Revista Científica do ISCED - Huíla, Lubango, v. 2, n.2, p. 57-72, Jul./ Dez., 2021.
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ARTIGO
Impacto da Extinção da Monodocência e a Reimplementação da
Pluridocência na Quinta e Sexta Classes no Município de Chicomba
Impact of the Extinction of Monodocency and the Reimplementation of Pluridocency
in the Fifth and Sixth Classes in Chicomba Municipality
João Cambanje
1
Instituto Superior Politécnico Evangélico do Lubango
joaocambange82@gmail.com
António Domingos Kalenga
2
Instituto Superior Politécnico Evangélico do Lubango
antoniodomingoskalenga@gmail.com
Resumo
O presente artigo reflecte a descrição da análise do estudo sobre o impacto da extinção da
monodocência e a reimplementação da pluridocência na e Classes no Ensino Primário. A
metodologia apresentada engloba o estudo qualitativo e quantitativo, os métodos histórico-
comparativo e estatístico. Como instrumento de colecta de dados, utilizou-se inquérito por entrevista
e por questionário. Participaram 15 Professores, dos quais 7 com a experiência mono-pluridocência
e 8 com experiência em monodocência, 3 Chefes das secções de Educação e Ensino, Tecnologia e
Inovação, Inspecção Escolar e 1 Coordenador Municipal das Zonas de Influência Pedagógica (ZIP).
Os dados foram analisados e apresentados através da estatística descritiva, em tabelas, gráficos e
evidências empíricas. As conclusões do estudo apresentam-se como pressupostos objectivos da
relação pluridocência e, a ser um facto, a sua extinção condiciona melhoria da qualidade de ensino
dos alunos da 5ª e 6ª Classes nas escolas da ZIP nº 77, no município de Chicomba.
Palavras-Chave: Ensino-aprendizagem, Monodocência, Reforma educativa.
Abstract
This article focuses on the extinction of one-teacher based instruction and the inclusion of multi-
teachers’ instruction in grades 5 and 6 at the primary level. The methodology adopted consisted of
qualitative and quantitative approaches, historical comparative methods and statistical procedures. A
questionnaire and interview were the research tools used. The participants were 15 teachers, 7 of
whom have experience with both one-teacher and multi-teachers’ instruction and 8 with only the
experience one-teacher instruction. 3 heads of the education, science and technology municipal
boards and 1 municipal coordinator of a Zone of Pedagogical Influence (ZPI) were also inquired.
The data were analyzed and presented by means of descriptive statistics in tables, graphs and
empirical evidence. The conclusion of the study is that the absence of multi-teachers’ instruction in
grades 5 and 6 of the ZPI 77 at Chicomba municipality jeopardize greatly the quality of teaching and
learning.
Keywords: Teaching and learning, One-teacher instruction, Educational reform.
Introdução
1
Mestre em Didáctica de Ensino de Língua Francesa e Engenharia de Formação
2
Licenciado em Ensino da História
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O presente artigo procura evidências sobre as reformas educativas em Angola, mais
especificamente o impacto sobre a extinção da monodocência e a reimplementação da
pluridocência na e classes do ensino primário para melhoria da qualidade de ensino e
aprendizagem. Estudo realizado na Zona de Influência Pedagógica (ZIP) 77, no município
de Chicomba.
Após a independência angolana, proclamada a 11 de Novembro de 1975‚ o país
entrou num colapso de uma guerra fratricida‚ que envolveu forças nacionalistas opostas
(angolanas) até Fevereiro de 2002.
A partir desse período‚ medidas de vária ordem foram tomadas no país e a educação,
não fugindo à responsabilidade‚ revisou o sistema educativo vigente desde 1978‚ que
culminou com adopção de um outro sistema educativo‚ talvez o mais complexo‚ o menos
produtivo-qualitativo‚ se olharmos pela sua matriz, e para os moldes de aplicabilidade e os
seus resultados.
A adopção deste sistema educativo foi justificada na altura pelo então Ministro da
Educação‚ Mpinda Simão, em 2004, citado numa entrevista da Agência Lusa, tendo dito o
seguinte: a reforma educativa visa melhorar a qualidade do ensino através de uma estrutura
educativa forte e de um novo projecto educativo‚ baseado em projectos curriculares
recentes”.
Durante a nossa investigação, em sede de matéria referenciada, o trabalho de
dissertação de Caare (2014, citado em Ernesto, 2016, p. 4) apresenta a seguinte cronologia
sobre as reformas educativas ocorridas em Angola‚ tal como descrito abaixo:
Primeira Reforma Educativa 1845‚ foi oficializada pelo governo português;
Segunda Reforma Educativa 1906‚ ocorreu durante a ocupação efectiva dos
territórios ultramarinos;
Terceira Reforma Educativa 1927‚ foi efectivada após a primeira República
portuguesa;
Quarta Reforma Educativa 1933‚ aconteceu durante nova constituição da República
portuguesa;
Quinta Reforma Educativa 1967‚ Institucionalizada pelo Decreto-lei de 9 de Julho
de 1964;
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Sexta Reforma Educativa 1978‚ Institucionalizada pela revisão constitucional
portuguesa;
Sétima Reforma Educativa 2004‚ Lei 13/01 de 31 de Dezembro‚ Lei da
implementação da Monodocência na 5ª e 6ª classes;
Em referência, a cronologia apresentada em 7 reformas educativas está dividida em
duas fases distintas‚ a fase do período colonial que vai da primeira reforma educativa até à
reforma. Nesse período, o povo angolano estava subjugado a todas as formas de maus-
tratos (des) humanos possíveis e impossíveis. Nesse sentido‚ a educação tinha um carácter
limitado‚ intencional e dirigido, sobretudo, para o colono e famílias abastadas‚ para além da
sua escassez.
As duas últimas surgiram no período pós-independência com vista a implementar um
modelo nacional‚ autónomo‚ obrigatório e gratuito para todos filhos da terra‚ embora se
colocasse a questão da insuficiência de quadros e escolas para o ensino.
A reforma educativa de 2004‚ promulgada pela Lei 13/01 de 31 de Dezembro‚
introduziu no sistema educativo angolano‚ a monodocência que uniu o ensino primário em
seis (6) classes (1ª a 6ª). Desde a implementação em 2004‚ surgiram outras Leis de Base do
Sistema Educativo Angolano criadas e publicadas para assegurar a sua aplicação. Tendo em
conta o contexto e a fraca concepção‚ insuficiência de condições e outros condicionantes,
foi revogada pela Lei 17/16 de 7 de Outubro.
Para suprir lacunas das disposições da Lei 17/16 de 7 de Outubro‚ foi aprovada a Lei
32/20 de 12 de Agosto‚ que altera algumas disposições da referida Lei (17/16 de 7 de
Outubro) onde entre outras alterações‚ destaca-se a extinção da monodocência na e
classes.
A monodocência, na e classes, resultou no desconforto dos professores em
relação à superlotação das salas de aulas, criou imensas dificuldades em leccionarem todas
as disciplinas curriculares‚ muitas delas sem o mínimo domínio pedagógico e científico,
tendo relegado os professores à adaptabilidade disciplinar o que causou um gritante impacto
negativo na aprendizagem.
A extinção da monodocência permite ao professor leccionar apenas uma disciplina
curricular da sua área de formação ou com alguma experiência e prática comprovada. Este
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regime introduzido há 16 anos, no quadro da Reforma Educativa, foi extinto pelo governo e
a partir de 2021/2022‚ as disciplinas deixarão de ser ministradas por um único professor.
A reforma educativa em Angola tem merecido várias abordagens por vários
pesquisadores do âmbito científico‚ com destaque para as pesquisas de: Nguluve, (2010);
Menezes, (2010); Isaías, (2013); Michingi, (2013); Mayembe, (2016); Alfredo, (2020), onde
a tónica recai sobre as influências e limitações da sua implementação num país com
insuficiências de infra-estruturas escolares. A extinção da monodocência e reimplementação
da pluridocência sem uma pesquisa sustentada continua a ser uma matéria embrionária e
adiada sempre o seu desenvolvimento fetal, embora tenha o Diploma Legislativo (Lei 32/20
de 12 de Agosto).
A monodocência na e 6ª classe constituiu imensas dificuldades para os professores
que ensinavam fora da sua vontade‚ apresentando limitações formativas em todas as
disciplinas curriculares. A sua extinção renova abordagem curricular‚ pedagógica,
metodológica e educativa.
Em 2024‚ 20 anos após a sua implementação, nota-se um fraco debate e divulgação
sobre o assunto. uma curiosidade e interesse maior em saber o que de novo irá trazer para
o ensino e aprendizagem dos alunos da 5ª e 6ª classes.
Reforma educativa
Segundo Camacho e Tavares (1996), as palavras “reforma” e “educativa” recebem
vários significados e cito: reforma: é compreendida como o acto ou efeito de reformar ou
seja uma organização diferente para melhor; educativa: que se refere à educação ou ao acto
de educar, isto é que educa.
Fazendo recurso aos conceitos apresentados‚ a nossa opinião reside no seguinte: a
reforma educativa é um processo de mudança e transformação de paradigma no sistema de
ensino para uma melhor organização curricular‚ estrutural, pedagógica e enquadramento
contextual social.
Lima e Afonso (2002), Popkewitz (1997), Pacheco (2000), Vidal e Ascolani (2009),
citados por Alfredo (2020), consideram que as reformas educativas justificam a introdução
de transformações em diversos âmbitos, com o objetivo de melhorar os sistemas educativos.
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As transformações referidas pelos autores‚ para que ocorram de facto e alcancem
resultados desejados‚ devem ser relacionadas ao percurso histórico da educação, no país,
apoiando-se em estudos de vários teóricos sobre reformas educativas. Além disso, devem,
também, responder às seguintes perguntas 1) Quantos sistemas educativos Angola criou?
2) Qual foi nível de sucesso e fracasso? 3) Quais foram as razões da sua extinção? 4) O que
de melhor traz o actual modelo? 5) Quais são as condições prévias (administrativas‚
estruturais‚ materiais e curriculares)? 6) Quais são os níveis de preparação em conteúdos
curriculares e métodos pedagógicos? 7) Que nível de motivação financeira foi transmitido
aos professores?
Essas e outras questões não mencionadas‚ devem merecer um profundo estudo por
lhe conferir o direito e competência‚ de maneira a evitar que seja mais um que ficará na
expectativa de um sonho moribundo.
Nguluve (2010), citado em Michingi, (2013) considera que o actual modelo
assegurado na altura pela Lei 13/01‚ de 31 de Dezembro‚ hoje revogada pela Lei 17/16‚ de
7 de Outubro e a Lei 32/20de 12 de Agosto‚ que altera algumas disposições‚ partiu da
necessidade de mudança do sistema educativo que Angola herdou do Estado colonial
classificado como ineficiente‚ limitado e culturalmente voltado para a cultura portuguesa.
Monodocência
Etimologicamente a palavra “monodocência” ou “monodocente” é de origem grega
“mono”, significando “um” e do verbo latino “docere” que corresponde a “ensinar”. A
junção de mono e docer resulta num acto de um professor a ensinar todas as disciplinas
curriculares para um grupo de alunos da mesma classe e turma.
Adopção da monodocência em Angola na e classes não foi bem sucedida.
Olhando para a aprendizagem qualitativa e significativa‚ vários factores influenciaram o seu
fracasso‚ desde a forma‚ concepção‚ percepção‚ molde e matriz. Esses pressupostos não
foram bem ensaiados, faltou a preparação do corpo docente em matéria de métodos
pedagógicos específicos em conteúdos das disciplinas curriculares para lidar com uma nova
realidade e mais complexa.
Ensino-aprendizagem
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Parafraseando Kubo & Botome (s.d.), ensino-aprendizagem refere-se ao que
acontece com o aluno na sala de aulas. Da análise feita à citação, o ensino-aprendizagem é
um sistema de troca de informações formais entre o professor e os alunos, de forma objectiva
apresentando ao aluno o que é necessário aprender. O ensino-aprendizagem é um binómio
voltado para dois processos ou elementos dependentes e inseparáveis.
A realidade actual da prática educativa das nossas escolas primárias apresenta
problemas da cultura de memorização dos conteúdos curriculares, pouco interesse com a
habilidade e competências reflexivas críticas e autocríticas dos conhecimentos que
aprendem.
Todo o processo de ensino e aprendizagem está centrado no professor. No entanto,
é importante perceber que este processo deve ser construído numa acção conjunta e
interactiva entre quem ensina (professor) e quem aprende (aluno) para melhor produtividade
dos resultados.
Objectivos concisos sobre a implementação da monodocência
A implementação da monodocência nas 5ª e classes da e a referida integração no
ensino primário decorreu da lei 13/01 de 31 de Dezembro, revogada pela lei 17/16 de 7 de
Outubro cujos objectivos de acordo com o relatório do INIDE (2009) citado em Mayembe
(2016), incidiam sobre: a) reduzir as assimetrias sociais e territoriais no acesso ao sistema
de educação e ensino; b) transitar do professor especialista de disciplina para um professor
membro de uma equipa responsável pela gestão descentralizada do currículo; c) perspectivar
a expansão da rede escolar; d) melhoria da qualidade de ensino-aprendizagem; e) reforço da
eficácia do sistema da educação; f) equidade do sistema de educação.
Processo transitório (da monodocência à pluridocência)
O processo transitório deste vigente modelo educativo adoptado pelo governo
angolano vai permitir melhor articulação curricular, quer a nível macro, meso ou micro, vai
ainda permitir melhor entrosamento entre o professor e os alunos, o aprofundamento do
conteúdo programático e não só, mais abertura de concursos públicos para o ingresso no
sector da educação e, acima de tudo, proporcionar qualidade de ensino e aprendizagem dos
conteúdos curriculares escolares.
Do fracasso à extinção da monodocência
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Embora o relatório do INIDE(2009) tenha afirmado que adopção da reforma
educativa antecedeu a auscultação de várias franjas da sociedade, não foi um projecto bem
pensado e articulado.
A actividade docente é um processo complexo, de interacção entre actores (alunos)
e gestores (professores) através do processo de ensino-aprendizagem, o seu exercício requer
formação, estudo, investigação (actualização permanente) para melhor percepção da sua
aplicação.
A reforma educativa, que teve a sua implementação através de um diploma legal (da
lei 13/01 de 31 de Dezembro), apresentou mudanças significativas. O currículo do Ensino
Primário ficou ampliado, incorporando a e a classes e, de forma materialista, a classe
da iniciação que passou a ser ensinada nas escolas primárias e por professores do ensino
primário. Sendo assim, a monodocência deixou de ser apenas da à 4ª classes e estendeu-
se à e classes, onde um professor mesmo não tendo uma formação com técnicas de
integração das diferentes disciplinas curriculares e muitas das vezes sem o mínimo domínio
destas, era obrigado a leccionar todas as disciplinas curriculares da 5ª à 6ª classes do extinto
II Nível, disciplinas estas que estavam sob responsabilidade de especialistas de diversas
áreas.
As limitações e o fracasso da monodocência
O nível de fracasso começa subjectivamente quando os profissionais da educação
compreenderam o incumprimento de condições pontuais para lidar com um sistema novo,
com um grau de percepção baixo, sem recursos didácticos contextuais disponíveis tal como
afirmou Mayembe (2016), os professores manifestaram as suas insatisfações em três
dimensões:
1. Dimensão social, baixo prestígio e baixo salário;
2. Dimensão institucional, currículo não adequado, falta de tempo para
interacção com o novo sistema;
3. Dimensão pessoal, multiplicidade de papéis, falta de descanso suficiente.
A gritante reclamação, tanto dos professores, alunos quanto da sociedade em geral
sobre os desníveis de aprendizagem, contribuiu para extinção da monodocência, pois
registou-se uma regressão na aprendizagem dos alunos. De acordo a extinta lei 13/01 de 31
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de Dezembro, a materialização da monodocência na e classes deveria ser antecedida
pela criação de condições primárias tais como: a elaboração de novos planos e programas
curriculares, formação do pessoal docente e gestores escolares, aquisição de meios de ensino
e de equipamentos escolares, construção e reabilitação de escolas.
Sempre que se adoptam novos modelos sistemáticos de educação e ensino, é
imperativo antes passar por um processo preparatório reformista, que consiste na criação de
condições humanas, materiais, curriculares, estruturais e financeiras, satisfatórias para que
se evitem maiores constrangimentos objectivos. Pelo que, se torna necessário a construção
e reabilitação de escolas de formação de professores para materialização da monodocência.
Pois é difícil um único professor leccionar todas as disciplinas curriculares da ou classes
sem condições adequadas.
Metodologia
Para satisfazer os objectivos traçados no artigo, optamos pela natureza qualitativa e
quantitativa, visando descrever factores relacionados com os fenómenos e factos observados,
associando-os a contextos menos explorados. A investigação mista refere-se a uma
combinação de instrumentos e técnicas: inquérito por questionário associando-se à técnica
de inquérito por entrevista e os métodos histórico-comparativo e estatístico
Utilizámos o método histórico-comparativo, para compreender, comparar e
descrever a evolução histórica do processo da educação no ensino e aprendizagem dos alunos
da e classes da ZIP 77, sobre a extinção da monodocência e reimplementação da
pluridocência.
Para a colecta de dados, utilizámos o inquérito por questionário de matriz quantitativa
e o inquérito por entrevista de matriz qualitativa, visando descrever factores relacionados
aos fenómenos e factos observados, associando-se a contextos menos explorados. O
inquérito por questionário é uma técnica que permite a recolha de informações directamente
de um interveniente na investigação através de um conjunto de questões bem organizadas.
Utilizámo-lo para fazer o levantamento das respostas dos informantes, com vista a medir o
grau de conhecimento que o grupo possui sobre o assunto. o inquérito por entrevista, é
um modelo para colectar dados não documentados sobre um determinado assunto. É uma
técnica de interacção social, uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca
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obter dados e outra apresenta-se como fonte de informação. A razão da sua utilização mede-
se no sentido de diversificar opiniões acerca do estudo.
Descrição da Zona de Influência Pedagógica número setenta e sete
A Direcção Municipal da Educação de Chicomba comporta vinte e uma (21) ZIP,
das quais uma integrante no Projecto de Aprendizagem para todos (PAT), um modelo piloto
nacional com vista a restabelecer a qualidade de ensino e aprendizagem. A ZIP 77 está
constituída por nove (9) escolas, destas, seis (6) têm turmas da e classes do Ensino
Primário onde dirigimos o nosso estudo, nomeadamente: Escola Primária 880 - 17 de
Setembro, Escola Primária 155, Escola Primária 1644 - Chivinda, Escola Primária
664 Wayola, a Escola 878 - Vingueve e o Complexo Escolar 649- Pe. André Krist,
Missão Católica, cujo critério de selecção foi o intencional censo, ou seja, todas as escolas
com turmas da 5ª e 6ª classes regulares.
Análise dos dados e apresentação dos resultados
Para o desenvolvimento da pesquisa, contámos com a participação de um universo
de vinte e quatro (24) participantes, dos quais 15 são professores, equivalendo 62,5%, cinco
(5) são Subdirectores Pedagógicos das seis (6) escolas, que no presente ano lectivo
matricularam alunos nas 5ª e 6ª classes no regime regular, equivalendo a 20,83% e três (3)
Chefes das Secções: um de Inspecção Escolar, um da Educação e Ensino, e um da Ciência,
Tecnologia e Inovação, equivalendo a 12,5 %; um (1) Coordenador Municipal da Supervisão
Pedagógica e da ZIP nº77, equivalendo a 4,17%, totalizando 100% do universo. Em termos
de escolaridade dos participantes, esta varia de licenciatura, formação média de professores
como especialidade e formação média geral. No presente estudo, a amostra coincide com a
população.
Os dados foram analisados e apresentados, utilizando estatística descritiva, em
tabelas, gráficos e evidências empíricas. Apresentamos em seguida as questões colocadas
aos participantes organizadas em três grupos: ao primeiro grupo (Professores), foi aplicado
o inquérito por questionário, ao segundo grupo (Subdirectores Pedagógicos) e ao terceiro
grupo (Chefes de Secção e Coordenador Municipal) foi aplicado o inquérito por entrevista.
Grupo - Resultados obtidos através do inquérito por questionário dirigido aos
Professores das escolas afectas às classes da 5ª e regulares da ZIP 77, no município
de Chicomba.
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I Questão - Na sua opinião, a extinção da monodocência na e classes tem um
impacto para melhoria da qualidade de ensino-aprendizagem dos alunos das escolas da ZIP
nº 77 em Chicomba? (Optando por sim ou não).
Fonte 1: Elaboração do autor.
De acordo com o gráfico, 11 professores, 73%, optaram por sim e 4, 27,%, optaram
por não. Esta análise ajuda-nos a compreender que a extinção da monodocência terá um
impacto na qualidade do processo de ensino-aprendizagem dos alunos das escolas da ZIP nº
77, no município de Chicomba.
II Questão- Acredita que as razões abaixo motivaram o Ministério da Educação de
Angola a extinguir a Monodocência na 5ª e 6ª classes do ensino primário? (Outras).
Opções
Nº de respostas
Percentagem
Fraca adaptação dos professores
2
13,33%
Fraco rendimento escolar dos alunos
11
73,3%
Falta de formação específica para trabalhar com a
monodocência na 5ª e 6ª classes.
2
13,33%
Total
15
100%
Fonte 2: Elaboração do autor.
De acordo com os dados apresentados na tabela que reflecte a questão (2), 13,33%
dos professores selecionaram a opção “fraca adaptação dos professores”, 73,3%
selecionaram a opção “fraco rendimento escolar” e igualmente 13,33% selecionaram a
0%
0%
100%
sim não sem resposta
0% 73% 27% 0%
Gráfico 1 - Opinão dos Professores sobre o Impacto da extinção da Monodocência.
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opção “falta de formação específica para trabalhar com a monodocência na 5ª e 6ª classes”.
Analisadas as respostas dos professores, é certo afirmar que as razões fundamentais da
extinção da monodocência é o fraco rendimento escolar dos alunos.
III Questão - Conhece a lei e o artigo da extinção da monodocência na e
classes?
Fonte 3: Elaboração do autor.
Dos professores inquiridos, 33% não conhecem a lei e o artigo que extinguiu a
monodocência da 5ª e 6ª classes. A extinção da monodocência decorreu do artigo 27º da lei
32/20 de 12 de Agosto.
IV Questão - Que avaliação faz sobre a extinção da monodocência nas e
classes?
Fonte 4: Elaboração do autor.
Sobre os dados do gráfico 3, os professores avaliaram positivamente a extinção da
monodocência, sendo 27%, optaram pela opção “Bom” e outros 73% pela “Muito bom”.
0
1
Mau Bom Muito Bom Sem
resposta
027% 73%
0
Gráfico 3 - Avaliação pelos Professores sobre a extinção da monodocência nas 5ª e
6ª classes.
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V Questão Na sua opinião, quais serão os benefícios da extinção da monodocência
e a reimplementação da pluridocência?
Para a questão 5, as respostas foram descritivas, doze (12) professores equivalendo
a 80% foram unânimes ao afirmarem que a extinção da monodocência e reimplementação
da pluridocência vai permitir uma maior qualidade de ensino-aprendizagem e diminuição da
carga horária, pois o professor terá a responsabilidade de leccionar apenas uma ou duas
disciplinas, de acordo com a sua área de formação. Dois (2) professores, equivalendo a
13,3% responderam que com a extinção da monodocência não haverá benefícios, pois a
monodocência proporciona uma maior familiaridade entre o professor e os alunos, onde o
professor ganha maior experiência leccionando todas as disciplinas curriculares da e
classes. Um (1) professor, equivalendo a 6,6% absteve-se.
Grupo - Resultados obtidos na entrevista dirigida aos Subdirectores
Pedagógicos das escolas afectas às classes da 5ª e 6ª regulares.
Participaram desta entrevista cinco (5) Subdirectores Pedagógicos e para melhor
identificação atribuímos a simbologia SP1, 2, 3, 4 e 5.
I Questão - Que experiência tem sobre a monodocência?
Os SP 1, 2, 3 e 4 (80%), responderam em unanimidade, que já leccionaramnas 5ª e
classes como professores e a experiência obtida é negativa. Enquanto o SP 5, equivalendo
a 20%, afirmou que nunca leccionou nas respectivas classes, mas, ainda assim, tem uma
experiência negativa, fruto da observação do baixo nível de aprendizagem dos alunos destas
classes.
II Questão - Que avaliação faz sobre a extinção da monodocência e a
reimplementação da pluridocência?
SP1 e 2, equivalendo a 40%. Para estes, a avaliação é positiva. Já os SP3, 4 e 5,
equivalendo a 60% abstiveram-se.
III Questão - Quais julga ser as expectativas dos professores e alunos sobre a
extinção da monodocência e a reimplementação da pluridocência?
SP1 e 2, equivalendo a 40% abstiveram-se e os SP3, 4 e 5, equivalendo a 60% por
unanimidade responderam que a expectativa da extinção da monodocência e a
reimplementação da pluridocência vão trazer qualidade no ensino e redução da carga horária.
IV Questão - Na sua opinião, os professores corresponderam às expectativas do
Governo sobre a implementação da monodocência? Se não, o que faltou?
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Os SP1 e 2, equivalendo a 40% abstiveram-se e os SP 3, 4 e 5, equivalendo a 60%
em comunhão de ideias afirmaram que os professores não corresponderam às expectativas
do Governo sobre a implementação da monodocência. Faltou a criação de condições como
formação didáctica para leccionarem as múltiplas disciplinas antes da sua implementação.
V- Questão - Quais as razões da extinção da monodocência?
Os SP1 e 2, equivalendo a 40% abstiveram-se e os SP3,4 e 5, equivalendo a 60% em
comunhão de opiniões afirmaram que as razões incidem sobre a má qualidade do processo
de ensino-aprendizagem, o fraco aproveitamento dos alunos, as constantes reclamações dos
professores e a falta de competências dos professores em algumas disciplinas.
VI Questão - Tem alguma opinião adicional para melhoria do estudo?
Os SP1 e 2, equivalendo a 40% abstiveram-se e os SP3, 4 e 5, equivalendo a 60% em
comunhão de pensamentos afirmaram que é da responsabilidade da Direcção Municipal da
Educação a efectivação massiva e imediata da reimplementação da pluridocência e a criação
das condições humanas e materiais.
VII Questão - Quais são as leis da implementação e extinção da monodocência?
Todos, equivalendo a 100%, não conhecem a lei da extinção da monodocência.
Grupo - Resultados obtidos da entrevista dirigida aos Chefes das secções de
inspecção escolar; Educação e Ensino; Ciência, Tecnologia e Inovação e ao
Coordenador Municipal da Supervisão pedagógica e ZIP.
Participaram desta entrevista quatro (4) chefes identificados com simbologia Chefes
de Secção (CS) 1, 2, 3 e 4.
I Questão - Que experiência tem sobre a monodocência?
O CS1, 2, 3 e 4, equivalendo a 100% responderam por unanimidade que a
monodocência não teve sucesso.
II Questão - Que avaliação faz sobre a extinção da monodocência e a
reimplementação da pluridocência?
O CS1, 2, 3 e 4, equivalendo a 100%, fazem uma avaliação positiva, pois esta irá
melhorara qualidade de ensino-aprendizagem e ajudará os docentes a leccionarem de acordo
com a sua área do saber.
III Questão - Quais julga ser as expectativas dos professores e alunos sobre a
extinção da monodocência e a reimplementação da pluridocência?
O CS1, equivalendo a 25%, absteve-se. E o CS2, equivalendo a 25%, afirmou que a
expectativa é boa, pois ajudará a explorar melhor os alunos por parte de vários professores
Revista Científica do ISCED - Huíla, Lubango, v. 2, n.2, p. 57-72, Jul./ Dez., 2021.
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de diferentes especialidades. O CS3, equivalendo a 25%, julga ser bom, pois os professores
não serão sacrificados e o CS4, equivalendo a 25%, respondeu que a extinção da
monodocência e a reimplementação da pluridocência vai proporcionar eficiência na
orientação e melhor aquisição de conhecimentos dos alunos.
IV Questão - Na sua opinião, os professores corresponderam às expectativas do
Governo sobre a implementação da monodocência? Se não, o que faltou?
Os CS1, 2, 3 e 4, equivalendo a 100%, em conformidade de opinião, responderam
que os professores não corresponderam às expectativas do Governo sobre a implementação
da monodocência. Faltou um estudo profundo antes da sua adopção e aplicação, condições
materiais, humanas e financeiras.
V Questão - Quais as razões da extinção da monodocência?
O CS1, equivalendo a 25%, considera que a razão da extinção da monodocência se
subscreve nas inúmeras desvantagens apresentadas ao longo da sua vigência; o CS2,
equivalendo a 25%, afirmou que é a má qualidade de ensino e aprendizagem; Enquanto que
o CS3, equivalendo a 25%, apontou a sobrecarga e a falta de competências para leccionar as
disciplinas do ramo das ciências exactas e sociais e, para o CS4, equivalendo 25%, referiu a
obrigação de o professor leccionar todas as disciplinas curriculares mesmo não tendo
domínio de algumas.
VI Questão - Tem alguma opinião adicional para melhoria do estudo?
Os CS1, 2, 3 e 4, equivalendo a 100%, em unanimidade afirmaram a necessidade de
se criar condições humanas, materiais de trabalho e capacitar continuamente os professores.
VII Questão - Quais são as leis da implementação e extinção da monodocência?
Os CS1, 2, e 3, equivalendo a 75%, não conhecem a lei da implementação e extinção
da monodocência. O CS4, equivalendo a 25%, apontou que a lei da implementação é a
13/01, de 31 de Dezembro e da extinção é a nº 20/32, de 12 de Agosto.
VIII Questão - Quais são as razões da não implementação da pluridocência sabendo
que a extinção da monodocência vigora a um ano?
Os CS1, 2 e 3, equivalendo a 75%, apontaram a falta de professores e o CS4,
equivalendo a 25%, afirmou a falta de aplicação das leis nas instituições escolares.
IX Questão - A ser implementada a referida lei, que medidas serão adoptadas para o
enquadramento dos professores à nova realidade? Será de acordo com a área de formação
ou através da experiência acumulada?
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Os CS1, 2 e 3, equivalendo a 75%, apontaram o enquadramento dos professores de
acordo com a área de formação ou através da experiência e CS4, equivalendo a 25%,
absteve-se.
Conclusão
A pesquisa permitiu concluir que a extinção da monodocência e a reimplementação
da pluridocência chega num contexto de gritantes reclamações tanto dos professores quanto
da sociedade em geral, sobre os desníveis ea regressão na aprendizagem qualitativa dos
alunos. A sua adopção não obedeceu ao princípio da razão contextual e à limitação infra-
estrutural em que a Educação estava mergulhada, à formação de professores pilotos,
multifacetados, multidisciplinares e multididácticos e à ausência da motivação financeira
conjugada.
Portanto, a sua extinção é um ganho que irá proporcionar qualidade de ensino-
aprendizagem tanto para o professor que ensina, quanto para o aluno que aprende. Irá trazer,
igualmente, uma qualidade de ensino-aprendizagem, onde o professor terá o prazer de
mostrar qualidade de ensino na disciplina da sua formação ou da sua vontade vocacionada,
para além da redução da carga horária.
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License. Ao submeter o manuscrito o autor está ciente de que os direitos de autor passam para a Revista
Científica do ISCED-Huíla.
Recebido em 22 de Novembro de 2022
Aceite em 09 de Outubro de 2024