Jorge Maria Gonçalves Mayer & Daniel Catalayu Passile
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Aplicação da Transformada de Laplace na Análise de Circuitos
Eléctricos no Ensino da Física
Application of the Laplace Transform to the Analysis of Electric Circuits in
Physics Teaching
Jorge Maria Gonçalves Mayer
1
Instituto Superior de Ciências de Educação da Huíla
jorge.mayer@isced-huila.ed.ao
Daniel Catalayu Passile
2
Escola do I Ciclo do Ensino Secundário da Arimba
passilek@gmail.com
Resumo
No presente artigo abordamos a aplicação da transformada de Laplace no Processo de
Ensino Aprendizagem no Ano do Curso de Ensino da Física do ISCED Huíla para
determinar a corrente eléctrica que flui num circuito, como um método matemático de
resolução mais cómodo de circuitos eléctricos mais complexos, quando as leis de
Kirchhoff apresentam limitações no estudo de alguns circuitos. A transformada de
Laplace aplica-se a qualquer circuito eléctrico independentemente da sua complexidade.
Palavras-chave: Física Matemática, transformada de Laplace, circuitos eléctricos.
Abstract
In this article we discuss the application of the Laplace transform in the Teaching -
Learning Process in the 4th Year of the ISCED Physics Teaching Course - Huíla to
determine the electric current flowing in a circuit, as a more convenient mathematical
method for solving electrical circuits more complex, when Kirchhoff's laws have
limitations in the study of some circuits. The Laplace transform applies to any electrical
circuit regardless of its complexity.
Keywords: Mathematical Physics, Laplace transform, electrical circuits.
Introdução
Todo e qualquer fenómeno físico é uma função do tempo e, cada fenómeno
exige uma expressão matemática própria e adequada para descrever e/ou analisar
o seu comportamento no decorrer do tempo, pois a linguagem da Física é a
1
Doutor em Ciências Pedagógicas, especialidade Física.
2
Licenciado em Ciências da Educação, opção Física
Revista Científica do ISCED Huíla, Lubango, v. 2, n.1, p. 72-84, Jan./ Jun., 2021.
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Matemática. Por exemplo, as Equações Diferenciais Ordinárias (EDO’s) e as
Equações Diferenciais com Derivadas Parciais (EDP’s) descrevem o modo como
certos fenómenos físicos variam com o tempo.
Na unidade curricular Física Matemática, do Curso de Licenciatura em
Ensino da Física, no ISCED-Huíla, temos as equações diferenciais com derivadas
parciais, que constituem equações principais, como a equação do calor ou equação
de Fourier, a equação da onda e a equação de Laplace e nos conteúdos sobre a
Transformada de Laplace.
Os problemas decorrentes do movimento de fluídos, do fluxo de corrente
eléctrica em circuitos, da dissipação de calor em objectos sólidos, da propagação e
detecção de ondas sísmicas, bem como da variação do tamanho de uma
população, entre outros, são exemplos de alguns fenómenos físicos cujo estudo e
descrição exigem vários métodos e procedimentos matemáticos conhecidos, e
utilizados, principalmente, por físicos, matemáticos e engenheiros (Pacheco, 2011).
Em Física, um mesmo fenómeno pode ser estudado, analisado e/ou
descrito por vários métodos/procedimentos matemáticos no seu tratamento
quantitativo e/ou qualitativo, sobrepondo-se entre si pela limitação e/ou
comodidade que cada método oferece.
Tendo em conta um caso concreto, para estudar, analisar e descrever o
comportamento da tensão e da intensidade da corrente eléctrica num circuito
eléctrico completo menos complexo, principalmente ao nível do Ensino
Fundamental (Ensino Secundário e Profissional) e do Ensino Superior
(licenciatura), são aplicados variados métodos e princípios matemáticos, muitos
destes conhecidos como métodos algébricos, onde, para alguns casos, mais gerais,
se recorre às leis de Kirchhoff, tais como: as leis das malhas e dos nodos.
Quando todos os elementos do circuito eléctrico são função de tempo, quer
dizer, variam no decorrer do tempo, os métodos convencionais tornam-se
limitados, particularmente as leis de Kirchhoff, exigindo uma análise integro-
diferencial do comportamento dos elementos do circuito eléctrico. Desta feita,
muitos autores apontam a Transformada de Laplace como uma das
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ferramentas mais eficazes e eficientes na análise de circuitos eléctricos, quando os
métodos algébricos aplicados nas leis de Kirchhoff, tornam-se limitados, sendo
que a Transformada de Laplace é um método diferencial, “ideal” para o estudo,
análise e descrição de circuitos eléctricos completos mais complexos, pois, torna-se
mais fácil e simples analisá-lo no domínio da frequência , e depois fazer a
transformada inversa para o domínio do tempo .
Este é um assunto tratado no 4.º ano, do curso de Licenciatura em Ensino da
Física, no Instituto Superior de Ciências de Educação (ISCED-Huíla). Todavia,
contrariamente ao que se exige em termos de competências básicas, para
frequentar a cadeira de Física Matemática, está o baixo nível de conhecimento dos
estudantes, concernente às ferramentas matemáticas, de entre outras, a
Transformada de Laplace, necessárias na descrição e compreensão de certos
fenómenos físicos, concretamente na análise de circuitos eléctricos complexos,
neste nível de escolaridade.
Portanto, têm sido vários os esforços empreendidos pelos docentes de Física
Matemática, no Curso de Licenciatura em Ensino da Física do ISCED-Huíla, no
sentido de dotar os estudantes de conhecimentos matemáticos essenciais, como os
de Transformada de Laplace, pois, alguns docentes de Matemática, que leccionam
conteúdos matemáticos no Curso de Licenciatura em Ensino da Física, não tratam
de conteúdos relacionados com a Transformada de Laplace.
Desenvolvimento
A transformada de Laplace é um operador. Na realidade, tal como outros já
existentes.
O método da Transformada de Laplace é um procedimento analítico,
firmando-se como uma importante ferramenta para a resolução de equações
diferenciais, em particular, das equações lineares com coeficientes constantes e dos
correspondentes problemas de valor inicial, pois, permite resolver equações
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diferenciais em forma de equações polinomiais, que, por sua vez, são muito mais
simples de resolver (Silva, 2013).
Definição (Rezende, 2013): dada uma função definida no intervalo
, definimos a sua Transformada de Laplace, denotamos por , na forma:
.
Por definição, a Transformada de Laplace é uma integral imprópria, pois:
, para todo , para o qual
converge, (sendo que uma integral, converge quando o seu limite existe, caso
contrário diverge).
Por definição, a integral imprópria é dada por:
Portanto, a integral imprópria converge quando o
seu limite existe e caso contrário diverge.
O procedimento para a obtenção da solução de um problema, aplicando a
Transformada de Laplace, consiste, basicamente, em três passos, que são (Pacheco,
2011):
1.º Passo: a fim de diminuir o grau de dificuldade do problema e
simplificá-lo, a EDO (Equação Diferencial Ordinária) dada é transformada em
uma equação algébrica (equação subsidiária);
2.º Passo: a equação subsidiária é resolvida através de manipulação
algébrica;
3.º Passo: a solução obtida, através da manipulação, é transformada
novamente, via operador inverso, para se obter a solução do problema.
Figura n.º 1: Operacionalização da transformada de Laplace:
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Fonte: Pacheco (2011), adaptada pelos autores do artigo.
Figura n.º 2: Operacionalização da transformada de Laplace por uma linguagem física
Fonte: Butkov (2013), adoptada pelos autores.
Propriedades da Transformada de Laplace
Na sua obra, Pacheco (2011) apresenta duas propriedades principais,
nomeadamente: linearidade e unicidade.
Apresenta também outras propriedades não menos importantes, como:
i. Propriedade de translação ou deslocamento;
ii. Propriedade da mudança de escala;
iii. Propriedade da derivada de primeira, segunda e n-ésima ordem;
iv. Propriedade da integral;
Com a sua ampla aplicação em variadas situações, nos fenómenos físicos, a
Transformada de Laplace tem tabelado uma gama de funções mais utilizadas,
facilitando a análise e resolução de equações diferenciais com derivadas parciais
de primeira e de segunda ordem, por estas constituídas.
A Transformada de Laplace é um importante método operacional para a
Física Matemática. Apresenta duas vantagens principais sobre os demais
procedimentos:
a) Os problemas são resolvidos mais directamente. Os problemas de valor
inicial são resolvidos sem que seja necessário determinar-se, inicialmente, uma
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solução geral. Adicionalmente, as EDO’s não-homogéneas são resolvidas sem a
necessidade de se obter as correspondentes EDO’s homogéneas.
b) A segunda e, certamente, mais importante vantagem é devido ao uso da
função unitária (função de Heaviside) e do delta de Dirac. Essas ferramentas
tornam esse método particularmente poderoso para problemas nos quais os dados
iniciais (forças motrizes mecânicas ou eléctricas) têm descontinuidades,
representam pequenos impulsos de grande amplitude ou são funções periódicas
mais elaboradas (não apenas senóides e cossenóides).
Vamos analisar um circuito simples que, neste caso, permita-se, considerá-
lo ‘’menos complexo’’, pois a determinação dos parâmetros do circuito pode ser
garantida, aplicando unicamente as leis de Kirchhoff, de modo que estes são
totalmente suficientes para análise deste circuito.
De seguida, apresentamos um circuito modelo, considerado ‘’complexo’’,
no qual todos os parâmetros do circuito são função do tempo, portanto, as leis de
Kirchhoff tornam-se limitadas para a análise do mesmo, sendo imprescindível
uma outra abordagem matemática e, neste caso, a Transformada de Laplace.
Exemplos
Exercício 1: O condensador de um circuito RC, inicialmente, encontra-se
descarregado, portanto, a diferença de potencial através dele é igual a zero,
para . Para este instante, pela lei das malhas de Kirchhoff, a voltagem
através do resistor é igual à fem da bateria . A corrente inicial através do
resistor é dada pela lei de Ohm:
Determinar a carga e a corrente que circula no circuito enquanto o capacitor
se carrega, (figura n.º 3).
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Figura n.º 3: Circuito RC em série
Fonte: Young & Freedman, (2009 pág. 182) adaptada pelos autores do artigo.
Resolução
À medida que o capacitor se carrega, a sua voltagem aumenta aumenta,
enquanto diminui através do resistor, o que corresponde à diminuição da
corrente, portanto, as voltagens instantâneas são dadas por:
Aplicando a lei de Kirchhoff para as malhas (lei das malhas) no circuito,
obtém-se:
Explicitando a intensidade da corrente na expressão (1), tem-se:
No instante , isto é, no instante em que se fecha o interruptor, o
condensador está descarregado e, portanto, . Quando a chave estiver
fechada, a carga sobre o capacitor aumenta com o tempo, enquanto a corrente
diminui.
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À medida que a carga aumenta, o termo torna-se maior a custo da
diminuição da intensidade da corrente , sendo que a carga do capacitor atinge o
seu valor máximo quando . Nesta condição, a equação (2), toma a forma:
Parece que, nesta análise, a corrente um salto para o seu valor inicial e
que, por sinal, o seu maior valor, no instante , tão logo que o interruptor do
circuito é fechado, pois em cada tem-se para a carga, o processo
inverso ao da corrente. Portanto, desta análise pode-se deduzir as expressões
gerais da carga e da corrente, em função do tempo.
Sendo que,
Substituindo (4) em (2), vem
Integrando ambos membros da equação (5), fica:
Esta é a expressão da carga do capacitor, num circuito RC.
A corrente instantânea é dada pela derivada da carga em função do
tempo, de acordo com a expressão (4). Portanto,
Uma vez que
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Então a corrente eléctrica, que flui no circuito, é dada por:
Exercício 2: No circuito LRC, em série, mostrado na figura abaixo, o
interruptor S é fechado no instante e aberto quando . Deseja-se achar a
corrente , quando e .
Figura n.º 4: Circuito LRC em série:
Fonte: Butkov, (213), adoptada pelos autores.
Resolução
A lei de Kirchhoff (lei das malhas) exige que
Dadas as condições iniciais, podemos escrever a expressão , na forma:
Do outro lado, pela definição de corrente eléctrica, tem-se que
Neste exemplo, não é possível aplicar as leis de Kirchhoff porque todos os
parâmetros da equação (1) são função do tempo, assim, torna-se imprescindível a
aplicação da transformada de Laplace na determinação da corrente eléctrica que
flui no circuito.
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Aplicando a transformada de Laplace, nas equações diferenciais e ,
fica:
L
Por definição, a transformada da derivada é dada por
Logo, para ambos casos, teremos:
Usando as condições iniciais e em (1’) e (2’), vem
. Substituindo (##) em (#), temos:
. A partir da relação , é válido
escrever:
. Portanto, a partir de
tem-se
Usamos a Transformada de Laplace com o propósito de transformar as
equações (1) e (2) em soma algébrica. Pretendendo determinar a corrente e não
, aplicaremos a operação inversa da transformada ( ).
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Um método muito geral, mas eficiente para calcular a transformada inversa
de uma função , é a decomposição de fracções racionais.
Seja ; sendo e de grau maior , vale escrever:
; com B e C constantes e
Podemos então deduzir que
Logo, nesta linha de pensamento, substituindo (3) em (4), no exercício;
temos:
Ainda podemos escrever esta expressão na forma:
Aplicando a propriedade acima, temos:
sendo
;
;
E considerando:
Podemos reescrever (5) na forma:
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Não tendo nenhum factor de no numerador, implica que , logo,
Há três casos de soluções possíveis para (7):
a) O caso oscilatório, , a inversa de , será:
b) O caso super amortecido , ou seja, e substituindo por
na fórmula acima, vem:
c) O caso criticamente amortecido, , a transformada será:
De maneira que a corrente eléctrica que flui no circuito é dada por:
Conclusões
A Transformada de Laplace constitui um dos métodos matemáticos mais
confortáveis e integrais na análise e resolução dos circuitos eléctricos complexos;
O domínio da Transformada de Laplace proporciona, aos estudantes do 4.º
ano, do Curso de Licenciatura em Ensino da Física, no ISCED-Huíla, capacidades
de modelar matematicamente determinados fenómenos físicos cujos parâmetros
que os descrevem são todos fenómenos dinâmicos;
É de suma importância que os estudantes do Curso de Licenciatura em
Ensino da Física, no ISCED-Huíla, alarguem e consolidem o seu leque de
conhecimentos matemáticos para o estudo, compreensão, interpretação e
explicação de certos fenómenos físicos.
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Referências bibliográficas
Butkov, E, (1988). Física Matemática.
Mayer, J. (2015). Notas de Aulas de Física Matemática para o 4.º Ano do Curso de
Ensino da Física do ISCED - HUÍLA. Angola.
Pacheco, S, (2011). Transformada de Laplace: Algumas aplicações. Monografia
submetida à Universidade Federal de Santa Catarina para obtenção do grau
de Especialista em Matemática.
Rezende, B, (2013). Notas de Aula do Cálculo III - Definição e cálculo da
transformada de Laplace. Parte 1.
Silva, J, (2013). Notas de Aula: A Transformada de Laplace.
Sodré, U, (2013). Transformadas de Laplace. Notas de aulas para Computação,
Engenharia Eléctrica e Engenharia Civil - material compilado no dia 6 de
Maio de 2003.
Tonidandel, V & Araújo, A, (2012). Transformada de Laplace: uma obra de
engenharia
Young & Fridman. (2008). Física III. Electromagnetismo. 12.ª Edição.
Este artigo está licenciado sob a licença: Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0
International License. Ao submeter o manuscrito o autor está ciente de que os direitos de autor
passam para a Revista Científica do ISCED-Huíla.
Recebido em 05 de Agosto de 2020
Aceite em 07 de Outubro de 2021