Revista Científica do ISCED - Huíla, Lubango, v. 2, n.2, p. 29-39, Jul./ Dez., 2021.
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ARTIGO
Lógica e Linguagem no Ensino e Aprendizagem da Matemática
Logic and Language in the Teaching and Learning of Mathematics
Virgilinx Gustave
1
Instituto de Geociências da Universidade de Estado de Campinas, Brasil
virgilinx@gmail.com
Valdomiro Pinheiro Teixeira Junior
2
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Brasil
valdomiro@unifesspa.edu.br
Ilgentche Appolon
3
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
appolonilgentche26@gmail.com
Resumo
O presente artigo tem como objectivo destacar o papel da lógica e da linguagem no processo de
ensino e aprendizagem da Matemática. É de natureza qualitativa e se configura como um estudo
bibliográfico, com a base teórica dos registos de representações semióticas de Raymond Duval. Este
último desempenha um papel importante na transmissão e assimilação dos conhecimentos
matemáticos, facilitando as diferentes operações que são realizadas através dos registos em relação
aos diferentes tipos de linguagem, seja ela natural, aritmética, algébrica, gráfica ou figurativa. A
pesquisa bibliográfica foi o método utilizado e permitiu realizar uma abordagem qualitativa sobre a
relação entre lógica, linguagem e o ensino-aprendizagem da matemática. O estudo concluiu, entre
vários aspectos, que para promover a aprendizagem da Matemática, os alunos devem ser capazes de
manipular símbolos e expressões matemáticas adequadamente.
Palavras-Chave: Lógica, Linguagem matemática, Teoria dos registros de representações
semióticas.
Abstract
This article aims to highlight the role of logic and language in the process of teaching and learning
mathematics. It is qualitative in nature and takes the form of a bibliographic study, based on Raymond
Duval's theory of semiotic representation registers. This theory plays an important role in the
transmission and assimilation of mathematical knowledge, facilitating the different operations
carried out through the registers in relation to different types of language, whether natural, arithmetic,
algebraic, graphical, or figurative.The bibliographic research method was used, which allowed for a
qualitative approach to the relationship between logic, language, and the teaching-learning of
mathematics. The study concluded, among several aspects, that in order to promote the learning of
mathematics, students must be able to manipulate symbols and mathematical expressions
appropriately.
Keywords: Logic, Mathematical language, Theory of semiotic representation registers
1
Doutorando. Programa de Pós-Graduação em Ensino e História das Ciências da Terra.
2
Doutor. Professor Adjunto da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará.
3
Doutorando. Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade do Estado do Rio de
Janeiro.
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Introdução
A transversalidade e a omnipresença da Matemática em outros ramos do
conhecimento fazem dela uma disciplina privilegiada no ensino e aprendizagem. Tal facto
leva à intervenção de rios especialistas de didáctica, epistemologia, filosofia, educação,
enfim, de todas as pessoas que trabalham neste campo do conhecimento na busca de métodos
e ferramentas que garantam melhor qualidade do seu ensino e aprendizagem na escola, a fim
de treinar cada aluno numa cultura matemática.
A reflexão sobre a alfabetização matemática, segundo OECD (2004,p.39), considera
que:
A alfabetização matemática é a capacidade de um indivíduo de identificar e
compreender o papel da matemática no mundo, de fazer julgamentos sólidos sobre
ela e de se envolver em atividades matemáticas, como exigido para a vida como um
cidadão construtivo, envolvido e reflexivo.
Segundo Bayenet (2005), a Matemática permite a compreensão de várias ciências,
e, portanto, o mundo ao nosso redor. Ela ajuda-nos não a conquistar o nosso ambiente,
mas, também, a escolher entre o útil e o supérfluo, entre a verdade e a falsidade, entre o bem
e o mal, em suma, a Matemática guia a razão esclarecendo-a pelo bom senso:
A matemática, em particular, é uma ferramenta fundamental para o progresso da
humanidade. Antes de tudo, ela permite a inculcação de um espírito de racionalidade,
pensamento lógico, um senso crítico de questionamento perpétuo e uma capacidade
de ordenar a pletora de informações com que o indivíduo de amanhã será
confrontado ainda mais do que o de hoje. A condição indispensável para que o
homem encontre seu equilíbrio na sociedade é o domínio desta ferramenta
matemática (Bayenet, 2005. p.9).
Dado o papel preponderante que a lógica e a linguagem desempenham na transmissão
do conhecimento matemático, é importante levar esses dois aspectos em consideração no
processo de ensino e aprendizagem da Matemática. Desde 1969, os diversos currículos
mencionam a importância do ensino da lógica na aquisição do conhecimento. No mesmo
ano, a linguagem dos conjuntos foi um objecto de aprendizagem que não aparece
explicitamente nos programas subsequentes. No entanto, uma importante característica
comum em todos estes currículos: qualquer discussão sobre lógica matemática é excluída.
O estudo de várias formas de raciocínio e a necessidade de distinguir entre a
implicação matemática e esta aquisição deve ser difundida ao longo do ano, quando as
situações estudadas oferecem a oportunidade de o fazer e não de tratar a lógica em um
capítulo específico (EDUSCOL, 2009).
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Segundo Mesnil (2014), a Lógica Matemática pode ser usada para descrever certos
fenómenos linguísticos encontrados na actividade matemática. A gica na actividade
matemática está inevitavelmente presente na aula de Matemática. O objectivo não é ensinar
noções de Lógica Matemática, definindo objectos e dando certas propriedades, mas
apresentar ferramentas que possam ajudar os alunos a aprender a linguagem e o raciocínio
matemático.
Tanto a "lógica" quanto a "linguagem" desempenham um papel importante na
compreensão e na matemática de um problema, na transição de um registo de representação
para outro. Na maioria das vezes, o estudante entra em contacto primeiro com a língua
natural, que é a língua materna. No caso em que o estudante apresente dificuldades em
transformar o conteúdo da linguagem quotidiana em outro registo, seja algébrico, aritmético
ou gráfico, poderá estar sujeito a um bloqueio na sua aprendizagem.
O presente artigo é baseado nos registos de representações semióticas de Raymond
Duval. De acordo com Duval (2006), em matemática, um registo de representação semiótica
é interessante, na medida em que pode ser transformado em outro registo de
representação. É somente na medida em que atendam a este requisito fundamental que as
representações semióticas podem simbolizar algo real e racionalmente explorável, ou seja,
tornar-se o meio de acesso a objectos de outra forma inacessíveis.
De acordo com Mesnil (2014), muitos professores de Matemática acham que os seus
alunos têm dificuldade para se expressar e raciocinar. Contudo, a linguagem e o raciocínio
são os dois pilares da lógica. A aplicação de ambos pode influenciar positivamente o ensino
e a aprendizagem da Matemática. Isto adequa-se à pertinência de questionar o papel e a
importância da lógica e da linguagem no ensino e na aprendizagem da Matemática. É
importante esclarecer aqui o significado das palavras linguagem e lógica.
Segundo Rebière (2013), a palavra "linguagem" é usada no sentido geral da
capacidade de homens e mulheres de se expressarem e de se comunicarem uns com os outros
por meio da linguagem. Segundo Bronckart (2007), a palavra "linguagem" é vista aqui como
um conjunto de palavras, um sistema de regras lexicais, gramaticais e sintácticas, um
reservatório internalizado de sinais compartilhados por uma comunidade. A linguagem tem
uma dimensão individual e social que são inseparáveis.
O dicionário Trésor de la Langue Française Informatisé (consultado on-line, vide
referências bibliográficas) define a lógica como um substantivo feminino, uma ciência
relativa aos processos de pensamento racional (indução, dedução, hipótese) e a formulação
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discursiva das verdades. A palavra “matemática” como um substantivo feminino, como um
conjunto de disciplinas que procedem de acordo com o método dedutivo e que estudam as
propriedades dos seres abstratos, como números, figuras geométricas e as relações entre eles.
A lógica aqui definida não é vista apenas como uma ciência do raciocínio, mas
também como uma ciência da linguagem. A intersecção destas duas definições mostra que,
em Matemática, a lógica serviria assim para estudar o método dedutivo a partir do qual esta
disciplina procede e a formulação discursiva de verdades que dizem respeito a seres
abstratos, assim como as relações que existem entre eles.
Com base em Blanché (1970), retomado por Mesnil (2012), podemos resumir o papel
da lógica. A lógica de Aristóteles, e em paralelo a dos Megáricos e depois a dos Estóicos, é
vista como uma lógica a serviço do raciocínio. A partir de certos raciocínios básicos
considerados óbvios, é uma questão de dar a si mesmo métodos para justificar a validade
dos outros.
Do ponto de vista da linguagem, a lógica de Aristóteles é tradicionalmente descrita
como uma gica de termos, enquanto que a dos estóicos é uma lógica de proposições. É esta
concepção da lógica como ciência do raciocínio que continua na tradição escolástica da
Idade Média. Também é vista geralmente como uma das ciências da linguagem, ao lado da
gramática e da retórica, que ensina como falar com verdade (Blanche, 1970).
De modo geral, cada grupo social desenvolve suas próprias práticas, incluindo
práticas linguísticas. Essas práticas são relativamente estáveis, mas estão vivas, elas
evoluem. Eles são, em certa medida, específicas de uma comunidade e mostram o que é
aceitável dentro dela, validam a relevância das práticas colectivas e individuais e participam
da construção do elo social, da coerência do grupo, das suas actividades e da sua maneira de
pensar sobre o mundo (Rebiere, 2013).
A linguagem é uma ferramenta para construir, negociar e transformar as
representações individuais (as do sujeito em questão, as das pessoas com quem ele interage).
As práticas linguísticas são, portanto, um objecto de estudo particularmente sensível numa
perspectiva de pesquisa sobre o ensino e a aprendizagem de uma disciplina. Assim, os
matemáticos têm uma certa forma de usar a linguagem, têm práticas e usos específicos.
Podemos ver que as coisas podem ser ditas de muitas maneiras. Não necessariamente uma
única maneira de dizer algo. Não há necessidade de explicitar estas formas e de saber como
descrevê-las, a maioria das regras estão implícitas (Hache, 2015).
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Abordagens Didácticas
Estudar Matemática na escola obriga o aluno a saber manipular a linguagem natural
e a linguagem matemática. Se o aluno não conseguir dominar as informações contidas na
linguagem natural, é provável que tenha dificuldades em resolver certos problemas.
De acordo com Moise Leung (2020), a definição matemática está muito longe de ser
uma definição de dicionário (descrição dos objectos ou conceitos referidos, esboços dos
diferentes significados da palavra, lista de usos). A disciplina tem um léxico específico:
algumas palavras ou expressões são encontradas apenas na linguagem natural em seu sentido
matemático, como "bisseto", "coseno". Existem palavras na linguagem natural, tais como:
"altura", "base", "meio", "centro" que são usadas de uma forma específica. Entretanto, em
outros contextos, estas palavras têm um significado diferente. Por exemplo :
Meio nas ciências físicas e químicas: uma substância na qual ocorre uma reacção
ou fenómeno e que é caracterizada por certas propriedades (Ambiente ácido).
Meio em geografia é “Ambiente”: todas as características naturais e humanas que
influenciam a vida humana (Ambiente urbano).
Meio nas ciências da vida e da terra: todos os factores físico-químicos e biológicos
que actuam sobre uma célula, um ser vivo, uma espécie. (O deserto, a floresta, a montanha
são ambientes nos quais vivem certas espécies).
Meio em matemática: pode ser um "meio de um segmento" do segmento localizado
a igual distância entre duas extremidades.
A observação feita é que uma palavra em linguagem natural pode ter múltiplos
significados, dependendo dos seus recursos linguísticos e do contexto em que é utilizada. É
necessário dominar as variantes do idioma em cada disciplina, o que facilitará o domínio do
conteúdo.
Na passagem da linguagem natural para a linguagem matemática, na mudança da
escrita de uma expressão que está em extensão para compreensão, que se encontra muito
frequentemente na teoria dos conjuntos
4
, deve-se manipular tantos vocabulários, conectores
e quantificadores lógicos (quantificadores universais ou existenciais) como "e", "ou", "a",
"o", "com", "qualquer coisa", "se ...", "existe". Se tomarmos o caso do "OU", fazer a
4
A teoria do conjunto é um ramo da matemática, criado pelo matemático alemão Georg Cantor no
final do século XIX. Ela toma como primitivas as noções de conjunto e de associação, a partir das
quais reconstrói os objectos habituais da matemática: funções, relações, inteiros naturais e relativos,
racionalidades, números reais, complexos.
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diferença entre o "OU" inclusivo e o exclusivo "OU" é um passo importante no compreensão
textual, por exemplo, na declaração "Um número é par ou ímpar" o "OU" aqui é exclusivo
porque um número não pode ser par e ímpar ao mesmo tempo, mas pode ser ou um ou outro.
Na declaração "Um estudante é punido se ele ou ela for falador ou preguiçoso" aqui o "OU"
é inclusivo porque o estudante pode ser punido se ele ou ela for falador e preguiçoso, ambos
os fatos podem ocorrer. Na verdade, a compreensão da língua é um ponto de partida na
actividade matemática. Se o estudante tiver dificuldades de entender as informações
matemáticas contidas no caso da linguagem natural, poderá não ser possível atingir os
objectivos da aprendizagem.
Duval (2006), afirma que a influência do pensamento de Vygotsky havia enfatizado,
contra as explicações de Piaget, a importância da linguagem através de suas três modalidades
de expressão - interior, oral e escrita, no desenvolvimento do pensamento da criança. Uma
palavra pode ter um significado quando é isolada, porém em uma proposta matemática ela
tem um significado diferente, isto acontece em muitas áreas.
Em linguagem natural algumas palavras são usadas como advérbios, determinantes,
conjunções, preposições, ou formas verbais como são usadas em casos específicos. Como
no uso diário, algumas palavras como "ponto", "linha", "número", "número relativo",
"ângulo" são manipuladas em matemática antes de corresponderem a uma definição
matemática.
A matemática não é apenas uma linguagem única e linear, mas sim uma combinação.
A primeira é natural ou habitual, na qual as actividades matemáticas usarão como prioridade
os vectores e canais da língua natural ou língua materna tanto na transmissão de
conhecimentos como na apresentação de trabalhos ou produções dos alunos. A segunda é
simbólica e gráfica, que utiliza diferentes formas de expressão como números, símbolos,
tabelas, diagramas ou figuras.
Segundo Condillac (1982), em matemática, uma representação é interessante na
medida em que pode ser transformada em outra representação. Um sinal só é interessante se
puder ser substituído por outros sinais a fim de realizar operações. Portanto, não são as
representações que são importantes, mas as transformações das representações. Esta
exigência levou ao desenvolvimento de um simbolismo específico em matemática, com a
representação de números, com álgebra, com a análise.
De acordo com Duval (2017), o registo da linguagem natural é necessário para
colocar problemas aritméticos, ou para dar instrução de uma actividade de contagem, ou o
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objectivo da actividade. Por outro lado, a solução do problema requer a mudança para um
ou dois outros registos. Passando do uso de um registo de representação desde a linguagem
natural para uma representação que seja aritmética, numérica, gráfica ou figurativa que
desenvolve uma certa habilidade no aluno no domínio do conteúdo e na manipulação de
objectos matemáticos.
Duval (1993) caracteriza um sistema semiótico, um registo, como um sistema de
representação. Segundo o autor, para que um sistema seja um registo representativo, deverá
permitir as três actividades cognitivas relacionadas à semiose:
A formação de uma representação identificável.
O processamento de uma representação é a transformação dessa representação no
próprio registo em que ela foi formada. O cálculo é, por exemplo, uma forma de
processamento de escritos simbólicos.
A conversão de uma representação é a transformação dessa representação em uma
representação de outro registo, preservando todo ou apenas parte do conteúdo da
representação inicial. Por exemplo, a conversão da escrita decimal para a escrita fraccionária.
Metodologia
Para o presente artigo, o método é particularmente relevante no contexto da síntese e
análise de informações de rias fontes, como livros, artigos científicos e publicações
académicas.
Resultados e Discussões
A análise da lógica e linguagem no ensino e aprendizagem da Matemática levou em
consideração a nossa experiência e a produção discursiva motivada por perguntas
complementares, delineando blocos temáticos. Tal exercício possibilitou a identificação de
eixos interpretativos com base na teoria do registo de representação semiótica desenvolvida
pelo filósofo francês Duval(1993).
As diferentes operações realizadas nos registos semióticos desenvolvem no aluno
uma certa capacidade de dominar diferentes tipos de linguagem. Seja em álgebra, passando
da afirmação para os escritos algébricos, seja em análise, passando da função para as
representações gráficas, seja em teoria, passando da linguagem natural para os escritos
matemáticos, seja da escrita em extensão para a escrita em compreensão, etc.
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Como Exemplo 1, tomemos estas duas representações em registos diferentes, com
base na teoria de Duval. Aqui é uma conversão do registo natural em dois registos diferentes.
Registo natural Registo simbólico Registo figurativo
1.- X pertence a E X 𝐸 E
2.- F incluído em E F E E
Fonte: Autor, baseado na teoria de R. Duval.
Exemplo 2 : Neste exemplo, a expressão é escrita em linguagem natural, uma
conversão a transformou em linguagem simbólica. Para qualquer número real, existe pelo
menos um número natural N maior ou igual a X.
X R, N N/, N≥X.
Exemplo 3:
.x
F
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Figura 1: Exemplo de Tratamento e Conversão
Fonte: Denardi, 2017
Segundo Moise Leung (2020), fazer matemática envolve manipular objectos
específicos da disciplina, propriedades desses objectos, relações entre objectos e provas
dessas propriedades e relações.
Estes objectos são fundamentalmente abstratos, por exemplo, não se pode mostrar
uma linha recta e um triângulo, por isso, são manipulados através de suas representações e
especialmente através da linguagem. Além disso, a manipulação de variáveis é parte da
actividade matemática, e esta manipulação (introdução de variáveis, formulação de
quantificações universais ou existenciais) não é natural na linguagem quotidiana. Na
matemática, vários registos são utilizados para designar objectos ou suas propriedades. De
facto, os registos simbólicos (números, letras, sinais operacionais) e os registos gráficos (o
desenho em geometria, gráficos cartesianos, tabelas) são articulados com a linguagem
natural (do ponto de vista lexical, mas também do ponto de vista gramatical e sintáctico).
Todos estes registos caracterizam as práticas linguísticas dos matemáticos. Por exemplo,
para falar de linhas rectas paralelas entre si (denotadas pelas letras D e D'), podemos
descrever a situação, dizendo que D e D' são paralelas entre si, caso contrário podemos dizer
que D é paralelo a D' ou mais simplesmente DD', no caso de duas linhas perpendiculares
também podemos fazer uma figura codificada do tipo .
Como os objectos matemáticos são abstractos, as suas definições, propriedades e
provas de tais propriedades têm uma forte dimensão formal. É por isso que uma mistura de
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expressões formalizadas (possivelmente de forma simbólica por escrito, mas também através
do uso normalizado da linguagem) e expressões da linguagem quotidiana é utilizada nas
práticas linguísticas dos matemáticos. Portanto, é extremamente difícil para os estudantes
reconhecer e reconstruir os elementos desta mistura. Sendo assim, existe uma interacção
cognitiva para o estudante entre pensar, trocar, intuir, conjeturar, explorar, elaborar provas,
por um lado, e rigor, formalismo e prova, por outro. Por exemplo, quando pretendemos dizer
que um número é par, há várias maneiras de dizê-lo: "n é par", "n é divisível por 2", "n é um
múltiplo de 2", ou "n está na tabela de multiplicação de 2", ou "2 divide n", ou mesmo "2 é
um divisor de n".
Além disso, uma das principais características dos usos da linguagem matemática
está relacionada com a concisão procurada. Por exemplo, a propriedade "As diagonais de
um paralelogramo se cruzam em seu ponto médio" deve ser reformulada para tornar
explícitas as relações que ela descreve. Deve-se deixar claro que as diagonais de um
paralelogramo têm um ponto de intersecção, que cada uma delas tem um ponto médio e que
o ponto médio de cada diagonal e o ponto de intersecção das diagonais são os mesmos.
Considerações Finais
O presente estudo exploratório destaca as diferentes marcações quanto a lógica e
linguagem na escola. Entendemos que ensinar Matemática é capacitar os actores
educacionais, buscando maneiras de tornar o processo de ensino-aprendizagem mais eficaz.
Dado o papel desempenhado pela linguagem e pela lógica na construção e na transmissão
do conhecimento matemático de acordo com Blanche (1970), Eduscol (2009), Hache (2015),
é importante enfatizá-los. O primeiro contacto do aluno com a língua natural (língua
materna) em matemática é frequentemente considerado como o registo da língua natural de
acordo com a teoria de Raymond Duval de registos de representações semióticas. Aqui, o
aluno, às vezes, encontra certas ambiguidades na transformação da linguagem natural em
linguagem matemática, na manipulação de quantificadores e/ou conectores lógicos de uma
proposta.
Para promover a aprendizagem da Matemática, os alunos devem ser capazes de
verbalizar coerentemente, manipular símbolos e expressões matemáticas adequadamente,
converter informações relevantes de uma declaração de problema e ser capazes de passar de
uma representação de um objecto matemático para outra, que a maioria dos alunos ainda não
aprendeu. A teoria dos registos de representações semióticas (TRRS) de Raymond Duval é
interessante na medida em que pode ser transformado em outro registo de representação.
Nesta operação, o aluno terá que fazer alterações de registos com o mesmo objecto
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matemático, transferindo-o para registos diferentes, o que levará a sua capacidade e
desenvolverá sua compreensão.
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Recebido em 02 de Abril de 2023
Aceite em 09 de Setembro de 2024
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