Tendo feito o teste agora, sente, neste momento, a mesma pressão que sentiu no
início na quarentena domiciliar?
Sim! Sim, a pressão voltou, apesar de já ter passado mais de quarenta dias, desde que
cheguei, senti como se estivesse ainda dentro dos quinze [primeiros] dias, que é o período que
achamos que poderíamos ser testados. A pressão voltou. Voltou de tal modo que... [quando]
me desloquei ao local para a colecta, com todo o cuidado, com todas as medidas e, posto lá,
vendo o cenário (os médicos todos bem equipados), a pressão voltou. Agora estou à espera
que este período termine de uma vez por todas e penso que será uma realidade a partir do
momento que eu receber o resultado.
Nas suas respostas vê-se que o desconhecido o assusta muito, que além de viver
com a suspeita de estar ou não com COVID-19, existe a pressão de talvez ser a
pessoa que vai ¨levar¨ o vírus para os outros. O desconhecido é mais um motivo
para a pressão que sente?
Existe! Existe, sim, esta pressão, fruto do sentimento de que posso ser o vector de
transmissão, porque fiz o teste e não recebemos ainda o resultado... E, não tendo os
resultados, a pressão psicológica é aquela, [é] uma situação muito difícil porque saber que nós
temos casos de pessoas assintomáticas e, não obstante estar aqui há já 45 ou 46 dias, podemos
sim ser [portador do vírus], apesar de não termos sintomas. Mas estamos calmos, em casa,
com a preocupação até o momento de recebermos o resultado. Continuamos em casa, porque
a situação está a ser gerida deste modo. Teria sentido menos pressão se depois dos 15 dias
fosse testado. Mas temos que perceber que, se calhar, no momento, não era possível, passando
a ser apenas, agora. Apesar de termos saído de casas algumas vezes, ter interagido com mais
pessoas, ir às compras, fazendo as questões de necessidade básica, continuo confuso, continuo
pensativo. Mas por saber que já estamos nesta situação, o que devemos fazer é apenas esperar.
Presumo que daqui a dois ou três dias, no máximo, possa receber os resultados e esta pressão
vai terminar, visto que saberemos o nosso estado epidemiológico.
Viveu a realidade da evolução de Portugal (a expectativa, a evolução e o estado
de emergência) e, também, a de Angola. Qual das realidades mais o assustou?
A realidade que mais me assuntou e tem sido mais difícil de vivenciar, muito
sinceramente, é a realidade angolana, tudo porque, infelizmente, nós temos uma sociedade