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Impactos da Pandemia na Vida Académica dos Estudantes Universitários
Impacts of the Pandemic on University Students Academic Life
Impactos de la Pandemia en la vida Académica de los Estudiantes Universitarios
Victor João Morales
1
Escola Superior Pedagógica do Bengo, Angola
victorjoaomorales@gmail.com
Yanelixa América Frutos Lopez
2
Universidade de Las Tunas, Cuba
Yanelixaf244@gmail.com
Resumo
Este artigo visa descrever os impactos causados pela COVID-19 na vida académica dos
estudantes da Escola Superior Pedagógica do Bengo. Participaram deste estudo 15
estudantes, por meio de inquéritos enviados por WhatsApp e Facebook. Os resultados
revelaram que cada estudante sentiu os impactos de maneira e intensidade diferente. Diante
dos achados, concluiu-se que a pandemia, provocada pela COVID-19, desencadeou
mudanças profundas na vida dos estudantes, alterando suas expectativas sobre o ano
lectivo, sua interacção com os docentes e, inclusive, sua saúde mental. É necessário,
portanto, tratar-se com especial atenção as situações decorrentes da COVID-19 sobre os
estudantes universitários, considerando, sobretudo, a proximidade do retorno às aulas,
prevenindo-se, dessa forma, a emergência de problemas sociais e da ordem da saúde
mental.
Palavras-chave: COVID-19, impactos psicológicos e académicos, ESPBengo
Abstract
The present study aimed to point out the impacts caused by COVID-19 on the academic
life of students of the Pedagogical Higher School of Bengo. The study included 15 students
from the Bengo Pedagogical School (ESPBengo), through surveys sent by WhatsApp and
Facebook. The results of the study revealed that each student felt the impacts in different
ways and proportions. In view of the results, it was concluded that the pandemic caused by
COVID-19 caused profound changes in the students' lives, changing their expectations
about the school year and in the interaction with teachers. It is necessary, therefore, to treat
with special attention the situations arising from COVID-19 about university students,
especially considering the proximity of the return to classes, thus preventing the emergence
of social problems and the order of mental health for this population.
Keywords: COVID-19, psychological and academics impacts, ESPBengo
1
Licenciado. Departamento de Ensino, Investigação e Extensão de Ciências da Educação.
2
Mestre. Especialista em Educação Especial.
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Resumen
El presente estudio tuvo como objetivo señalar los impactos causados por COVID-19 en la
vida académica de los alumnos de la Escuela Superior Pedagógica de Bengo. El estudio
incluyó a 15 estudiantes de la Escuela Pedagógica Bengo (ESPBengo), através de
encuestas enviadas por WhatsApp y Facebook. Los resultados del estudio revelaron que
cada estudiante sentía los impactos de diferentes maneras y proporciones. En vista de los
resultados, se llegó a la conclusión de que la pandemia causada por COVID-19 causó
cambios profundos en la vida de los estudiantes, cambiando sus expectativas sobre el año
escolar y en la interacción con los maestros. Por lo tanto, es necesario tratar con especial
atención las situaciones derivadas de COVID-19 sobre los estudiantes universitarios, sobre
todo teniendo en cuenta la proximidad del regreso a las clases, evitando así la aparición de
problemas sociales y el orden de salud mental para esta población.
Palabras clave: COVID-19, impactos psicologico e académicos, ESPBengo
INTRODUÇÃO
m situações de adversidade pública, de tensões e de incerteza sobre o
futuro, é fundamental que todas as forças sociais (políticas, académicas e
a sociedade civil), se unam e trabalhem em conjunto, cada uma fazendo o
melhor que pode na sua área de actuação, contribuindo para o bem-estar de todos, a
preservação da vida e a promoção de um ambiente saudável.
Tendo em consideração as diversas mudanças sociais causadas pela COVID-19,
causada pelo novo coronavírus, em diferentes partes do planeta, investigadores de distintas
esferas do saber, lançaram-se na realização de pesquisas, que lhes permitissem
compreender as causas desta doença, os modos de contágio e as diferentes formas de
prevenção, bem como na compreensão dos impactos da COVID-19 na economia, nas
famílias, e noutras esferas sociais.
No campo educacional, inúmeros estudos também foram, e continuam sendo
realizados, de modo a proporcionar uma melhor compreensão dos impactos da COVID-19
neste sector, explorando as modificações que os estudantes dizem sentir tanto
relativamente a aspectos académicos, quanto à questão da sua saúde mental. As reflexões
produzidas neste artigo podem ajudar a iluminar os esforços que vêm sendo feitos no
sentido de subsidiar estratégias de reajustamento de programas curriculares, de actividades
didácticas, actividades intra e extracurriculares que serão desenvolvidas.
E
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Nesta linha de pensamento, na presente investigação, interessou-nos promover uma
discussão sobre os impactos da COVID-19 na vida académica dos estudantes
universitários.
Neste contexto, tornou-se imperioso também, em Angola, à semelhança do que
se verificou noutros países, a adopção de medidas de excepção urgentes, de modo a conter
a propagação da doença, salvaguardar a vida humana e assegurar o funcionamento dos
serviços e o abastecimento de bens essenciais.
Assim foi publicado, no dia 25 de Março de 2020, o Decreto Presidencial n.º 81/20,
de 25 de Março, que declarou o “Estado de Emergência” em todo o território de Angola,
com fundamento na situação de eminente calamidade pública.
O Estado de Emergência teve a duração inicialmente prevista de 15 (quinze) dias,
iniciando às 00h:00 do dia 27 de Março de 2020 e cessando às 23h:59 do dia 11 de Abril
de 2020, havendo a possibilidade de prorrogação. Adicionalmente, o Decreto Presidencial
n.º 82/20, de 26 de Março veio definir as medidas concretas de excepção a vigorar durante
o período de vigência do Estado de Emergência, sem que isso impossibilitasse a adopção
de outras medidas.
Com a publicação destes Decretos, diversos serviços e estabelecimentos de
atendimento ao público ficaram temporariamente suspensos. Nesta altura, as instituições de
ensino, com realce as de ensino superior, tiveram que reajustar os seus programas, e
planificar a diferentes formas de prestar serviços aos seus utentes, tratando-se, portanto, de
uma das diversas medidas extraordinárias que foram necessárias adoptar, em resposta à
grave crise sanitária, para evitar a progressão da doença e, dessa forma, contribuir para
contenção o colapso do sistemas de saúde.
Neste contexto, a universidade é chamada a reinventar-se e a recuperar sua missão
social, ajudando a sociedade a compreender as consequências da pandemia sobre as formas
como até aqui temos organizado a nossa vida, subsidiando dessa forma estratégias e
programas de contenção dos governos locais.
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Missão social da Universidade
A missão da universidade na sociedade foi, em todas as épocas, produzir e difundir
o conhecimento, embassado no estudo do que nos rodeia, oferecendo diversas
interpretações na forma de conceitos, leis, teorias, pensamentos e explicações.
A universidade deve, portanto, ser parte integrante da vida do povo e da história da
sociedade, dada a sua contribuição para o desenvolvimento comunitário, cumprindo o seu
papel de instituição responsável pela produção, difusão e socialização do saber em
benefício do homem e da sociedade (Silva, 2015).
Para o cumprimento desta importante missão social, a Instituição de Ensino
Superior (IES) procura, face às constantes transformações sociais, adequar o ensino às
diferentes realidades de cada momento histórico. A missão social da universidade realiza-
se por meio de suas funções básicas: o ensino promovido através da difusão e transmissão,
sistemática e rigorosa, de conhecimentos armazenados pelos diferentes dispositivos.
A universidade utiliza a pesquisa como meio de ampliação e descoberta de
conhecimentos embassados nas culturas, de factos e fenómenos de ordem sociais e naturais
e a extensão universitária como um canal, que contribui para formar cidadãos conscientes
de seu papel, no seu tempo, no seu lugar, na perspectiva de ultrapassar a dicotomia utopia-
pragmatismo, sem, contudo, abrir mão de sonhos e projectos comuns. Pode-se afirmar, que
a extensão, quando desenvolvida com base no diálogo e na comunicação, renova, dinamiza
e projecta a cultura universitária; à educação um traço humanístico; promove a
integração interinstitucional; transforma o aluno em agente social; desenvolve visão
interprofissional; contribui para o desenvolvimento da comunidade e faz do saber um
instrumento a serviço do povo (Santos, 2003; Silva, 2015 & Varela, 2015).
Como se vê, a universidade desempenha um papel importante no desenvolvimento
e na manutenção das sociedades, na liderança e nos processos de transformação desta.
Deste modo, a educação superior é um dos pilares fundamentais dos direitos humanos, da
democracia, do desenvolvimento sustentável e da paz, e que, portanto, deve ser acessível a
todos no decorrer da vida (UNESCO, 1998).
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“A acção da universidade em Angola pode representar uma oportunidade se
considerarmos que, face aos imperativos do desenvolvimento regional, ela consiga actuar
como parceira desse processo” (Silva, 2016, p.53). Para que a universidade se configure
como um vector do desenvolvimento de determinada sociedade, é fundamental que a
formação de quadros competentes se afigure como prioridade na sua nobre missão. A
formação de quadros competentes pressupõe formar cidadãos com espírito patriótico,
cidadãos que possam reflectir numa dimensão global para actuarem de forma local na
resolução dos problemas sociais. A formação de quadros competentes requer entender que
a sociedade não é “um mar de rosas” pois na sua essência como tal, está constituída de
diversidades e adversidades, as quais exigem a adopção de um espírito criativo-inovador e
crítico. Esta formação, de nível superior, não implica ser, necessariamente perfeita, pelo
contrário, uma formação que transforma os indivíduos em cidadãos capazes de
responderem de forma satisfatória às demandas locais, contribuindo de maneira eficaz para
o desenvolvimento humano e ambiental sustentáveis.
A formação de nível superior se torna imprescindível quando produz resultados
cuja finalidade última é a satisfação das demandas sociais. Deste modo, a missão do ensino
superior é a formação de cidadãos capazes de transformarem o meio a sua volta,
transformando, em primeira instância as suas próprias vidas (Silva, 2016).
Os estudantes universitários no contexto da pandemia: saúde e vida académica
Falar sobre a saúde dos estudantes universitários pressupõe analisar as questões de
adaptação, motivação, interacção social, entre outras, como a higiene e segurança nas
instituições de ensino superior. Qualquer alteração nesses elementos pode desencadear um
conjunto de eventos de ordem psicológica, como stress, ansiedade, fobia social, depressão,
que por sua vez, configuram-se como fonte geradora de insucesso escolar e dificultando o
indivíduo no desempenho das responsabilidades académicas e a resposta às demandas
típicas deste nível de ensino, criando ainda problemas na interacção social, motivação e
expectativa em relação ao curso escolhido.
“Estudar a saúde mental em estudantes do ensino superior é particularmente
importante numa época em que se verifica um aumento dos problemas de saúde mental nas
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sociedades contemporâneas em geral” (Nougueira, 2017, p. 30). Deste modo, a pandemia
soma-se às várias preocupações existentes relativamente como a saúde dos mesmos
estudantes pode ser afectada. Se por um lado temos à vista o risco de contágio pela doença
com todas as consequências que isso pode trazer, por outro temos os problemas
psicológico, que também podem emergir, como consequência, por exemplo, da incerteza
quanto ao retorno às aulas, a insegurança que paira no caso de retorno, a carga de trabalho
associada ao tempo do confinamento. Todas estas são situações que devem ser melhor
estudadas e compreendidas para que possamos trabalhar na criação de estratégias que
permitam a antecipação dos problemas que os estudantes venham a enfrentar.
Tal preocupação é importante, porque, como nos fazem saber Pondavali, Neufeld,
Maltoni e Lameu (2014), os problemas de saúde mental têm impactos marcantes e
duradouros na saúde e no bem-estar dos estudantes do Ensino Superior, comprometendo o
normal desenvolvimento e maturidade (cognitiva, psicossocial e vocacional), além de
interferir no percurso académico, diminuindo o rendimento escolar e aumentando a taxa de
abandono.
O simples conhecimento da existência do surto do COVID-19, por si só, já
constitui uma experiência perturbadora que pode desencadear efeitos adversos sobre a
saúde física e psicológica seja, por exemplo, pela ameaça de um surto na instituição, seja
pela insegurança causada pela impotência aparente de se conter totalmente a propagação
do vírus, contribuindo para o desenvolvimento de níveis mais elevados de ansiedade e
stress. Segundo Nougueira (2017), as exigências e demandas da vida universitária
evidenciam que o estudante universitário, desde o seu ingresso na instituição, deve
apresentar recursos cognitivos e emocionais complexos para o manejo das demandas desse
novo ambiente. O ambiente académico pode ser stressante quando não condições de
higiene e segurança que favorecem o processo de ensino-aprendizagem, normas adequadas
que permitam o desenvolvimento saudável de socialização e incentivam a comunicação de
alunos com professores e com a sociedade e suas relações ambientais.
Nessa altura da vida, o jovem é confrontado com tarefas específicas, experiências
como o estabelecimento de relações mais íntimas, a autonomização em relação à família, a
gestão do tempo e do dinheiro, o contacto social mais alargado, verdadeiros desafios que
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exigem mudanças, de forma a possibilitar a sua adaptação. A qualidade dessa adaptação
pode ser um factor fundamental para a saúde mental do indivíduo (Costa & Leal, 2008). Os
estudantes do Ensino Superior encontram-se num período crítico do seu desenvolvimento
com repercussões futuras ao nível da sua segurança económica e bem-estar. Estudos
estatísticos demostram uma incidência elevada de estudantes universitários com
sintomatologia clinicamente significativa, com preponderância de stress, ansiedade,
perturbações do humor, do sono, alimentares, abuso de substâncias psicoactivas
(Nougueira, 2017).
Alerta-se sobre a importância de estudar a saúde dos estudantes universitários, pois
estes se encontram num nível onde se exige alocar habilidades cognitivas necessárias para
responder as demandas próprias deste subsistema. Abordagens sobre saúde dos estudantes
do nível em referência são fundamentais para que se possam assegurar as condições
essenciais ao funcionamento harmonioso destas instituições, garantindo o processo de
ensino-aprendizagem de qualidade, tornando a universidade um verdadeiro espaço de
promoção do desenvolvimento humano. Pois os indivíduos aí formados tornam-se no
principal recurso para a transformação da sociedade, respondendo às necessidades das
comunidades locais. Portanto, aos riscos inerentes à condição de estudante universitário
devemos agora adicionar todo o perigo que pode representar para ele a situação da
pandemia.
Declaração do estado de emergência
A Organização Mundial de Saúde, no dia 11 de Março, elevou a situação de
emergência de saúde pública ocasionada pela CODIV-19 para pandemia internacional.
Neste contexto, tornou-se imperioso também em Angola, e à semelhança do que se
verificou em outros países, a adopção de medidas de excepção, extraordinárias, necessárias
e urgentes, de modo a evitar a propagação da doença, salvaguardar a vida humana e
assegurar o funcionamento dos serviços e o abastecimento de bens essenciais.
O Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação “MESCTI” viu-
se na obrigação de publicar o Decreto Executivo n.º 02/20, de 19 de Março, dando por
suspensas todas as actividades lectivas em todas as Instituições de Ensino Superior
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públicas, privadas e público-privadas, a partir do dia 24 de Março, por um período de
quinze (15) dias, automaticamente prorrogável por igual período de tempo, se não
houvesse disposição em contrário, em função do comportamento global da pandemia
COVID-19. Considerando que o desenvolvimento das actividades lectivas das instituições
de ensino superior envolve um número significativo de membros da comunidade
académica superior ao aglomerado de mais de 200 (duzentas) pessoas, previsto no n.º1 do
artigo 2.º. do Decreto Presidencial Provisório n.º1/20, de 18 de Março.
Objectivo do estudo
O objectivo deste artigo é abordar os impactos da pandemia da COVID-19 na vida
académica dos estudantes da Escola Superior Pedagógica do Bengo.
METODOLOGIA
No presente artigo, assume-se a abordagem qualitativa, tendo como foco a
interpretação dos fenómenos e a atribuição de significados, pois se considera que uma
relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito que não pode ser quantificável (Simões,
2016).
Método e técnicas
Utilizou-se o inquérito como técnica de recolha de dados. Segundo Collera (2017)
consiste em um conjunto de perguntas cujo conteúdo e extensão dependem dos objectivos
da investigação. Quanto ao procedimento de levantamento de dados a partir da amostra,
foram enviados, através de redes sociais WhatsApp e Facebook”, inquérito aos diferentes
grupos de amigos virtuais dos autores do trabalho, solicitando o seu preenchimento e
devolução em tempo estabelecido de catorze (14) dias. Deste modo, até a data estabelecida
para devolução, dos cinquenta (50) estudantes, apenas quinze (15) estudantes dos
diferentes grupos virtuais contactados, reenviaram os inquéritos preenchidos.
Participantes
A Escola Superior Pedagógica possui matriculados neste ano lectivo, segundo
dados do seu Relatório de Exames de Acesso (ESPB, 2020a), 2387 estudantes, entre o
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período diurno e pós-laboral. Sendo que, participaram deste estudo 15 estudantes da Escola
Superior Pedagógica do Bengo.
O processo de selecção da amostra foi feito aleatoriamente, sendo necessário,
apenas, ser estudante da Escola Superior Pedagógica do Bengo. A escolha da instituição
fez-se, tendo em conta a seu perfil de formação, isto é, “formação de professores”, como
também a facilidade de estabelecer contactos com os estudantes da devida instituição, por
intermédio das redes sociais WhatsApp e Facebook.
A Escola Superior Pedagógica do Bengo (ESPBb) foi criada pelo Decreto-Lei
n.º7/9, de 12 de Maio, nos termos da lei é uma pessoa colectiva de direito público, com
estatuto público e goza de autonomia científica, pedagógica, administrativa, disciplinar,
finaceira e patrimonial. É uma instituição de âmbito provincial e desenvolve as suas
actividades académicas, pedagógicas e sociais na província do Bengo, onde tem a sua sede.
A ESPB é uma instituição de ensino integrada no subsistema de ensino superior,
que tem por missão o desenvolvimento de actividades de ensino, investigação científica e
prestação de serviços à comunidade, através da promoção, difusão, criação, transmissão da
ciência e cultura, bem como a promoção e realização de investigação na área de ciências da
educação. Actualmente a instituição oferece os seguintes cursos de licenciatura: Ensino da
Psicologia, Ensino da Pedagogia, Ensino da História, Ensino da Língua Portuguesa, Ensino
da Matemática e Ensino da Informática (ESPB, 2020b).
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
No decurso da nossa pesquisa e feita a análise dos achados, obtidos por meio dos
inquéritos realizados, verificamos um grande volume de informação, que foi organizado
em 5 (cinco) categorias temáticas para facilitar a discussão. Tais categorias são
apresentadas e comentadas a seguir e representam basicamente as seguintes esferas: saúde
mental, organização da vida académica dos estudantes e interacção alunos/alunos e
alunos/professores.
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Sofrimento psicológico
A situação de quarentena é desagradável por diversas razões, por exemplo, pela
falta que sentimos ao estarmos longe de pessoas queridas (parentes, colegas, amigos), pela
privação da nossa liberdade, pela preocupação com a propagação da doença e com a
incerteza em relação ao tempo que durará para o regresso à normalidade.
Podem ocorrer diversas manifestações psicológicas como: stress gerado pela
ruptura na rotina diária, sensação de frustração, tristeza e medo gerado pelas informações
transmitidas pelos órgãos de comunicação e partilhadas pelas redes sociais, entre outras.
Fiquei muito tempo sem estudar, pois estava mais preocupado com
a minha sobrevivência. E.10. Afectou-me bastante, porque fiquei
com medo de ser contaminado pelo vírus, e esse medo afectou no
meu desempenho académico. E.9. É difícil estudar nessas condições
de confinamento. E.12. A incerteza do amanhã está fazer-me passar
mais tempo a ouvir notícias e estou a estudar pouco. E.11. Não
desenvolvi nenhuma actividade académica, estou mais preocupado
com as notícias. E.10.
Os resultados sugerem que esta pandemia provocou efeitos negativos na saúde
mental dos estudantes universitários, reforçando que importa continuar a investigar o tema
para que se possa intervir com as ferramentas adequadas segundo as manifestações
psicológicas apresentadas em uma época de vida atípica e desafiadora. Além disso, os
achados realçam a necessidade de se prestar atenção às implicações psicológicas desta
pandemia para que as resoluções decorrentes, no domínio da saúde mental possam ser
convenientemente garantidas, com o retomar das aulas presenciais nos estabelecimentos de
ensino superior.
Desempenho académico
Nesta categoria, os resultados revelam um rebaixamento do desempenho académico
dos estudantes, fruto da quarentena. O ritmo que os estudantes estavam acostumados a
realizar as suas actividades académicas parece baixar:
Não tenho estudado no mesmo ritmo de antes.E.7. O meu
rendimento académico baixou. A preocupação actual consiste em
saber os cuidados a ter sobre a COVID-19.E.12. Fiquei mais
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preguiçoso em estudar, porque gosto de estudar com os meus
amigos e colegas.E.9. Estou mais folgado, apesar de fazer algumas
leituras.E.11. Reduzi na maneira de investigar.E.10
Pode-se notar, nestes comentários, que os estudantes relatam uma diminuição no
seu ritmo de estudo. A falta de contacto com os colegas parece ter gerado um certo
desânimo nos estudantes, o que pode significar que a modalidade do estudo em grupo era
justamente uma das formas que eles utilizavam para motivarem uns aos outros a estudar.
Acesso às aulas online
Nesta categoria, desejava-se saber como era o acesso às aulas online. Aqui é
preciso referir que, o que os estudantes chamam de aulas online são na verdade os
contactos que os professores e alunos tinham por meio de grupos virtuais de Facebook e
WhatsApp, criados durante a pandemia pelas respectivas turmas para garantir a
continuidade do contacto entre os mesmos. Neste grupos se faziam as discussões e
disponibilizava-se o conteúdo. Porém, como se a seguir, nem todos conseguiam ter
acesso a esses grupos por dificuldades financeiras:
Afectou-me muito, pois não tive acesso a nenhuma aula via
“online”, por falta de meios”E.3. “Não havia meios para contactar
os professores”E.7.
Podemos dizer que, a condição financeira das famílias dos estudantes tornou-se
num obstáculo ao ensino “online” no contexto da Escola Superior Pedagógica do Bengo. O
ensino “online” é dispendioso. Exige determinadas condições para manter activa a internet.
Assim, apesar de ser difícil de precisar numericamente por não dispormos de estatísticas,
pelos relatos, os estudantes apresentaram-nos as suas maiores dificuldades, como por
exemplo o tempo de que podiam dispor para usar a internet.
É difícil manter contacto por muito tempo via WhatsApp.E.12. É
louvável a iniciativa dos professores, entretanto precisa-se de mais
meios de TIC”E.5.
A dificuldade existente na assistência das aulas online, é notável e compreensível
considerando o alto custo do uso da internet em Angola. Pode-se dizer que, durante a
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concepção e implementação da via alternativa para dar seguimento às actividades lectivas
com os estudantes, não se levou em conta a realidade económica das famílias dos mesmos.
Aquisição de conteúdo
A aquisição de conteúdos, para os estudantes em fase de elaboração dos trabalhos
de fim de curso (TFC) também é relatada como tendo sido prejudicada, pois a
impossibilidade de transitar dificultou a busca de material, provavelmente porque para
estes estudantes a biblioteca da instituição seria o seu principal acervo de pesquisas.
Afectou na pesquisa e recolha de dados para elaboração do meu
Trabalho de Fim de Curso. Porque não nos é permitido sair de
casa E.1. Impossibilitou-me de deslocar para fazer as minhas
pesquisas académicas. E.8. Parei de investigar, a limitação de
circulação fez com que não tivesse material para estudar. E.1.
Afectou na realização dos meus trabalhos académicos. Não
consigo fazer nada. E.1.
Os comentários acima evidenciam uma enorme aflição dos estudantes, resultante da
quarentena obrigatória. Com isso, no retorno às actividades lectivas presenciais, os
docentes vão, certamente, confrontar-se com várias justificações sobre o incumprimento
das tarefas orientadas.
Interacção com os professores
Quanto à interacção dos alunos com os professores durante o período de
emergência, os resultados foram distribuídos em dois grupos, tendo em conta as
divergências de opiniões.
De um lado temos estudantes que lamentaram os raros contactos com os
professores, revelando que, talvez a modalidade adoptada, no contexto da Escola Superior
Pedagógica do Bengo, para o seguimento dos estudantes durante o período de quarentena
revela não tenha sido a melhor, pois dificultou consideravelmente a interacção dos
estudantes com os professores. Facto que pode ser confirmado pelas palavras dos
estudantes arroladas abaixo:
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Tem havido pouca interacção, por falta de saldo de dados. E.2. A
escola apenas disponibilizou “Email” para contactá-los.
Esqueceram-se que através do confinamento muitos dos estudantes
ficaram sem saldo de dados pois era difícil fazer um negócio.E.10.
Os professores deveriam interagir mais com os alunos. Só estamos a
ter algumas trocas de informação pelo grupo criado no WhatsApp
pela Associação dos Estudantes. E.6. Não tive troca de
informação com os meus professores. E.3. Somente através de um
grupo de debate no WhatsApp é que nos comunicávamos com os
professores. Também não era contacto frequente. E.9
A reivindicação dos estudantes pode ser facilmente entendida, pois, antes do
distanciamento social, a interacção com os professores era relativamente fácil na medida
em que os mesmos podiam ser encontrados na instituição, teoricamente em qualquer dia da
semana e eram muito fácil de estes acontecerem presencialmente. Durante o período de
estado de emergência os contactos além de só poderem ser feitos por via eletrónica,
lembrando que a disponibilização apenas dos emails, leva em consideração o facto de que
os telefones dos professores são privados e, portanto, só poderiam ser disponibilizados com
autorização dos mesmos, diferente dos emails que são institucionais. Houve, no entanto,
alunos que defendiam interagirem com mais frequência com os seus professores.
Houve troca de informação e ajudou-me bastante na orientação
dos meus trabalhos. E.15”
Esses relatos também confirmam a importância do contacto humano, ou seja, da
proximidade física no processo de aprendizagem. uma ligação afectiva ao professor,
que facilita e maior segurança ao aluno, se for feita de forma física e claro, no nosso
caso, também parece evidente que a aposta em relações virtuais por enquanto fica
prejudicada pela condição financeira dos nossos estudantes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma das principais descobertas deste artigo foi conhecer alguns dos efeitos da
pandemia sobre os estudantes da Escola Superior Pedagógica de Bengo, sobretudo na
esfera académica e da saúde mental, permitindo ajudar a rediscutir os problemas
decorrentes de estratégias escolhidas para dar continuidade ao processo de ensino, sem
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levar em conta a realidade sócioeconómica dos estudantes, fazendo acirrar antigos
problemas, como é o caso da exclusão daqueles despossuidos economicamente.
A actual situação académica dos estudantes universitários reflecte de maneira
radical, os efeitos da COVID-19 neste subsistema de ensino. Porém, é importante ter em
conta os impactos vividos pelos estudantes para que se possa reajustar os programas das
unidades curriculares e calendários académicos, de modo a colmatar as insuficiências
apresentadas pelas modalidades alternativas de seguimento aos estudantes durante o
período de confinamento.
Para terminar, fica evidente que é papel da universidade acompanhar e investigar os
processos desencadeados pela COVID-19 nas mais diversas esferas e como estas se
articulam entre si, por exemplo, a descoberta de questões sociais, como a interacção social
entre pares e com os professores e não menos importante, as dificuldades de interação
entre uns e outros, são obstaculizadas pelas condições económicas dos estudantes.
REFERÊNCIAS
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Decreto Legislativo Presidencial Provisório n.º 1/20, de 18 de Março. (2020) Aprova
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Série, Nº 31, 2201-2204.
Decreto Presidencial n.º 142/12, de 22 de Junho. (2012). Aprova o Estatuto Orgânico da
Escola Superior Pedagógica do Bengo e revoga toda a legislação que contrarie o
disposto no presente Diploma. Diário da República, I Série, Nº119, 2767-2780.
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angolana de extensão universitária.
Recebido em 10 de Maio de 2020
Aceite em 24 de Junho de 2020
Publicado em 25 de Julho de 2020