Revista Angolana de Extensão Universitária, v.2, n.3, Julho-Dezembro, p.06-09, 2020
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EDITORIAL
Intervenção das instituições de ensino superior no campo social
Intervention of higher education institutions in the social field
Intervención de las instituciones de educación superior en el ámbito social
Maria da Conceição Barbosa Rodrigues Mendes
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Instituto Superior de Ciências da Educação de Benguela, Angola
saobarbosa67@yahoo.com.br
O actual contexto social, de modo
geral, tem sido impregnado de
desafios, em muitos casos,
decorrentes de adversidades de vária
ordem, o que impulsiona as
instituições a desenvolverem acções
que lhes permitam adaptar-se aos
contextos e, mais do que isso, à
resiliência organizacional. Para as
instituições escolares, principalmente
as vocacionadas à produção de
conhecimentos, os desafios são,
quiçá, maiores, cujas complexidades
entrelaçam a tríade produção de
conhecimentos, sistematização e
divulgação dos resultados obtidos por
via do método científico. Tal realidade
1
Doutora. Professora Catedrática. Coordenadora da Comissão de Gestão.
leva implícita a lógica da pertinência
e do compromisso social das
instituições, ao que se associa,
inevitavelmente, a sua estreita
vinculação com a sociedade.
Assim, de modo tangencial,
consideramos que a extensão
universitária, se configura como um
campo privilegiado de intervenção das
instituições de ensino superior,
enquanto área propiciadora do
compromisso social da universidade,
substanciado, de modo considerável,
a pertinência social das
universidades. Portanto, a extensão
universitária emerge, por um lado,
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Maria da Conceição Barbosa
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como pressuposto revelador da
pertinência da Revista Angolana de
Extensão Universitária (RAEU),
enquanto plataforma que tem sido
utilizada para a divulgação de
resultados de estudos focalizados,
preferencialmente, no campo
educacional. Por outro lado,
conforma um espaço que congrega
investigadores cujos perfis sinalizam
notável diversidade e multiplicidades
conceptuais e procedimentais na
arena investigativa. Tal dimensão
eleva a RAEU como uma rede que
substancia a interacção com a
sociedade, o que, em seu turno,
destaca as possibilidades de
projecção no contexto nacional e
internacional.
Imergindo no escopo da 3.ª Edição da
RAEU, encontramos abordagens
cujos resultados podem ser
enquadrados em dois principais
domínios: (i) gestão e administração
educacional e (ii) práticas de gestão
do processo de ensino-aprendizagem.
As reflexões traçadas e
argumentadas, de modo singular em
três dos artigos que conformam a
revista, mormente (i) o ensino
superior angolano em tempo de
COVID-19, salientando as mudanças
e as transformações esperadas e
articuladas com as abordagens
expressas no texto resultante da
entrevista, centrada na
reestruturação do Ensino Superior e
os Novos Espaços para a Extensão
Universitária em Angola, (ii) o texto
sobre Mapeamento de acções e
projectos de extensão, ensino e
investigação das Instituições de
Ensino Superior angolanas durante a
pandemia da COVID-19 e, por fim, o
(iii) artigo Melhorias nos processos de
gestão das acções de Extensão
Universitária, colocam em discussão,
aspectos intrínsecos à política
educativa nacional, sem excluir
especificidades inerentes às práticas
do contexto educativo em Angola, que
se enquadram no âmbito da gestão e
da administração educacional.
As abordagens estruturadas sobre as
políticas educativas em Angola,
ganham pertinência num panorama
em que a melhoria permanente da
qualidade tem sido referenciada como
uma questão premente, cuja
complexidade envolve, do nosso
ponto de vista, o conhecimento da
situação real, enquanto fundamento
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para o estabelecimento de planos de
intervenção fundados em
racionalidades que possam potenciar
boas práticas e sinalizar caminhos
tendentes a corrigir os eventuais
hiatos (imprecisões e irregularidades)
inerentes às dinâmicas
organizacionais.
Os textos dos artigos sobre a
avaliação formativa da comunicação
matemática, com o foco na análise do
Manual da 10.ª Classe e sobre a
utilização das tecnologias de
informação e comunicação no
processo de ensino-aprendizagem no
subsistema de ensino superior em
Angola, discutindo uma alternativa
no período de pandemia, apesar de se
enquadrarem no nível micro,
descortinando questões práticas
implícitas a contextos específicos da
sala de aula, sustentam as decisões
de nível meso e macrossociológico do
sistema.
Isto justifica a concepção do contexto
da sala de aulas, como campo
propício para a implementação das
directrizes curriculares, requerendo
deste modo, considerar uma
multiplicidade de elementos que
funcionam como referentes para a
acção pedagógica e para a
concretização dos objectivos
educacionais. Isto sinaliza a
pertinência da actuação docente
baseada em estratégias que
configurem cenários didácticos
centrados nas aprendizagens, isto é,
que privilegiem o estudante como o
centro do processo de ensino-
aprendizagem. Enfatizamos cenários
didácticos baseados em metodologias
activas, em estratégias que envolvam
o estudante como sujeito da
aprendizagem. São cenários que
propiciam, por exemplo, a busca
permanente do conhecido pelo
estudante, a partir da transposição
do tradicionalismo que coloca o
ensino no centro do processo. Um dos
exemplos típicos é a sala de aula
invertida, não ignorando o papel do
professor na sua configuração e
dinamização.
Consideramos assim que a 3.ª Edição
da RAEU coloca, de modo singular, à
disposição dos profissionais e dos
gestores da educação, um conjunto
de textos válidos, baseados em
critérios de rigor metodológico e
científico, que, por um lado, captam
realidades específicas e, por outro,
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discorrem dinâmicas que situam o
leitor, ora na dimensão mais
estruturante do contexto
educacional, ora num palco mais
prático, que discute dinâmicas do
âmbito da concretização do currículo.
Ou seja, o leitor tem a possibilidade
de realizar uma viagem, que nos
parece interessante, cujo percurso
contrasta, desde abordagens macro
sociológicas, transitando para a
perspectiva micro sociológica. Fica
por explorar o papel e a
responsabilidade da escola e seus
actores nesse processo, assumindo
perspectivas compósitas de
abordagem organizacional.
Ressaltamos a realização de estudos
que permitam aferir os reais efeitos
das acções que corporizam a extensão
universitária, com base nos quais
poderão ser construídas estratégias
de intervenção de elevada pertinência
e de pendor inovador. Pensamos em
estratégias inclusivas (envolvendo os
diversos actores organizacionais) que
valorizem o papel social das
instituições de ensino superior em
Angola.
Resta-nos conferir crédito à RAEU,
formulando um convite especial a
todos os que se preocupam com a
educação, de modo geral, e de modo
muito particular, os que se
interessam por questões inerentes às
funções substantivas da
universidade, mormente, as que
conformam a extensão universitária,
enquanto campo constitutivo e
diferenciador das dinâmicas das
instituições de ensino superior.
Licenciado sob a licença: Creative
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License. Ao submeter o manuscrito o autor está ciente de que
os direitos de autor passam para a Revista Angolana de
Extensão Universitária.