Margarida Ventura, Teresa Almeida Patatas e Carlos Manuel Ribeiro
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Insucesso Académico e a Busca da Qualidade: Caso de Duas
Instituições de Ensino Superior Politécnicas no Sul de
Angola
Academic Failure and the Pursuit of Quality: Case of Two Polytechnic Higher
Education Institutions in Southern Angola
Margarida Maria Fernandes Ventura
1
Instituto Superior Politécnico Tundavala, Angola
mfarrica@hotmail.com.com
Teresa de Jesus Portelinha Almeida Patatas
2
Escola Superior Politécnica do Namibe, Angola
teresapatatas.angola@gmail.com
Carlos Manuel Ribeiro
3
Instituto Superior Politécnico Tundavala, Angola
cribeiroenator@gmail.com
Resumo
O desenvolvimento do Ensino Superior em Angola na última década é notório, contudo o insucesso
académico é um dos obstáculos à qualidade aspirada, pois trata-se de um fenómeno que vai para
além do institucional abarcando todos os demais níveis, do pessoal ao nacional. O seu combate é
um desafio constante nas Instituições de Ensino Superior. Para o conhecimento desta realidade, é
necessário diagnosticar as suas causas. Neste artigo, o objectivo é apresentar as principais causas
do insucesso académico, segundo a perceção de estudantes finalistas de duas escolas politécnicas,
uma pública e outra privada, de duas províncias no Sul de Angola: Huíla e Namibe. Para a
concretização deste objectivo, fez-se uma pesquisa bibliográfica e documental e para a recolha de
dados aplicou-se um questionário a 90 estudantes finalistas das duas instituições: a Escola
Superior Politécnica do Namibe e o Instituto Superior Politécnico Tundavala. Os resultados
mostram que a crise económica é apontada como uma das principais causas das desistências, mas
outras são apresentadas com importância desigual nas duas províncias. Conhecer este fenómeno
pela perceção dos estudantes que terminam a licenciatura é importante de modo a poder conhecer-
se a visão de uma das partes envolvidas e, com isso, procurar medidas de combate ao problema.
Acreditamos que, deste modo, se poderia contribuir para a melhoria da qualidade do ensino
superior angolano.
Palavras-chave: Insucesso Académico, Qualidade, Ensino Superior em Angola.
1
Doutora em Psicologia. Professora Catedrática. Directora Geral.
2
Doutorando em Geociências. Engenheiro do Ambiente. Professor Associado. Director Geral
Adjunto para Área Científica.
3
Doutora em educação e pós-doutora em Educação Comparada.
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Abstract
The development of Higher Education in Angola in the last decade is notorious. However, academic
failure is one of the obstacles to the aspired quality. Academic failure is a phenomenon that goes
beyond the institutions, encompassing all other levels, from personal to national. Fighting is a
constant challenge for Higher Education Institutions. In order to understand this reality the causes
need to be identified. In this case study, the purpose is to present the main causes of academic
failure according to final year students from two polytechnic schools, a public one and a private
one, in two provinces in southern Angola, Huíla and Namibe provinces. For this purpose, a
bibliographical and documentary research was carried out and a questionnaire was applied to 90
finalist students from both institutions: the High Polytechnic School of Namibe and Higher
Polygenic Institute of Tundavala. The results showed that the economic crisis is identified as one of
the main causes of dropouts, but other causes presented vary in importance in both provinces.
Knowing this phenomenon through the perception of students who finished their degree is relevant
in order to understand the point of view of one of the parties involved and look for measures to
fight the problem. We believe that by doing so, we can assist and improve the quality of Angolan
Higher Education.
Keywords: Academic failure, Quality, Higher education in Angola.
Introdução
Em Angola, após a paz nacional, houve uma “rápida progressão da oferta de
ensino superior, público e privado” (Governo da República de Angola, 2012, p. 37).
No entanto, neste quadro de vitória, o insucesso académico tornou-se uma
realidade e o seu combate um desafio para as Instituições de Ensino Superior
(IES). De acordo com Martins (2009, p. 54), existem “novos desafios ao ensino
superior, cuja complexidade das respostas poderá ser ultrapassada por uma aposta
na qualidade”.
A necessidade de aumentar a qualidade no ensino superior angolano é
reconhecida pelo governo e, por isso, os objectivos do Plano Nacional de
Desenvolvimento (PND, 2013-2017) para o Ensino Superior apontam, como uma
das medidas, a “melhoria da qualidade de ensino, promovendo a formação nos
domínios da docência, da investigação científica e da gestão das instituições de
ensino superior” (Ministério do Planeamento e do Desenvolvimento Territorial,
2012, p. 189), com várias medidas de política associadas para essa consolidação.
Uma demonstração do aumento da qualidade seria a redução dos níveis de
insucesso no ensino superior angolano que tem uma multiplicidade de causas,
estando algumas interligadas.
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Em Angola, a educação é vista como uma base para o desenvolvimento de
um país em construção.
Nesta pesquisa, o objectivo é apresentar as principais causas do insucesso
académico, segundo a percepção de estudantes finalistas de duas Instituições de
Ensino Superior Politécnicas, uma privada e outra pública, em duas províncias no
sul de Angola: Huíla e Namibe. Neste sentido, fez-se uma pesquisa bibliográfica e
empírica. Para a recolha de dados, elaborou-se um questionário, o qual foi
aplicado a 90 estudantes finalistas de cada uma das instituições.
Insucesso Académico
O insucesso ou fracasso escolar foi motivo de preocupação para as
comunidades escolares e para os que elaboravam e executavam as políticas
educacionais após os anos 50 (Perrenoud, 2000). investigadores que associam
o insucesso à progressiva massificação do ensino ou, pelo menos, ao aumento da
sua visibilidade (Rosa, 2013).
O fenómeno do insucesso exprime-se principalmente na reprovação,
desistência e abandono dos estudos. Benavente (1990, p. 25) considera o abandono
aquele que ocorre no final do ano lectivo e a desistência ao longo do ano lectivo.
Ambos significam que “um aluno deixa a escola sem concluir o grau de ensino
frequentado por outras razões que não sejam a transferência da escola ou... a
morte”. O insucesso escolar é denominado insucesso académico quando este é
verificado ao nível do ensino superior.
Presentemente, o sucesso académico pode ser visto por dois prismas: (1)
pelo êxito do aluno, progressão ou conclusão dos seus estudos; (2) pelo êxito de
uma instituição ou um sistema de ensino na plena execução dos seus objectivos. Os
dois prismas estão conectados, porquanto a instituição ou sistema não poderá ter
sucesso se uma maioria dos seus estudantes fracassa (Ramos, 2006).
O insucesso académico está ligado aos estudantes que não conseguem
acompanhar o ritmo de aprendizagem que lhes é imposto, nem conseguem
demonstrar aptidões e conhecimentos que, supostamente, deviam adquirir
[traduzindo-se] em taxas de reprovação e abandono escolar” (Ramos, 2006, p. 26).
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Causas do insucesso
Os investigadores que se debruçaram sobre o insucesso escolar foram
mudando a explicação sobre as causas principais deste fenómeno ao longo dos
anos e essas variações são observadas e aprofundadas por Benavente (1990) e
Ramos (2006).
Actualmente, o insucesso académico é visto como um fenómeno
multifacetado em que vários factores cooperam para a sua manifestação (Patatas,
2017). Ramos (2006) salienta que estes podem ser inerentes ao estudante
(competências intrínsecas, contextos socioeconómicos e socioculturais em que
vive), à instituição (professores e os meios disponíveis), à transição entre os
diferentes níveis educativos e, à prática e acepção da avaliação da aprendizagem
pretendida. Segundo Rosa (2013), este fenómeno não pode ser atribuído a uma
causa ou factor, mas a um conjunto deles: individuais, familiares, ambientais e
socioculturais.
Para Patatas (2017, p. 103), embora haja factores ligados ao indivíduo, “a
origem do (in) sucesso não pode ser imputada ao indivíduo, mas devem-se
incluir outros factores como a origem familiar e socioeconómica dos estudantes”.
O factor socioeconómico é salientado como uma das principais causas do
insucesso escolar. Bayma-Freire et al. (2011, citados por Rosa, 2013) comprovaram
nas suas investigações que as famílias de recursos baixos são as mais propícias ao
aparecimento de factores de risco que facilitam a exclusão e o abandono escolar ou
as reprovações consecutivas. As pesquisas têm mostrado que o insucesso aparece
em nível mais elevado nos estudantes provenientes de famílias mais
desfavorecidas ou então de profissionais de rendimento baixo e vai diminuindo nas
classes em que os pais estão em profissões melhor remuneradas (Ramos, 2006).
As condições económicas familiares condicionam o acesso à escola e o tipo de
escola aos meios de deslocação, ao ambiente e local onde se reside, ao modo de
satisfazer as necessidades básicas, ao acesso à cultura e aos materiais que são
necessários para o sucesso escolar (Patatas, 2017, p. 103).
No entanto, Delors (1996, p. 125) tem uma visão ligeiramente diferente à
supra referida por Ramos:
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O insucesso atinge todas as categorias sociais, embora os jovens oriundos de
meios desfavorecidos sofram as consequências duma maneira especial. Ela reveste
várias formas: múltiplas repetências, abandono durante os estudos,
marginalização para cursos que não oferecem reais perspetivas e, no fim de contas,
abandonos da escola sem qualificações nem competências reconhecidas.
Consequências do insucesso
As consequências do insucesso podem ser variadas; apresentam-se algumas
ilações nessa área: “o insucesso escolar pode trazer consigo um conjunto de efeitos
nefastos” (Rosa, 2013, p. 40); “O insucesso escolar constitui (...) uma brecha
profundamente inquietante no plano moral, humano e social; é muitas vezes,
gerador de situações de exclusão que marcam os jovens para toda a vida” (Delors,
1996, p. 125). A reprovação escolar “pode traumatizar” (Rosa, 2013, p. 41).
Cada estudante que abandona os estudos superiores representa uma família
com as suas expetativas frustradas, porquanto, para a maioria destas, a conclusão
de uma licenciatura é vista como um investimento familiar a longo prazo e um
objectivo grupal, pois, a mesma pode vir a ser a única passagem para as profissões
qualificadas e os que não a concluem veem insucesso nos seus projectos pessoais e
uma situação de longa inferioridade no mercado de trabalho (Dellors, 1996).
Ainda no campo pessoal Rosa (2013, p. 41) salienta:
Não haverá pior sentimento para um aluno que não ver o seu esforço
compensado e tal situação pode fomentar sentimentos de incompetência que o
levarão, mais tarde ou mais cedo, ao desprezo, à revolta e/ou ao insucesso. O
perigo não são os maus resultados em si, mas o efeito que estes têm no sujeito.
Quando o aluno interioriza que está destinado ao insucesso este desliga da escola,
desiste de aprender e em casos mais extremos pode mesmo levar ao abandono
escolar.
O abandono é cada vez mais um problema actual do sistema de ensino
superior angolano, abrangendo o lado económico e social das comunidades, assim
como o mercado de emprego porque produz um aumento da precaridade laboral e
redução da produtividade, que podem ter largo impacto no desenvolvimento local.
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O Caso de dois politécnicos do sul de Angola
O combate ao insucesso académico é um desafio constante nas Instituições
de Ensino Superior, públicas e privadas, de Angola. Para o conhecimento desta
realidade torna-se necessário diagnosticar as suas causas. Com este propósito,
procurou-se saber qual a perceção dos estudantes universitários angolanos em
relação ao assunto.
Para a concretização de um estudo múltiplo de caso, os dados empíricos
foram recolhidos de 13 a 15 de Junho de 2018, através de um questionário a 90
finalistas de licenciatura, do regime regular (durante o dia), em duas instituições
de ensino superior politécnicas, uma privada e uma pública, de duas províncias do
Sul de Angola: Huíla e Namibe: o Instituto Superior Politécnico Tundavala e a
Escola Superior Politécnica do Namibe.
Quadro 1: Características das Instituições
ITEM
ISPT
ESPtN
Província
Cidade
Huíla
-
Lubango
Nami
be
-
Moçâmedes
Tipologia
Privada
Pública
Experiência lectiva
13 anos
13 anos
Alunos no Semestre II de 2018
1750
2549
Fonte: Dados fornecidos pela direção das escolas.
Breve histórico das instituições
O Instituto Superior Politécnico Tundavala (ISPT) é fruto da evolução da
Universidade Privada de Angola (UPRA) - Campus do Lubango, a qual teve início
no Instituto Superior Privado de Angola (ISPRA). O ISPRA do Lubango foi
inaugurado a 03 de Maio de 2005. Em 2007, o ISPRA passou a Universidade
Privada de Angola - Campus do Lubango e, em 2011 a Instituto Superior
Politécnico Tundavala, contabilizando 15 (quinze) anos de actividade lectiva.
A Escola Superior Politécnica do Namibe (ESPN) é uma unidade orgânica
da Universidade Mandume Ya Ndemufayo (UMN) desde 2009, começou a sua
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actividade no ano lectivo de 2005, na altura designada Escola Superior de Ciência
e Tecnologia e ligada à Universidade Agostinho Neto (UAN). Tal como o ISPT esta
instituição contabiliza 15 (quinze) anos de actividade lectiva.
Método
Procurou-se saber qual a percepção dos alunos sobre as causas do insucesso
académico: desistência, abandono ou fraco rendimento académico (reprovação).
Agruparam-se factores que, segundo os pesquisadores, são os mais observados e
colocaram-se como opções de resposta, inquirindo os alunos sobre quais destes
consideravam ser os principais para o insucesso académico.
Participantes
Quanto ao género dos questionados, nota-se uma diferença entre as escolas,
sendo que no IPSTundavala os participantes são maioritariamente do género
feminino e na ESPtN maioritariamente do género masculino, como se pode
constatar na Tabela 1.
Tabela 1: Género dos Questionados
Instituição
Sexo Masculino
Sexo Feminino
Sem resposta
TOTAL
ISPT
24
66
00
90
ESPtN
45
39
06
90
Fonte: Respostas ao questionário.
Resultados e discussão
Desistência
Iniciou-se o estudo com os dados sobre a desistência, porque esta, segundo
Benavente (1990), ocorre durante o ano lectivo. As causas apontadas pelos
estudantes apontam para a falta de meios financeiros como a principal causa da
desistência dos estudantes do ensino superior, conforme se pode ver na Tabela 2.
Tabela 2: Desistência
CAUSAS
ISPT
ESPtN
Falta de meios financeiros
51
35
Mau aproveitamento escolar
25
19
Desmotivação
11
17
Má organização d
a instituição
01
02
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Doença
02
17
Total
90
90
Fonte: Respostas ao questionário
Numa Angola em crise económica nacional é expectável que a falta de meios
financeiros seja a principal causa em ambas as escolas. É também esperado que
afecte mais o ISPT por ser uma instituição privada, com pagamento obrigatório de
propinas, do que a ESPtN, que é uma escola pública, em que os gastos dos estudos
são supostamente inferiores.
Sobre a desmotivação, recorde-se Rosa (2013) que refere que o perigo não
são os maus resultados em si mesmos. Neste ponto pode-se apontar como sendo a
segunda causa mais selecionada em ambas as instituições, mas o efeito que estes
maus resultados têm no estudante, podendo provocar a desmotivação.
A doença está em Ex aequo na ESPtN com a desmotivação, mas é pouco
significativa no ISPT, isto pode ser devido ao facto de que no Lubango mais
infra-estruturas hospitalares e melhor equipadas, facilitando o acesso dos
estudantes locais e reduzindo, assim, o impacto e a duração do tratamento da
mesma. Além disso, é comum a deslocação dos habitantes do Namibe para o
Lubango por motivos de saúde e para uso das unidades hospitalares.
Abandono
O abandono verifica-se no final do ano lectivo. A principal causa, segundo
os alunos, é mais uma vez a falta de meios financeiros (Tabela 3).
Tabela 3: Abandono
CAUSAS
ISPT
ESPtN
Falta de meios financeiros
56
35
Mau aproveitamento escolar
30
31
Desmotivação
01
12
Má organização da instituição
02
0
Doença
01
12
Total
90
90
Fonte: Respostas ao questionário.
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Os resultados sobre o abandono não são muito diferentes dos resultados
sobre a desistência, apenas nota-se que os níveis de desmotivação são mais altos
na ESPtN em comparação ao ISPT, em que são quase nulos. Acredita-se que este
dado pode estar ligado à mudança para novas instalações da ESPtN, neste ano
lectivo, para uma urbanização fora do perímetro urbano e longe das comodidades
que os alunos, sendo finalistas, estavam habituados nas antigas instalações. Os
meios de acesso são escassos e o tempo de deslocação é longo.
Fraco rendimento
O fraco rendimento engloba a reprovação e a consequente repetência. Neste
item, as causas encontram-se na Tabela 4, bem como a percepção dos estudantes a
elas.
Tabela 4: Fraco Rendimento
CAUSAS
ISPT
ESPtN
Falta de bases
10
33
Falta de estudo
39
21
Deficiência dos
professores
14
14
Desmotivação
16
12
Outros
03
10
Em branco
10
00
Total
90
90
Fonte: Respostas ao questionário.
Esta tabela mostra uma percepção desigual nas duas escolas; a «falta de
bases» é, de acordo com os participantes da pesquisa, a principal causa do fraco
rendimento na ESPtN e é a última opção para os estudantes do ISPT. Uma possível
explicação pode estar na origem socioeconómica das famílias e indivíduos, pois
pode haver uma maior incidência de famílias desfavorecidas na ESPtN, porquanto
estes optaram por uma escola pública, por não terem meios financeiros para pagar
uma privada, vindo do ensino público nos níveis anteriores. Neste ponto,
convém relembrar que os teóricos, por exemplo Ramos (2006), apontam a
proveniência dos estudantes de famílias mais desfavorecidas como um factor que
favorece o insucesso.
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Deduz-se que, na sua maioria, os estudantes do ISPT tiveram oportunidade
de obter melhores bases no seu percurso escolar devido à sua origem social e
económica comparativamente à maioria dos estudantes da ESPtN. Sendo assim,
explica-se que no ISPT a principal causa identificada pelos estudantes seja a «falta
de estudo».
A «deficiência dos professores» teve a mesma quantidade de respostas em
ambas as instituições, mostrando a realidade angolana, em que ainda muito a
fazer para melhorar a qualidade dos docentes de modo generalizado.
Redução do insucesso
Não se consegue, de forma isolada, erradicar por completo o insucesso
académico dado a complexidade desse fenómeno. Todavia, pode-se tentar reduzir
o seu impacto ou o seu nível de expansão.
Benavente e Panchaud
4
(2008, citados por Rosa, 2013) expõem um conjunto de
boas práticas que poderão contribuir para a redução do insucesso escolar. As que
se podem adaptar às instituições de ensino superior em estudo são: uma
aproximação maior entre a linguagem e as culturas dos currículos nacionais às
particularidades de cada região (adaptando à realidade de Angola, podemos falar
de províncias), melhoramento das infra-estruturas escolares segundo a localização
geográfica de cada uma (levando em conta o clima, a arquitetura, etc.), uma
formação de professores muito mais sólida, assim como uma consonância dos
calendários e horários escolares com o estilo de vida da população onde a escola
está inserida.
Conclusões
A expansão do ensino superior em Angola é uma evidência. No entanto
acompanha-a o insucesso académico. Conhecer este fenómeno pela perceção dos
estudantes que terminam a licenciatura é importante, de modo a poder perceber a
4
Benavente, A. & Panchaud, C. (2008). Good Practices for Transforming Education. Prospects, Vol. 38, pp. 161-170.
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visão de uma das partes envolvidas e a quem o fenómeno traz consequências
nefastas.
O objectivo deste artigo foi apresentar as principais causas do insucesso
académico (nas vertentes de: desistência, abandono e fraco rendimento
académico), segundo a perceção de estudantes finalistas de duas instituições de
ensino superior politécnicas, em duas províncias no sul de Angola: O ISPT,
privado, no Lubango - Huíla e a ESPtN, pública, em Moçâmedes - Namibe.
Os resultados empíricos mostram que a falta de meios financeiros,
especialmente ligados à actual crise económica, é apontada como uma a principal
causa das desistências e abandono e as demais causas são apresentadas com
importância desigual nas duas províncias.
A desmotivação é apontada como uma causa da desistência e do abandono
na ESPtN, mas não tem essa importância na percepção dos estudantes do ISPT.
Esta diferença pode ser inerente à recente mudança de instalações da ESPtN,
causando transtornos relacionados com a deslocação na vida dos estudantes e
criando desmotivação.
As desigualdades de resultados entre as escolas são também notórias quanto
ao baixo rendimento escolar em que a falta de bases é a principal causa, segundo
os estudantes da ESPtN, e a falta de estudo por parte dos alunos é apontada como
causa principal pelos estudantes do ISPT. Pode-se apresentar como explicação
para esta diferença de percepção a origem socioeconómica das famílias dos
estudantes ou dos próprios estudantes, acreditando-se que a maioria dos
estudantes da ESPtN são de origem mais desfavorecida do que os do ISPT, logo
com menos possibilidade de aquisição de melhores bases no seu percurso escolar.
Estes resultados podem fornecer uma contribuição para o conhecimento
deste fenómeno no sul de Angola e, com isso, cooperar na procura de medidas de
combate ao problema. Estas são, a nível geral, as apresentadas por Benavente e
Panchaud (2008), mas também, podem vir do conhecimento provincial desta
realidade e aqui este estudo pode ajudar. Sugere-se, além das propostas de
soluções apresentadas, um encontro entre instituições de ensino superior, as que
participaram deste estudo e outras, de modo a que conjuntamente se procurem
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soluções, viáveis e exequíveis numa época de crise, de redução do problema, umas
a nível local, outras podem ser aplicadas a nível mais alargado.
Acreditamos que, deste modo, se possa contribuir para a desejada melhoria
da qualidade do ensino superior angolano.
Referências bibliográficas
Benavente, A. (1990). Insucesso escolar no contexto português — abordagens,
concepções e políticas. Análise Social, vol. XXV (108-109), 1990 (4 e 5)
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Delors, J. (1996). Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da
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Patatas, T, J. P. A. (2017). “Realidade” e esperanças dos estudantes universitários
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Perrenoud, P. (2000). Pedagogia diferenciada: das intenções à ação. Porto
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continental. Dissertação de Mestrado da Universidade de Trás-os-Montes
e Alto Douro. Recuperado a 13 de jun. 2018, de:
https://repositorio.utad.pt/bitstream/10348/2368/1/MsC_bmmrosa.pdf.
Este artigo está licenciado sob a licença: Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0
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passam para a Revista Científica do ISCED-Huíla.
Recebido em 17 de Agosto de 2020
Aceite em 07 de Outubro de 2020