Revista Científica do ISCED Huíla, Lubango, v. 2, n.1, p. 29-54, Jan./ Jun., 2021.
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Importância da Aula de Campo na Aprendizagem Sobre
Biodiversidade Botânica
The Importance of Field Classes in Learning About Botanical Biodiversity
Victor Alfredo Cahala
1
Escola de Magistério Secundário Nº 135 “Cdte Liberdade” Lubango, Angola
Instituto Superior de Ciências da Educação da Huíla, Angola
victor.cahala@isced-huila.ed.ao
Betina Lopes
2
Universidade de Aveiro , Portugal
blopes@ua.pt
Francisco Maiato Pedro Gonçalves
3
Instituto Superior de Ciências da Eduçcação da Huíla, Angola
Universidade Mandume Ya Ndemufayo
francisco.maiato@umn.ed.ao
Resumo
No presente artigo, apresentam-se alguns dos resultados de um projecto investigativo de
mestrado intitulado “Concepção e implementação de uma actividade prática focada na
diversidade botânica local envolvendo alunos da 7.ª classe do Colégio n.º 457
Comandante Gika - Chibia: que efeitos na qualidade do ensino e da aprendizagem em
Biologia?” Este estudo envolveu 136 alunos de quatro (4) turmas da 7.ª classe, durante o
ano lectivo de 2019. O objectivo foi analisar os efeitos da actividade prática de campo na
melhoria das aprendizagens dos alunos da 7.ª classe envolvidos. Durante a actividade de
campo, que teve uma duração de aproximadamente 2 horas, os alunos tiveram contacto
com plantas, observando e investigando o local com base numa planificação específica
elaborada para o efeito, que possibilitou os registos ilustrativos de alguns dos espécimes
vegetais observados. Em contexto de aula, num momento pós-campo, os alunos
elaboraram ainda um relatório sobre a actividade prática em causa. A análise dos dados
recolhidos, nomeadamente através de inquéritos por questionário aos alunos e observação
participante das actividades desenvolvidas, apontam para um efeito positivo no gosto
pela disciplina de Biologia e na motivação para o estudo da botânica e noção de
diversidade de plantas.
Palavras-chave: Aulas de campo, Ensino da Biologia, Actividade Prática
1
Mestre, Professor Assistente Colaborador. Departamento de Ciências Exatas e Naturais
2
Doutor, Professora Auxiliar, Departamento de Educação e Psicologia. Centro de Investigação de
Didática e Tecnologia Educativa na Formação de Formadores (CIDTFF)
3
Doutor. Investigador Auxiliar. Departamento de Ciências Exatas e Naturais. Herbário do Lubango
Victor Alfredo Cahala, Betina Lopes & Francisco Maiato
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Abstract
This article presents some of the findings of a Master's research project entitled "Design
and implementation of a practical activity focused on local botanical diversity involving
Grade 7 students of College No. 457 Commander Gika - Chibia: what effects on the
quality of teaching and learning in Biology?". This study involved 136 students from 4
classes of Grade 7 during the 2019 academic year. The aim was to analyse the effects of the
practical field activity on improving the learning of the Grade 7 students involved. During
the field activity, which lasted approximately 2 hours, the students had contact with
plants, observing and investigating the sfield based on a specific planning prepared for
this purpose. Students made illustrative records of some of the plant specimens they
observed. In a class context, in a post-field moment, the students also prepared a report
about the practical activity in question. The analysis of the collected data, namely through
a questionnaire survey to the students and participant observation of the developed
activities, point to a positive effect on the motivation towards the discipline of biology, in
particular for the study of botany and the notion of plant diversity.
Keywords: Field classes, Teaching of Biology, Practical Activity
Introdução
As constantes mudanças que as sociedades têm vindo a atravessar ao longo
dos tempos tornam necessário ajustar as metodologias educativas aos novos
contextos, privilegiando-se a articulação entre o que o aluno aprende em sala de
aula e aquilo que ele vivencia no seu quotidiano. Muito se tem falado sobre
reformas educativas, curriculares e de inovação da prática pedagógica,
nomeadamente no âmbito da Biologia, mas na realidade iniciativas de inovação
concreta em contexto escolar ainda são muito escassas (Lopes, Costa & Matias,
2016).
Os poucos estudos que se encontram publicados nesta área, e
especificamente para o contexto angolano, apontam para a ausência de aulas
práticas, com ênfase à Botânica, nos anos anteriores e a pouca frequência destas no
ensino superior (Robledo et al. 2015), apesar do efeito positivo que esta pode
provocar na qualidade de aprendizagem dos alunos.
As metodologias educativas a serem aplicadas devem fazer uma relação
entre o que se aprende em sala de aula e aquilo que o aluno vivencia no seu
quotidiano (Almeida & Hames, 2012). As aulas em ambiente de sala de aula,
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geralmente, têm apresentado inúmeras dificuldades no processo de ensino e
aprendizagem. Entre os vários factores que concorrem para este problema,
encontra-se também, por um lado, a ausência de actividades práticas (Krasilchik,
2004). Por outro lado, o despreparo, a falta de formação científica e didáctica dos
professores para desenvolver um processo ensino-aprendizagem de qualidade e
adequado à realidade de hoje, também constitui um desafio. Ensinar ciências, e em
particular Biologia, em espaços naturais, fora do ambiente de sala de aulas,
potencia nos alunos o acto de pensar (Almeida & Hames (2012).
As aulas de campo podem ajudar no processo de interacção e no
desenvolvimento de conceitos científicos, além de permitir que os alunos
aprendam como abordar objectivamente o seu mundo e como desenvolver
soluções para problemas complexos. Desta forma, admite-se que a implementação
de actividades práticas é de extrema importância na promoção da qualidade das
aprendizagens dos alunos, tal como é intencionado pela agenda 2030 da UNESCO
(2016), que pretende uma educação de qualidade, equitativa e inclusiva para todos
até 2030 (4.º objectivo).
No alinhamento do exposto, apresenta-se neste artigo um estudo empírico
inédito que teve como objectivo avaliar os efeitos de uma actividade prática de
campo na melhoria das aprendizagens de alunos da 7.ª classe, num município
onde ainda carece de actividades de campo na disciplina de Biologia, apesar do
enorme potencial que a flora do município apresenta (Gonçalves, 2009).
Recursos botânicos e o equilíbrio da biosfera
Os recursos botânicos jogam um papel fundamental no equilíbrio da
biosfera (Almeida & Hames, 2012). Fornecem vários ‘serviços’ ao ecossistema,
que servem de abrigo e/ou fonte de alimento para outros seres vivos. As plantas
são fundamentais para os ciclos de matéria, uma vez que captam energia
luminosa, transformando matéria inorgânica em orgânica.
Para a espécie humana, os recursos botânicos são fonte de lazer, geram
rendimentos para as famílias através da produção de lenha, carvão e madeira, ou
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ainda por serem a fonte primária de alimentos (frutos, folhas e raízes). A província
da Huíla possui um enorme potencial etnobotânico, caracterizada pela enorme
variedade de plantas, muitas das quais são utilizadas para o tratamento de
enfermidades nas várias comunidades rurais e urbanas do país (Gonçalves, 2019).
O conhecimento das plantas e do seu papel na biosfera pode contribuir para
a satisfação de muitas necessidades e também para a mudança de
comportamentos no que respeita à utilização dos recursos, nomeadamente
vegetais.
De acordo com Tchamba e Camongua (2019, p.418), citando Christin et. al. (2017):
A história de Angola é essencialmente marcada pela tradição oral, daí que,
os registos etnobotânicos sejam escassos, porém, existem alguns estudos
mais recentes que demonstram claramente que a prática de utilização de
plantas nativas, naturalizadas e exóticas na cura de doenças e na
alimentação é uma prática muito antiga entre estes povos. Ainda assim, a
elevada falta de registos escritos pode ser compreendida que os povos
passam os seus ensinamentos aos mais novos por meio da oralidade.
Angola, em particular a província da Huíla, possui uma diversidade
biológica muito rica. Mas, essa riqueza natural encontra-se pouco documentada
quando comparada com a de outros países da região (Huntley, Russo & Lages,
2019). Importa referir que o país tem um dos maiores sistemas de biodiversidade
vegetal de África, com cerca de 8500 espécies descritas até hoje (Goyder &
Gonçalves, 2019). Destacando-se, a nível vegetal, algumas espécies como:
Securidaca longipedunculata Fresem (Utata), Englerophytum megalismontanum Sond.
(Matombote), Carissa spinarum L. (Mirangolo), Ficus sur Forssk. (Figo), Uapaca
kirkiana Müll. Arg. (Olombula), Strychnos sp. (Maboque)., Sclerocarya birrea A. Rich
(Ngongo), Adansonia digitata L. (Múcua), Anysophyllea boehmii Engl. (Loengo), entre
outras, utilizadas tanto para alimentação, fabrico de bebidas alcoólicas, quanto
para medicina e até mesmo importantes para o meio ambiente em si.
Perante o exposto, torna-se imperativo consciencializar os alunos de hoje
sobre a riqueza vegetal que os rodeia, no sentido de contribuir para a sua
preservação e documentação futura, sendo certo que muitos destes poderão ser os
estudiosos de amanhã, assumindo posições de liderança na política, na economia
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ou na ciência. E mesmo que não o sejam, preservar a natureza para as gerações
futuras é uma responsabilidade de todos e de todas (Kyle, 2020). Ora, o ensino da
Biologia não deve estar orientado para formar apenas biólogos, isto é, a mesma
não pode focar-se no conhecimento biológico específico, mas deve buscar
ensinar os alunos a serem cidadãos conscientes e pró-activos através do seu
ensino.
A necessidade e a importância de abordar a diversidade biológica nacional
e local (nomeadamente a botânica) com os alunos é, também, reconhecida ao nível
do Ministério da Educação e do INIDE (2019, p. 28):
A contextualização dos programas de ensino é inequivocamente uma
necessidade a ser levada em conta no processo de ensino-
aprendizagem no I ciclo do ensino secundário, e, deve ter em conta as
condições da comunidade escolar no sentido restrito (da escola e dos
que nela trabalham) quer da comunidade envolvente para
promoverem o sucesso, o escolar, mas também educativo, dos
alunos.
Dessa afirmação, depreende-se ainda que os conteúdos a serem ministrados
devem ir ao encontro da realidade do aluno, de modo que o aluno consiga ligar o
que se aprende ao seu quotidiano, possibilitando assim a aprendizagem
significativa.
A importância das actividades práticas na aprendizagem da biodiversidade
botânica
A actividade prática, sob acepção de aula de campo, é uma acção
metodológica que pode ser desenvolvida dentro ou fora do ambiente da sala de
aula e que permite aos alunos manusear objectos e materiais.
Convém referir que uma aula de campo o se refere apenas a matas ou
florestas, mas a qualquer ambiente diferente da sala de aula, podendo inclusive
ser o pátio da escola, as hortas escolares, as ruas do bairro/vila ou os parques; que
são lugares onde os os alunos podem ser motivados a participar activamente das
acções propostas pelo professor (Krasilchik, 2004).
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Essa modalidade de aula revela aos alunos o quanto a ciência está presente
no seu dia-a-dia, levando ao seu conhecimento a realidade de forma palpável, isto
é, o que eles ouvem e aprendem nas aulas teóricas, manipulam e observam nas
aulas de campo. Com efeito, os conteúdos de Biologia transformam-se em algo
mais prático e de mais fácil percepção, aumentando neles o interesse e a vontade
em compreender e aprender os conteúdos programáticos. Segundo a mesma
autora, quando as aulas de campo são bem concebidas, podem as mesmas
preparar o aluno para uma actuação mais crítica e responsável na vida social.
No ensino da Biologia, a interacção dos alunos com o ambiente aumenta a
motivação e o desejo de aprender (Almeida & Hames, 2012; Krasilchik, 2004). Este
efeito torna-se particularmente importante nos alunos do I Ciclo do Ensino
Secundário, uma vez que é neste ciclo de ensino que mantêm o primeiro contacto
com essa área disciplinar como tal (Breganha, Lopes & Costa, 2018). Por esta razão,
as escolas devem adoptar as saídas de campo como metodologia de ensino e
realizá-las de forma variada por meio de excursões ou visitas de campo. Essa
metodologia envolve muitas hipóteses de aprendizagem e apresenta a realidade
sob uma nova visão, mostrando-se importante para a formação do aluno.
Tendo em consideração as ideias apresentadas, nas aulas de campo, os
estudantes podem aprender como abordar objectivamente o seu mundo e como
encontrar soluções para problemas complexos. Neste sentido, a educação não deve
ser encarada como algo meramente informativo, mas deve contribuir para o agir
do aluno, isto é, deve também promover a formação social dos indivíduos. O
importante não é só que o aluno consiga compreender o que o professor transmite,
mas é também que o aluno reflicta, e que com isso, consiga agir, criar e questionar
(Kyle, 2020).
Actividades práticas nas aulas de Biologia em Angola: da realidade aos
pressupostos teóricos
Num país, onde os alunos quase não têm acesso a um laboratório, com
insuficiência de professores qualificados, dificilmente têm a oportunidade de ter
aulas diversificadas no processo de ensino-aprendizagem. No contexto de ensino,
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nas escolas, a forma de ensino tradicional ainda é uma realidade em pleno século
XXI (Breganha, Lopes & Costa, 2018). No entanto, para se assegurar um processo
de ensino-aprendizagem eficaz, deve-se ter em conta a formação do professor
como um dos agentes principais para a melhoria da qualidade de ensino, pois,
acredita-se que a falta de aposta na formação do professor constitui uma das
razões da prevalência de metodologias tradicionais no ensino nas escolas
angolanas.
Outrossim, o coração do ensino tradicional assenta na transmissão dos
conhecimentos, mediante o qual o professor é o quem domina os conteúdos
coerentemente ordenados e estruturados para serem comunicados aos alunos. Tais
metodologias levam os alunos a fazerem papéis de meros ouvintes e, muitas
vezes, os conhecimentos transmitidos pelos professores não são realmente
absorvidos por eles, são apenas decorados por um curto período de tempo.
Contudo, deve-se dar valor aos conhecimentos prévios que os alunos trazem de
casa, do seu dia-a-dia, a fim de que as aprendizagens se tornem significativas.
Metodologia
O presente estudo empírico tem como foco o estudo dos efeitos de uma aula
de campo na aprendizagem de alunos da classe, que configura um projecto
investigativo de Mestrado. Para tal, foi necessário desenvolver e implementar uma
sequência didáctica específica que incluísse aulas de campo e uma estratégia de
recolha de dados complementares à mesma.
Segue-se, com efeito, uma breve descrição da planificação e implementação
da aula de campo, seguida da descrição da estratégia de recolha e análise de
dados.
Planificação e implementação da actividade “Amigos da Flora da Chibia”
No sentido de se obter reposta à questão de investigação: quais os efeitos da
actividade prática focada na diversidade vegetal local na aprendizagem de
Biologia na escola Colégio n.º 547 “Comandante Gika – Chibia?
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Conceptualizou-se e implementou-se uma sequência didáctica de três aulas,
sendo a segunda aula uma saída de campo. Esta planificação seguiu os
pressupostos teóricos de Krasilchik (2004), segundo os quais, deve-se escolher
adequadamente o local onde levar os alunos e fazer um levantamento prévio de
tudo, como gastos com transporte, estadia, alimentação e planeamentos das
acções. Para outros casos, as aulas podem ser planificadas de forma mais simples
sem que venha a envolver gastos financeiros, uma vez que em muitos casos tem
sido este o motivo usado como subterfúgio para a não realização de tais aulas.
O professor pode, antes de mais, preparar a sua aula, olhando para os
recursos naturais que a escola e a localidade oferecem e, posteriormente, realizar
ou planificar a aula, desde que tenha em vista o local com recursos vegetais, numa
distância que pode ser percorrida a ou ao redor da escola ou ainda na horta
escolar e planifica tendo em vista os objectivos previstos no programa e currículo,
de forma a tornar o ensino mais contextualizado.
A realização da actividade de campo integrou três aulas: aula de
preparação (pré-campo), aula de campo (Figuras 1 e 2) e consolidação das
aprendizagens (pós-campo). Envolveu ainda a realização do registo por parte dos
alunos antes da aula de campo e após a aula de campo (Figuras 3 e 4).
Figura 1: Alunos participantes na aula de
campo. Rio Tchipumpunhime - Turma A.
Figura 2: Alunos participantes na aula de
campo. Rio Tchipumpunhime - Turma B.
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Esta sequência didáctica foi conceptualizada pelo 1.º autor, tendo a
planificação sido validada pela orientadora (2.ª autora desta comunicação) e ainda
por mais três investigadores (um angolano e duas portuguesas) a trabalhar na área
do ensino da Biologia. A actividade foi implementada com os alunos da 7.ª classe
pelo 1.º autor desta comunicação em articulação com os três professores de
Biologia da escola envolvida no estudo. Na aula ‘pré-campo’, fizeram-se
discussões, partindo da análise de textos (Manual do aluno e professor, Programa
e Currículo do I ciclo do ensino secundário) e de fotos de plantas locais (gimboa -
Amaranthus sp., feto - Pteridium aquilinum L.). Para além disso, os alunos
analisaram o mapa do município e o percurso da escola até ao local a visitar.
Por fim, foram dadas as orientações do material e vestes a serem usadas
durante a saída de campo. Durante a actividade de campo, os alunos tiveram
contacto com plantas, observando e investigando o local com o auxílio de uma
Figura 3: Desenho inicial do aluno A6
Figura 4: Desenho final do aluno A6
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ficha de campo previamente elaborada pelo 1.º autor e validada pela 2.ª autora
(título da ficha de campo: Amigos da Flora da Chibia). Na última aula, ‘pós-
campo’, foi o momento para a sistematização do conhecimento teórico e prático.
Para tal, os alunos elaboraram um relatório e pequenos desenhos, tal como
referido anteriormente.
Em termos curriculares, a actividade de campo integra-se no Tema 2 -
Estrutura e funcionamento dos ecossistemas: a diversidade de plantas e animais
da disciplina de Biologia (7.ª classe), mais especificamente nos Subtemas 2.6.
(Diversidade de plantas) e 2.10. (Morfologia externa das plantas: tipos de raiz;
tipos de caule; tipos de folhas) (cf. INIDE, 2019).
Descrição da estratégia investigativa
A abordagem metodológica utilizada na implementação deste estudo teve
enfoque na análise quali-quantitativa e obedeceu a um estudo de caso, que
favorece a compreensão do assunto (Ampudia de Haro et. al, 2016). Segundo Yin
(2003), o estudo de caso é de índole descritivo explicativo. Neste estudo, o caso
corresponde ao processo de ensino-aprendizagem, envolvendo os alunos da 7.ª
Classe de Biologia do Colégio n.º 457 Comandante Gika Chibia que
participaram na actividade denominada “Amigos da Flora da Chibia” em
conjunto com as respectivas professoras acompanhantes.
Na visão de Bogdan e Biklen (1994, p. 16), na investigação qualitativa:
[…] os dados recolhidos o ricos em pormenores descritivos
relativamente a pessoas, locais e conversas (…) dão primazia
essencialmente, a compreensão dos comportamentos a partir da
perspectiva do sujeito da investigação.
Ainda na óptica destes autores, nesta investigação, a situação natural
constituiu a fonte de dados (Bogdan & Biklen, 1994), colocando o investigador
como o instrumento-chave da recolha de dados, cabendo ao mesmo a descrição e
seguidamente à análise dos dados. O contexto associado ao estudo de caso
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corresponde ao Colégio n.º 457 Comandante Gika Chibia do Município da
Chibia.
O referido colégio é frequentado por um total de 342 alunos da 7.ª classe,
correspondendo a 11 turmas distribuídas por três professoras. Não sendo possível,
por questões logísticas (tempo e investimento financeiro), realizar um estudo,
envolvendo toda a população de estudantes da 7.ª classe, foram seleccionadas
quatro turmas (ensino regular) num total de 138 alunos para integração no estudo
e os respectivos professores.
A recolha de dados foi realizada sobretudo através de inquérito por
questionário (aos 3 professores de Biologia da 7.ª classe e aos 138 alunos) na
medida em que permitiria aceder a uma maior quantidade de informação num
menor intervalo de tempo no que respeita à população em estudo. Para além
disso, oferece maior uniformidade das respostas, o que facilita os processos de
análise (Gil, 2012). Aos alunos, foi aplicado um questionário antes da
implementação da actividade no dia 17 de Julho de 2019 - na turma B - e no dia 08
de Agosto de 2019 - nas turmas A e C - por causa da incompatibilidade dos
horários das professoras, e depois da actividade nos dias 16 de Setembro - na
turma B - e 18 de Setembro - nas turmas A e C.
O questionário foi aplicado em dois momentos com as mesmas questões,
antes e depois para averiguar eventuais diferenças no nível da motivação para a
disciplina de Biologia, assim como o nível de conhecimento (diagnóstico) dos
alunos envolvidos, e, neste sentido, avaliar metodologicamente o efeito da
sequência didática “Amigos da Flora da Chibia” nos alunos. Incluiu também
questões que visavam caracterizar a compreensão de conteúdos específicos e a
atitude face à disciplina de Biologia e à diversidade botânica do município.
Os dados adquiridos a partir dos inquéritos foram sujeitos a dois tipos de
análise: quantitativa (estatística descritiva) para as questões fechadas e qualitativa
(análise de conteúdo) para as questões abertas.
No questionário, às questões fechadas usou-se os procedimentos de
estatística descritiva (valores absolutos e relativos em percentagens), usando o
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programa SPSS Statistics® (versão 25). Destaca-se que, a aplicação dos
questionários foi em papel, o que implicou depois a transferência manual das
respostas de cada questionário para a respectiva base de dados.
Trataram-se e analisaram-se as questões abertas, recorrendo à técnica de
análise de conteúdo com o propósito de organizar e categorizar a informação.
Procedeu-se à identificação de categorias baseadas no reconhecimento de
elementos comuns nas unidades discursivas (princípio da exaustividade)
enunciadas em cada questão (princípio da homogeneidade), (Amado, 2017).
Outrossim, a análise de conteúdo foi também aplicada aos desenhos feitos pelos
alunos.
Análise e discussão dos resultados
Nesta secção, apresenta-se a análise e discussão dos resultados. Num
primeiro momento, é feita a caracterização sociodemográfica dos alunos que
participaram na actividade. De seguida, discutem-se os efeitos da actividade
prática focada na diversidade vegetal local na aprendizagem dos alunos, de
acordo com quatro indicadores específicos: Indicador 1. Gosto de aprender sobre
as planas; Indicador 2. Valorização do papel das plantas; Indicador 3.
Reconhecimento da diversidade das plantas e Indicador 4. Gosto pela Disciplina
de Biologia.
Caracterização dos participantes
No que respeita aos alunos, e tal como referido anteriormente, participaram
neste estudo 138 alunos, sendo a média de idades 12.3 anos (Desvio Padrão = 0.8
anos, Máximo = 15 anos e Mínimo = 11 anos). A maior parte dos alunos está em
idade regular de frequentar a 7.ª classe, de acordo com o Artigo 22.º do Decreto
Presidencial n.º 16/11 de 11 de Janeiro (aprova o estatuto do Subsistema do Ensino
Geral).
Em termos de género, 56 são rapazes e 79 alunos são raparigas, ou seja, os
sujeitos são maioritariamente do género feminino (58,5%).
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No que respeita ao gosto pela disciplina de Biologia, 80.4% afirmaram que
“Gostam mesmo Muito” (Nível 1 de 5 níveis na Escala de Likert)) e 16.7%
responderam que “Gostam razoavelmente” (Nível 2 de 5 níveis da Escala de
Likert).
Em termos de escala, a média dos respondentes 1.2, o que aproxima o
posicionamento colectivo dos alunos no nível “Gosto mesmo muito” (nível 1).
Salienta-se que dois alunos (1.4%) não responderam a esta questão.
Na tabela n.º 1, como se verá a seguir, encontram-se o número de alunos, a
idade, o género, assim como o nível de gosto pela disciplina e participação nas
aulas de campo de forma global e por Turma, no que respeita ao género, “Gosto
pela disciplina” e “participação em aulas de campo”.
Verifica-se que, de forma geral, a Biologia é uma disciplina apreciada pelos
alunos inquiridos. Neste sentido, é necessário que os professores de Biologia
estejam devidamente preparados, de modo a aproveitar esta vontade que os
alunos têm de aprender conteúdos desta disciplina, no sentido de proporcionar
situações que mostrem o papel da ciência no dia-a-dia dos alunos, levando para
sala de aulas assuntos que têm a ver com a sua vida, dando-lhes oportunidade
para conhecerem os aspectos relacionados à ciência, à tecnologia e à sociedade,
além de lhe apresentar que a Biologia pode responder à muitas das suas
necessidades (Kyle, 2020).
Tabela 1: Caracterização dos alunos participantes no estudo*
Turma
N.º de
alunos
Idade
Género
Gosto pela
disciplina de
Biologia
Aulas de campo
A
52
M=11.9
DP = 0.6
Max. = 11.0
Min. =13.0
Rapazes = 24
Raparigas = 28
M= 1.2
DP= 0.4
Max. = 2
Min.= 1
(r’= 50)
Participou = 1
Não participou = 50
Não respondeu = 1
B
37
M= 12.6
DP = 0.4
Max.= 11.0
Min= 15.0
Rapazes = 10
Raparigas = 26
M= 1.1
DP= 0.3
Max.=2
Min.= 1
(r’= 37)
Participou = 2
Não participou = 32
Não respondeu = 3
C
49
M= 12.5
DP = 0.8
Max.= 11.0
Rapazes = 22
Raparigas = 25
Não respondeu =2
M= 1.2
DP= 0.4
Max.=2
Participou = 0
Não participou = 47
Não respondeu = 2
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42
Min= 15.0
Min.= 1
(r= 47)
Total
138
M= 12.3
DP = 0.8
Max.= 11.0
Min= 15.0
Rapazes = 56
Raparigas = 79
Não respondeu = 2
M= 1.2
DP= 0,4
Max.= 2
Min.= 1
(r’= 44,7 )
Participou = 3
Não participou = 129
Não respondeu = 6
Elaborada pelos autores
*r’ = as respostas válidas por questão nem sempre equivalem ao total de alunos
respondentes, podendo ser a soma igual ou inferior a 138.
De acordo com a Tabela 1, verifica-se que dos 138 alunos que responderam
a esta questão, 129 alunos nunca participaram em aulas de campo. Isto indica que
as aulas de campo não se fazem sentir na prática pedagógica dos professores da
Escola em estudo, apesar de esta ser uma ferramenta de grande relevo no ensino
da Biologia e ainda o facto de o município da Chibia ter um potencial particular
para a realização destas actividades em termos de diversidade da Flora
(Gonçalves, 2009). No entanto, três alunos que participaram numa aula de
campo, um da turma A e dois da turma B, vêm de uma escola de um dos
municípios vizinhos da Chibia e tiveram a oportunidade de alguma vez terem
participado.
Efeito da actividade prática focada na diversidade vegetal local na
aprendizagem dos alunos
Tal como referido, a avaliação do efeito da actividade implementada na
aprendizagem dos alunos foi avaliada através de quatro indicadores que se
articulam com seis questões do questionário aplicado (1. Gosto de aprender sobre
as plantas; 2. Valorização do papel das plantas; 3. Reconhecimento da diversidade
das plantas; 4. Gosto pela Disciplina de Biologia).
No sentido de traçar um balanço global sobre a actividade implementada,
os alunos foram questionados sobre se gostaram de participar na aula de campo.
Nas respostas obtidas, sintetizadas na Tabela 2, verifica-se um balanço muito
positivo. Das 134 respostas válidas obtidas, 111 alunos referiram que “Gostaram
mesmo muito” (Nível 1 na escala de Likert), o que corresponde a 80,43% dos
alunos participantes. Os restantes alunos, que responderam a esta questão,
afirmaram que “Gostaram razoavelmente” (n=23, 16,66%). Nenhum dos alunos
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43
que respondeu se posicionou no nível 3 (Não gostei/nem desgostei), 4 (não gostei)
ou 5 (detestei). Analisando as respostas desagregadas por turma, os alunos que
fazem um balanço mais positivo foram os alunos da turma B, em que a média de
posicionamento é mais baixa, portanto mais próxima do nível 1 = Gostei mesmo
muito.
Efectivamente, estes dados revelam que a maior parte dos alunos gosta de
aprender sobre plantas, reforçando a importância de os professores planificarem
com maior atenção as suas aulas de modo a tornar o ensino mais atractivo e
interessante ao aluno (Seniciato & Cavassan, 2008).
Segue-se, entretanto, a apresentação e discussão das respostas obtidas para
cada um dos indicadores antes e após a realização da actividade.
Tabela 2: Posicionamento dos alunos relativamente à questão “Gostou da aula de
campo em que participou?”
Turma
Respostas
válidas
Escala de Posicionamento*
Média (M) e Desvio Padrão
(DP) do posicionamento
1
2
3
4
5
A (N=52)
50
41
9
0
0
0
M= 1.18; DP = 0.4
B (N=37)
37
32
5
0
0
0
M = 1.14; DP = 0.4
C (N=49)
47
38
9
0
0
0
M = 1.19; DP = 0.35
Soma (N= 138)
134
111
23
0
0
0
M = 1.17; DP = 0.38
Tabela 3: Posicionamento dos alunos relativamente à questão “Gosto de aprender sobre as plantas*”
Turma
Antes da aula de campo
Após aulas de campo
Notas
complementares
Escala de Posicionamento
Escala de
Posicionamento
1
2
3
4
5
Média
(M)
Desvio
Padrão
(DP)
1
2
3
4
5
Média (M)
Desvio
Padrão
(DP)
A
43
9
0
0
0
M= 1.17
DP = 0.38
48
4
0
0
0
M= 1.08
DP = 0.26
4 alunos passaram
do nível 2 para o
nível 1 “Gostar
mesmo muito”
B
30
4
0
0
0
M= 1.12
DP = 0.32
35
1
0
0
0
M= 1.03
DP =0.16
3 alunos passaram
do nível 2 “Gosto
razoavelmente”
para o “Gosto
mesmo muito”
Victor Alfredo Cahala, Betina Lopes & Francisco Maiato
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*Os alunos posicionaram-se numa escala de Likert com 5 níveis: [1] - Gostei mesmo muito;
[2 - Gostei razoavelmente]; 3 [Não gostei/ Nem desgostei]; 4 [Não gostei), 5 [Detestei]
Indicador 1: Gosto de aprender sobre as plantas
De acordo com os resultados constantes na Tabela 3, que a seguir se
apresenta, o número de alunos que referiu “Gostar mesmo muito de aprender
sobre plantas” (nível 5) aumentou de 115 para 132, o que é indicador de um efeito
positivo da aula de campo, estando em concordância com os estudos realizados
nesta área. Segundo Seniciato & Cavassan (2008), a aula de campo propicia a
motivação para aprendizagem, principalmente em crianças e jovens, além de
contribuir para a aprendizagem dos conhecimentos científicos por se constituir em
uma estratégia metodológica de superação da fragmentação do conteúdo.
Atendendo à Média, pode-se assumir que o efeito positivo terá sido mais
forte na Turma A (a média passou de 1.17 para 1.08). No entanto, estudos
estatísticos complementares serão necessários para confirmar se este padrão é
efectivamente uma tendência na população em estudo. De salientar também, em
termos metodológicos, que o número de respostas válidas obtidas na 1.ª (pré aula
de campo) e na 2.ª aplicação (pós aula de campo) do questionário subiu de 129
para 137, o que pode ser indício de uma maior compreensão/familiarização para
com o questionário. Neste sentido, recomenda-se que estudos na área do Ensino
das Ciências e que envolvam a aplicação de questionários tenham em conta a
C
42
1
0
0
0
M= 1.0
DP =
0.00
49
0
0
0
0
M= 1.0
DP =
0.00
O aluno que se
tinha
posicionado no
“Gosto
razoavelmente”
passou a
posicionar-se
no gosto
mesmo muito
Soma
11
5
13
0
0
0
M=
1.10
DP=0.3
0
13
2
5
0
0
0
M= 1.04
DP= 0.18
Elaborada pelos autores
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familiarização dos alunos com a técnica de inquérito por questionário na linha da
recomendação de Breganha, Costa e Lopes (2018).
*Escala [1 Concordo totalmente; 2 Concordo bastante; 3 - Não concordo nem discordo; 4
Discordo; 5 Discordo totalmente]
Indicador 2: Valorização do papel das plantas
A verificação da alteração da valorização das plantas por partes dos alunos
foi realizada em duas perspectivas: para a natureza de forma global (indicador
2.1.) e para o homem de forma específica (indicador 2.2.).
Indicador 2.1. A importância das plantas para a natureza
Tabela 4: Posicionamento dos alunos relativamente à afirmação “As plantas são
importantes na natureza”
Tur
ma
Antes da aula de
campo
Depois da aula de
campo
Notas
complem
entares
Escala de
Posicionamento
Escala de
Posicionamento
1
2
3
4
5
N
S
Média
(M)
Desvio
Padrão
(DP)
1
2
3
4
5
N
S
Média (M)
Desvio
Padrão
(DP)
A
44
3
0
0
0
2
M= 1.27
DP =
1.016
47
2
0
0
0
0
M= 1.04
DP = 0.200
3 alunos
passaram
a
concordar
totalment
e que as
plantas
são
important
es para a
natureza
B
34
2
0
0
0
0
M= 1.0
DP =
0.00
33
4
0
0
0
0
M = 1.1.1
DP = 0.315
2 alunos
que
concordav
am
bastante,
passaram
a
Victor Alfredo Cahala, Betina Lopes & Francisco Maiato
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* Escala [1 Concordo totalmente; 2 Concordo bastante; 3 - Não concordo nem discordo; 4
Discordo; 5 Discordo totalmente; NS Não Sei]
Em concordância com os resultados constantes na Tabela 4, o número de
alunos que “concorda totalmente” (nível 1 da escala de posicionamento) com a
afirmação “As plantas são importantes para a natureza” aumentou de 113 para
127, o que é indicador de um efeito positivo da aula de campo na aprendizagem
dos alunos. No entanto, estudos estatísticos complementares serão necessários
para confirmar se este padrão é efectivamente uma tendência na população em
estudo.
Atendendo à Média, pode-se assumir que o efeito terá sido mais forte na
Turma B (a média passou de 1.0 para 1.1.1). De salientar também, em termos
metodológicos que o número de respostas válidas obtidas na 1.ª e na 2.ª aplicação
do questionário subiu de 130 para 135, o que pode ser indício de uma maior
compreensão/familiarização para com o questionário.
concordar
totalment
e
C
35
8
2
0
0
0
M =
1.27
DP =
0.539
47
2
0
0
0
0
M = 1.04
DP = 0.200
2 alunos
que não
concordav
am e nem
discordav
am,
passaram
a
concordar
totalment
e
Som
a
11
3
13
2
0
0
2
M= 1.20
DP =
0.711
12
7
8
0
0
0
0
M = 1.06
DP = 0.237
Elaborado pelos autores
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Indicador 2.2. As plantas são importantes para o homem
Relativamente ao indicador 2.2., e como é possível constatar nos resultados
da Tabela 5, a seguir, o número de alunos que “concorda totalmente” (nível 1)
com a afirmação “as plantas são importantes para o homem” aumentou de 83 para
116, o que pode ser indicador de um resultado positivo do papel da aula de campo
na vida dos alunos, nomeadamente, ao nível da valorização das mesmas. Essa
ideia é muito importante, já que o aluno ao entender o valor das plantas, associada
ao bem-estar humano, poderá estabelecer uma postura de preservação do meio
ambiente e não de mero expectador ou de usuário de seus recursos (Mello &
Trajber, 2007). No entanto, é preciso também apostar-se em estratégias de
valorização intrínseca da biodiversidade e não apenas numa perspectiva
antropocêntrica (Colaço, 2017).
De salientar também, em termos metodológicas, que o número de respostas
válidas obtidas na 1.ª e na 2.ª aplicação do questionário subiu de 117 para 137, o
que pode ser indicador de uma maior compreensão/familiarização para com o
questionário pela maioria dos alunos.
Tabela 5: Posicionamento dos alunos relativamente à afirmação “As plantas são
importantes para o homem”
Turma
Antes da aula de campo
Após a aula de campo
Notas
complementares
Escala de Posicionamento
Escala de Posicionamento
1
2
3
4
5
NS
M
DP
1
2
3
4
5
N
S
M
DP
A
37
7
2
0
0
1
M=1.3
4
DP =
087
45
6
0
0
0
0
M =
1.12
DP =
0.32
8 alunos passaram
a concordar
totalmente que as
plantas são
importantes para
o homem
B
21
4
4
0
0
0
M =
1.41
DP =
0.733
«
30
7
0
0
0
0
M =
1.19
DP =
0.39
4 alunos que não
concordavam e
nem
descordavam,
passaram a
concordar
totalmente e
concordar
bastante
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[1 Concordo totalmente; 2 Concordo; 3 Indiferente/não concordo nem discordo; 4 Discordo
parcialmente; 5 Discordo totalmente; Não Sei/não quero responder]
Indicador 3: Diversidade de plantas na Chibia
De acordo com os resultados constantes na Tabela 6, o mero de alunos
que “concorda totalmente que no município da Chibia existem muitas plantas
diferentes” (nível 1 na escala de concordância) aumentou de 94 para 118, o que é
indicador de um efeito positivo da aula de campo no reconhecimento da
diversidade botânica do seu município.
Metodologicamente, o número de respostas válidas obtidas na 1.ª e na 2.ª
aplicação do questionário subiu de 119 para 134, isto pode indicar que os alunos se
familiarizaram com o questionário.
C
25
13
2
1
0
0
M =
1.46
DP =
1.25
41
8
0
0
0
0
M =
1.16
DP =
0.37
O único aluno
que
discordava,
passou a
concordar e 3
estavam
indecisos
passaram a
concordar
totalmente
Soma
83
24
8
1
0
1
M =
1.41
DP =
0.77
11
6
21
0
0
0
0
M =
1.15
DP =
0.36
Tabela 7: Indicadores sobre o gosto pela disciplina de Biologia?*
Turma
Antes da aula de campo
Depois da aula de campo
Notas
complemen
tares
Escala de posicionamento
Escala de posicionamento
1
2
3
4
5
N
R
M
DP
1
2
3
4
5
NR
M
DP
A
41
9
0
0
0
0
M=
1.18
DP =
0.39
51
1
0
0
0
0
M=
1.02
DP =
0.14
8 alunos
passaram a
gostar
mesmo
muito da
disciplina
de Biologia
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* Escala [1 Concordo totalmente; 2 Concordo bastante; 3 - Não concordo nem discordo; 4
Discordo; 5 Discordo totalmente; NS Não Sei]
Indicador 4: Gosto pela disciplina de Biologia
Com base nos resultados constantes na Tabela 7, o número de alunos que
referiu “Gostar mesmo muito da disciplina de Biologia” (nível 1 na escala)
aumentou de 105 para 133, o que revela que a aula de campo teve um efeito
positivo na percepção dos alunos quanto à disciplina de Biologia.
Assim, não houve muita variação nas médias por turma, visto que os
alunos antes e depois posicionaram-se nos níveis “gosto mesmo muito(nível 1) e
“gosto razoavelmente” (nível 2). Por outra, o número de perguntas válidas obtidas
na 1.ª e 2.ª aplicação do questionário subiu de 130 para 138, o que indicou que os
alunos entenderam e se familiarizaram mais com a nova aplicação do
questionário.
B
32
5
0
0
0
0
M=1.1
4
DP=0.
35
36
1
0
0
0
0
M=1.0
3
DP=0.
16
4 alunos
passaram a
gostar
mesmo
muito da
disciplina
de Biologia
C
32
9
0
0
0
2
M=1.1
9
DP=0.
39
46
3
0
0
0
0
M=1.0
6
DP=0.
24
2 alunos
que não
haviam
respondido
passaram a
gostar
mesmo
muito da
disciplina
de Biologia
Soma
105
23
0
0
0
2
M=1,1
7
DP=0.
38
133
5
0
0
0
0
M=1.1
2
DP=0.
32
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A partir da análise de conteúdo indutiva (Amado, 2017) dos 138
questionários por inquérito aplicados aos alunos, foram identificadas seis
categorias associadas à primeira questão (1. Gosta da disciplina de Biologia?
Justifique, por favor, a sua resposta):
1. Ajuda a conhecer todos os seres vivos (Ex.: Aluno QAT25 “Eu gosto muito
porque a Biologia nos ensina sobre seres humanos e as plantas os animais e aluno”;
Aluno QCT7 “Eu gosto muito da disciplina de Biologia porque ela estuda a vida de
todos seres vivos”);
2. Ajuda a conhecer as plantas (Ex.: Aluno QCT4 - Gosto muito porque eu gosto
de saber e aprender sobre as plantas”);
Tabela 7: Indicadores sobre o gosto pela disciplina de Biologia?*
Turma
Antes da aula de campo
Depois da aula de campo
Notas
complement
ares
Escala de posicionamento
Escala de posicionamento
1
2
3
4
5
N
R
M
DP
1
2
3
4
5
NR
M
DP
A
41
9
0
0
0
0
M=
1.18
DP =
0.39
51
1
0
0
0
0
M=
1.02
DP =
0.14
8 alunos
passaram a
gostar
mesmo
muito da
disciplina de
Biologia
B
32
5
0
0
0
0
M=1.14
DP=0.3
5
36
1
0
0
0
0
M=1.0
3
DP=0.
16
4 alunos
passaram a
gostar
mesmo
muito da
disciplina de
Biologia
C
32
9
0
0
0
2
M=1.19
DP=0.3
9
46
3
0
0
0
0
M=1.0
6
DP=0.
24
2 alunos que
não haviam
respondido
passaram a
gostar
mesmo
muito da
disciplina de
Biologia
Soma
105
23
0
0
0
2
M=1,17
DP=0.3
8
133
5
0
0
0
0
M=1.1
2
DP=0.
32
*(1. Gosto mesmo muito; 2. Gosto razoavelmente; 3. o gosto nem desgosto; 4. Não gosto;
5. Detesto; NR não quero responder
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3. Ajuda a conhecer os animais e as plantas (Ex.: Aluno QAT49 “Gosto muito
porque é uma disciplina que estuda [….] os animais e as plantas”);
4. Ajuda a conhecer os animais (Ex.: Aluno QCT32 “Porque é muito
interessante aprender dos animais”);
5. Ajuda a conhecer o meio em que vivemos (Ex.: Aluno QAT19 “Eu gosto
porque demostra o meio ambiente e porque ajuda-me na saúde”);
6. Quero ser professor de Biologia (Ex.: Aluno QCT12 Porque eu quero ser
professor de Biologia também é muito bom aprender e saber Biologia”; Aluno
QBT11 “Quero ser professor desta disciplina”);
Com base na Tabela 8, às respostas dos 138 alunos distribuem-se em maior
escala entre as categorias de “Ajuda a conhecer as plantas e os animaiscom 71
respostas (51,4 %) e “Ajuda a conhecer as plantas” com 59 respostas (42,75%).
Destaca-se também o aumento da referência às plantas nas justificações dos alunos
após a aula de campo (passa de 103 respostas para 130 respostas), o que é
indicador de que os alunos passaram a estar mais motivados para o estudo das
plantas.
Tabela 8: Respostas dos alunos à questão “Gosta da disciplina de Biologia?
Justifique” – principais categorias*
Categorias
Antes da aula de
campo
Após da aula
1. Ajuda a conhecer todos
os seres vivos
18
3
2. Ajuda a conhecer as
plantas
37
59
3. Ajuda a conhecer os
animais e as plantas
66
71
4. Ajuda a conhecer os
animais
2
1
5. Ajuda a conhecer o
meio em que vivemos
2
2
6. Quero ser professor de
Biologia
1
1
Soma de respostas válidas que
integram as plantas (de forma
explícita)
103 (37 + 66)
130 (59 + 71)
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Conclusão
Em síntese, diante dos resultados apresentados, as aulas de campo
contribuem para a construção de conhecimentos científicos no ensino da
biodiversidade vegetal, uma vez que tornam o processo mais real.
Diante dos resultados obtidos, pode-se afirmar ainda que as aulas de campo
facilitam o processo de ensino-aprendizagem da Biologia, visto que se constatou a
ampliação do conhecimento e desenvolvimento do espírito crítico dos alunos
acerca do assunto em estudo.
Pode-se ainda concluir que, com estas aulas, o aluno pode aprender
observando de forma directa os objectos de estudo. Não se precisa
necessariamente de muitos recursos para realização de aulas de campo. A Biologia
está presente no dia-a-dia do aluno e do professor. A Biologia são as pessoas.
Com esta metodologia é possível alcançar um dos objectivos desta
disciplina que consiste em compreender a importância da protecção e conservação
da natureza para o desenvolvimento sustentável e para a contextualização do
ensino de acordo com o currículo do I ciclo e do programa de Biologia.
As aulas de campo constituem práticas inovadoras que motivam os alunos
a pensar na construção do seu próprio conhecimento, e podem ser realizadas em
qualquer lugar, fora da sala de aulas, em jardins, pátio da escola, parques, hortas e
outros espaços que ofereçam condições para a aula.
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Recebido em 30 de Abril de 2021
Aceite em 07 de Outubro de 2022