, A. A. Sassuco, D. P. & Undolo, M. (Org.). O Português de/em
Angola: Peculiaridades Linguísticas e a Diversidade no Ensino (pp. 161-173). São Paulo:
Opção Editora.
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para a Revista Científica de Estudos Multidisciplinares do Planalto Central.
Recebido em 4 de Janeiro de 2024
Aceite em 15 de Outubro de 2024