Revista Angolana de Extensão Universitária, v.3, n.2, Julho - Dezembro, pp. 08-11, 2021
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EDITORIAL
A Ressignificação de Práticas no Ensino Em Angola
The Re-signification of Teaching Practices in Angola
La resignificación de las prácticas docentes en Angola
Esta edição da Revista Angolana de
Extensão Universitária traz como tema “A
ressignificação de práticas no ensino em
Angola.” Para reflectir sobre o tema
selecionaram-se os termos ressignificação
e práticas para a condução da proposta
em análise. A selecção dos termos
permitiu olhar para realidade do ensino
angolano e analisar a forma como as
práticas têm sido feitas nesse contexto.
A noção de prática está a ser abordada em
duas dimensões. A primeira, enquanto
resultado da aplicação de uma
determinada acção, designada por
práticas pedagógicas e vista como
unidade curricular e a segunda, voltada
para o costume e os usos, sendo mais
abrangente e assente na actividade do
docente, que baseado nos seus
conhecimentos, oferece respostas aos
mais variados desafios do ofício. Os novos
desafios das práticas no e de ensino
serviram para justificar a inclusão de
ressignificação. Neste sentido, os dois
termos (ressignificação e práticas) estarão
atrelados à componente ensino.
No contexto angolano, as práticas
pedagógicas, no ensino superior,
integram os planos curriculares das áreas
de formação de professores, com o
propósito de levar o (a) estudante ao
terreno para as primeiras experiências,
fazendo com que adquira competências
úteis para o exercício futuro das suas
actividades.
Para ilustrar os desafios que as duas
dimensões encerram recorreu-se à
analogia de um camponês que tem de
saber se uma certa planta se adequa ao
solo e ao mesmo tempo deve encontrar
mecanismos para que ela vingue e não se
perca. A capacidade de pensar na solução
para plantar, de forma satisfatória, é um
ponto forte dessa acção e o estado do solo,
um ponto fraco. Sabemos, portanto, que
entre o momento em que se planta e a
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germinação, surgem vários desafios e o
fim nem sempre é satisfatório. O caso da
pandemia da Covid-19 foi, para o ensino,
um desafio que obrigou a encontrar
saídas para que o ensino continuasse.
Várias barreiras precisaram de ser
transpostas pelos professores, obrigados
a encontrarem soluções cada vez mais
criativas, recorrendo às tecnologias ou a
outros meios para que as actividades
lectivas continuassem.
Alguns desses desafios, bem como as
soluções experimentadas, são abordadas
nesta edição, de formas distintas, com
destaque para as novas formas do fazer
docente, impostas pela situação da
Pandemia.
No primeiro artigo é discutido o impacto
que o Facebook e o WhatsApp tiveram
como alternativa didáctica em tempo de
Pandemia da Covid-19 na Faculdade de
Ciências Sociais e Humanidade. Dada a
circunstância, os autores utilizaram como
alternativa didáctica o Facebook e o
WhatsApp e envolveram dez (10)
docentes e trinta (30) estudantes no
estudo. As opiniões dos docentes e dos
estudantes sobre a influência do
Facebook e do WhatsApp apontaram o
WhatsApp como a rede social mais
utilizada para o intercâmbio científico em
tempo de pandemia, apesar das
dificuldades materiais e financeiras que
estes aplicativos impõem. Esta
experiência revelou uma das
potencialidades educativas destes
aplicativos no ensino superior, sobretudo,
o intercâmbio científico. No estudo, os
autores demonstram como esta
alternativa didáctica pode servir em
tempos difíceis, e é, precisamente, uma
das formas de ressignificar as práticas no
ensino superior angolano, considerando
as constantes e inevitáveis mudanças.
Em seguida, são apresentadas
contribuições teóricas relacionadas às
tecnologias digitais suas potencialidades e
a necessidade de sua implementação
sistemática na pedagogia universitária em
Angola. Aqui os autores procuraram
identificar na literatura o impacto real
que as tecnologias digitais provocaram no
desenvolvimento global em diferentes
domínios, mudando a maneira de viver,
pensar e agir, dando origem ao que se
designa de cultura digital, que se
consubstancia no recurso incontornável
às tecnologias digitais para a interacção
social quotidiana. Enfatiza-se, neste
estudo, a facilidade que as tecnologias
podem gerar no ensino superior
angolano, gerando uma
intercomunicação exponencial entre
todos os contextos educacionais do ensino
superior.
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Após a linha sobre as tecnologias digitais,
-se lugar às reflexões sobre a COVID-19
e suas implicações jurídico-sociais na
educação em Angola, demonstrando a
emergência das tecnologias digitais como
solução de determinados problemas
educacionais causadas pela Pandemia da
Covid-19. Os autores enumeram os
principais impactos negativos que a
pandemia causou ao sistema educativo
angolano que, também, de certo modo,
revelou as fragilidades do sistema
educativo. Salienta-se o impacto negativo
resultante do corte das relações jurídico-
laborais (implicações jurídicas) que
desencadeou o desemprego de muitos
trabalhadores do sector da educação, o
que, decerto, proporcionou um impacto
negativo imediato ao nível das famílias
(implicações sociais).
No quadro da intenção de compreender e
ressignificar as práticas no ensino no
contexto angolano, a extensão e o ensino
se (re)configuraram para lidar com o
novo contexto social, sem deixar de captar
essas percepções ou dimensões da
educação, na presente edição.
No quarto artigo, intitulado o ISCED de
Benguela e os desafios actuais da
qualidade do processo de ensino-
aprendizagem de História, encontramos
uma abordagem sobre o estado actual do
processo de ensino-aprendizagem da
disciplina de Didáctica Especial no 2º ano
do curso de Ensino da História no ISCED
de Benguela, para condicionar a formação
de determinadas habilidades, julgadas
básicas ou elementares para os primeiros
anos da Educação Superior. Os autores
destacam também a importância do
conteúdo para o aluno, mas para refletir
no quotidiano dos mesmos, os
professores devem preocupar-se com a
formação de um sujeito pesquisador,
perseguindo o desenvolvimento de
categorias de tempo
(permanência/mudança,
semelhança/diferença e simultaneidade).
No mesmo eixo enquadra-se o último
artigo, com o título Impacto da
transição e adaptação no
rendimento académico dos alunos
do ano no Ensino Superior em
Angola, apresenta-se a transição e
adaptação dos estudantes que ingressam
no Ensino Superior, bem como o seu
impacto no sucesso académico,
nomeadamente ao longo do ano.
Destaca também alguns conceitos
relevantes, assim como alguns modelos
descritivos da transição e características
identitárias dos jovens que ingressam no
ensino superior, incidindo sobre os
traços, em termos académicos, sociais,
pessoais e vocacionais. E concluem
sutentando que as IES devem dedicar
atenção e supervisionar as vivências
académicas dos seus estudantes,
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identificando e intervindo nos factores
que influenciam a integração e o
ajustamento para de uma forma
preventiva, poderem implementar acções
e desenvolverem estratégias que
promovam o envolvimento e o bem-estar
académico dos seus estudantes.
Destarte, ressignificar as práticas no
ensino em Angola é um convite à reflexão
rigorosa sobre um assunto de grande
importância não apenas por abordar
aspectos relacionados às práticas, mas e
sobretudo por discutir as possíveis
soluções para os mais variados problemas
educacionais angolanos, impostos pelo
contexto actual, não somente criados pela
situação da Pandemia da Covid-19, mas
impostos pelos novos desafios
tecnológicos. Deste modo, a construção
de ferramentas tecnológicas para adequar
e melhorar o ambiente de ensino em
realidades como as de Angola, por
exemplo, constituem uma mais-valia e
uma resposta possível para o
desenvolvimento e, consequente
ressignificação das nossas práticas de
ensino.
Bernardo Sipiali Sacanene
Escola Superior Pedagógica do Bengo
Chefe do Centro de Investigação
Científica e Desenvolvimento
Tecnológico
António Van-Dúnem de Gouveia
Pinto
Escola Superior Pedagógica do Bengo
Biblioteca Central
Hilário Eurico Piriquito
Escola Superior Pedagógica do Bengo
Departamento de Ensino Investigação e
Extensão em Ciências da Educação
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