Revista Angolana de Extensão Universitária - RAEU, v. 1, n. 1, p. 80-86, 2019
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Potencialidades da extensão universitária
The university extension potential
potencialidades de extensión universitaria
Cathy Soares Ribeiro
1
Projecto Siona, Angola
CathyrSoares@sapo.cv
João Boaventura Ima Panzo
2
Escola Superior Pedagógica do Bengo, Angola
Imapanzu@gmail.com
Resumo
A extensão universitária é uma das grandes apostas da Escola Superior Pedagógica do Bengo para uma melhor
qualificação dos estudantes, melhorando o seu perfil de saída e contribuindo de forma activa na mudança social
de várias ordens. O Director Geral da instituição, Professor Doutor Ima Panzo, reitera a importância da
indissociabilidade das dimensões do ensino, da investigação e da extensão universitária, bem como a
necessidade de diálogo constante entre a comunidade e a universidade.
Palavras- chave: Extensão universitária, investigação, comunidade
Abstract
The university extension is one of the great bets of the Pedagogic Higher School of Bengo for a better
qualification of the students, improving its profile of exit and contributing of an active form in the social
change of several orders. The Director General of the institution, Professor Ima Panzo, reiterates the
importance of the indissociability of the dimensions of teaching, research and university extension, as well as
the need for constant dialogue between the community and the university.
Keywords: University Extension, Research, Community
Resumen
La extensión universitaria es una de las grandes apuestas de la Escuela Superior Pedagógica del Bengo para
una mejor calificación de los estudiantes, mejorando su perfil de salida y contribuyendo de forma activa en el
cambio social de varias órdenes. El Director General de la institución, el Profesor Dr. Ima Panzo, reitera la
importancia de la indisociación de las dimensiones de la enseñanza, la investigación y la extensión
universitaria, así como la necesidad de un diálogo constante entre la comunidad y la universidad.
Palabras-clave: Extensión universitaria, investigación, comunidad
1
Entrevistadora: Jornalista e Gestora de Projectos do Siona.
2
Entrevistado: Director Geral da Escola Superior Pedagógica do Bengo e autor do livro Extensão
Universitária em Angola. Tendências, Acções e Projecções.
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Entrevistadora: O ensino superior está assente sobre 3 pilares: a formação,
a pesquisa e a extensão universitária. Em que consiste a extensão
universitária?
Entrevistado: Temos duas perspectivas de abordagem desta questão, em função
do contexto desta entrevista. A primeira, que é institucional, a visão da Escola Superior
Pedagógica do Bengo (ESPB) sobre a extensão universitária. A compreensão expressa no
regulamento da actividade de extensão universitária que integra acções entendidas como
projectos/programas integrados ao ensino e à investigação científica, que decorrem de
forma articulada para o desenvolvimento social. Significa a mobilização da escola
(estudantes, professores e outros recursos) na formação destes [os alunos] ao mesmo tempo
que se contribui para a mudança social de algum tipo. Em função do objecto social da
Escola Superior Pedagógica do Bengo, as acções têm sido, tendencialmente, no domínio da
educação.
Pessoalmente, tenho estado a desenvolver uma reflexão sobre esta matéria, aliás,
no ano passado publiquei um livro sobre a Extensão Universitária em Angola (com este
título) e vi-me, também, confrontado com a necessidade de definição deste conceito, até
mesmo para poder desenvolver todas as outras vertentes inerentes à extensão Universitária.
Vou fazer uma breve síntese do que entendo, pessoalmente, por extensão universitária, nas
seguintes palavras: “é a transformação da realidade social pela prática académica de
utilização e de produção de conhecimento em interacção dialógica com a comunidade.
Portanto, há que considerar as três dimensões do processo académico universitário a que se
referiu (ensino, investigação e extensão universitária). E extensão é esta utilização de
conhecimento pelos agentes da academia ou universitários com a intencionalidade de fazer
mudanças sociais, mas também de produção de novo conhecimento sobre esta acção,
portanto, não é uma ação ingénua.
Qual é a ligação entre os três pilares da universidade actual (formação,
pesquisa e extensão)?
Para nós enquanto ESPB, e na minha visão pessoal, estes três pilares são
nominativos do conceito de universidade. Daí que sejam também conhecidos na literatura
como processos substantivos, precisamente para dizer que são os processos que designam a
universidade. Sempre que falamos de universidade, remete-nos automaticamente aos três
pilares [...] o ensino a investigação científica e a extensão universitária, daí que sejam
indissociáveis, ou seja inseparáveis. Não se pode falar de universidade ou de instituição de
ensino superior, lato sensu, sem que abordemos estes três pilares de forma conjunta. A
divisão que fazemos é metodológica, mas a sua acção e actuação no dia-a-dia é conjunta, no
fazer universitário. E esta concretização faz-se, à partida, na concepção da estruturação do
projecto pedagógico ou do plano de desenvolvimento institucional de cada universidade ou
de cada instituição de ensino superior, que procura especificar o modo como se
operacionalizam cada umas dessas facetas da universidade (ensino, investigação e extensão)
e forma como dialogam. E dialogam de diferentes formas.
A formação ou ensino, nesta perspectiva, visa precisamente o desenvolvimento de
competências, aquisição de conhecimentos e valores para que o individuo possa exercer uma
profissão na sociedade, para estarem aptos para o mercado de trabalho. A investigação
científica é a parte das instituições de ensino superior que busca a inovação, o novo
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conhecimento, portanto, tem este desafio de acrescentar valores ao sistema de conhecimento
existente. E a extensão universitária, por um lado, permite a socialização deste
conhecimento de modo que a sociedade se aproprie desta cultura produzida pela
universidade, para melhorar a qualidade de vida das pessoas. E [...] sobre o modo como
estas três vertentes se concretizam na prática, dependerá muito do projecto pedagógico que
cada instituição seguirá. A forma como se concebe a formação dos estudantes e a forma
como se concebe o exercício da profissão docente, dirá muito sobre o modo como se
articulará a questão do ensino, da investigação científica e da extensão universitária.
Em relação à ESPB, temos estado a desenvolver acções de extensão universitária
por meio de projectos e outras acções colaterais, integradas nos projectos para que os nossos
estudantes e professores intervenham na realidade social. Refiro-me, por exemplo, a
projectos ligados à alfabetização de adultos que integra mais de 300 estudantes e 7
professores da escola, que, numa perspectiva de alargamento, ou seja de alfabetização
propriamente dita, os nossos estudantes foram convertidos em alfabetizadores, por um lado,
por outro lado, encontram nesta prática uma oportunidade de aprofundamento de
conhecimentos sobre a andragogia, sendo esta uma matéria desenvolvida nos cursos de
pedagogia, que se desenvolvem aqui na nossa instituição, só para citar um exemplo.
Temos também projectos no domínio da inclusão (necessidades educativas
especiais) em que os nossos estudante realizam acções com crianças nesta condição, bem
como com as suas famílias, de modo a mitigar os efeitos da estigmatização e da exclusão
dessas crianças, de modos a preparar as famílias no sentido de contribuírem para o
desenvolvimento das potencialidades dessas crianças, que são seres/cidadãos que merecem
atenção de qualquer de nós e de toda a sociedade. para citar dois exemplos de vários
outros que temos aqui na nossa instituição. Ora, estes estudantes, para além de terem estas
matérias como disciplinas curriculares nos cursos que frequentam, têm também esta
oportunidade de interacção directa, contribuindo para a mudança de uma determinada
realidade. Quando me refiro a mudanças, por exemplo, refiro-me a um olhar diferente, ao
potenciamento de grupos ou sectores sociais para enfrentar uma determinada realidade de
modo diferente daquele que costumavam enfrentar. No exemplo que dei de crianças com
necessidades educativas especiais e suas famílias, com a acção da nossa instituição (os
nossos estudantes e os nossos professores), os pais envolvidos no projecto estão, hoje, mais
preparados, do que estiveram antes da acção desta instituição. Os professores destas escolas
têm também este benefício, bem como crianças, que tinham dificuldades de integração
social e por meio da dança e outras actividades intelectuais, sentem-se muito mais
integradas, acreditam muito mais em si, sentem-se muito mais capacitadas para enfrentar os
desafios da vida. São exemplos deste tipo a que me refiro como mudanças socias ⌠da
extensão universitária⌡.
Parece haver uma separação clara entre a formação direccionada aos
estudantes, a investigação direccionada aos professores e na extensão é que
vemos a instrumentalização dos estudantes, pelos professores, para a aplicação
prática do que aprende na sala de aula. Queria que fizesse uma reflexão sobre
esta separação acção-agente. Há esta separação ou não? A formação está
reservada aos estudantes, a pesquisa ao professor e na extensão é que o
estudante, de forma submissa, é utilizado pelo professor para que haja a
acção?
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Primeiro dizer que o termo submisso ou submissão não se enquadra nesta
perspectiva. Esta articulação entre o ensino, investigação e extensão, ou formação como
prefere designar, dá-se de forma indissociável. Isto tem muito a ver com o conceito de
universidade em que cada um se guia. Esta é a primeira definição que tem de ficar clara,
porque mobiliza o projecto pedagógico, todo o projecto institucional, o tipo de professores,
o tipo de alunos, os objectivos institucionais instrutivos e educacionais, que vão estar a ele
vinculado e, de algum modo, condicionados, ao conceito de universidade que tivermos. E a
acção da própria universidade fica condicionada ao conceito que se assume como sendo
universidade. Nesta perspetiva, a trilogia ensino, investigação e extensão, isso para nós,
define bem o que vem a ser universidade. A universidade vai passar a ser um espaço de
formação de seres, de cidadão, de homens para enfrentarem a vida em sociedade. Para
enfrentarem o emprego com esta dimensão instrutiva e a dimensão educativa, têm de ter
valores, têm de ser seres afáveis, amáveis, que ame a vida e que tenha ética acima de tudo,
portanto, esta é a dimensão da formação, nesta perspectiva. Por outro lado, como referi, a
investigação científica não é uma actividade exclusiva de professores. Os professores no
subsistema do ensino superior têm a responsabilidade de orientar, de iniciar, de estruturar,
tutorar todo este processo, portanto, precisam de ser investigadores experimentados para
orientar da melhor forma os seus estudantes. Eles precisam, eles próprios, de ser agentes de
investigação. A extensão universitária não se resume simplesmente à prática, mas é um meio
de socialização da cultura do conhecimento que se desenvolve com a intencionalidade de
produzir outro conhecimento, de acrescentar valores ao sistema de conhecimentos existente.
Então, não é certo que a investigação científica seja reservada aos professores e que os
estudantes fiquem excluídos desta função. Os professores, enquanto orientadores/tutores,
devem integrar os seus estudantes e, com eles, produzir investigação científica que conduza
ao novo conhecimento. É esta a perspectivas a que me refiro, em relação à
indissociabilidade entre o ensino, investigação e extensão. Ora, se o estudante desenvolver
acções como aquelas a que me referi anteriormente, alinhadas ao seu perfil de saída,
obviamente que estará a aprofundar estes conhecimentos teóricos e teoportunidade de
concretizá-los na prática, de estabelecer uma relação profícua entre a teoria e a prática.
As três dimensões concorrem para a formação integral dos estudantes e concorrem
para a realização da função do docente do ensino superior, ou universitário, ao mesmo
tempo concorrem para a concretização do objecto social da própria instituição de ensino
superior. É por essas três dimensões que a universidade, que a instituição de ensino superior,
se realiza na sociedade como uma mais-valia, portanto, não vejo aqui possibilidade, talvez o
modo de operacionalização muitas vezes pode diferir num lugar e noutro, priorizando mais
uma vertente do que a outra, mas a concepção que defendemos e que temos estado a
procurar materializar na ESPB é precisamente neste sentido de indissociabilidade entre
ensino, investigação e extensão Universitária, no quadro do projecto pedagógico da
instituição.
Nem todos os projectos podem ser classificados como extensão, quais são os
elementos imprescindíveis para a extensão universitária?
Como disse inicialmente a acção de extensão universitária, entendida como
projecto ou programa, tem como finalidade a resolução de um problema social de algum
tipo, a transformação da realidade social e, por esta via, guiar-nos para caracterizar as acções
de um projecto. Uma primeira acção tem a ver com o carácter didático-pedagógico da acção,
que dizer que a acção a ser desenvolvida no projecto tem de concorrer para o
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desenvolvimento integral do aluno, em relação ao curso que desenvolve, portanto, tem de ter
uma vinculação curricular. Ou seja, se estiver a formar um professor do ensino primário a
acção a ser desenvolvida no projecto de extensão universitária tem de estar orientada neste
sentido, em realizar acções concretas no ensino primário, com agentes, crianças ou até
mesmo materiais didáticos deste nível de ensino. Então, um dos critérios será a vinculação
curricular, neste sentido, com o perfil de saída do formando.
Outro dos critérios será o estar alinhado a uma determinada política pública do
estado. O que quer dizer que a ESPB desenvolve projectos no domínio da alfabetização
porque a alfabetização, reconhecidamente, é uma necessidade social no nosso país e
internacionalmente também, que precisa de mobilizar todos os agentes da escola e não no
sentido de diminuirmos ou erradicarmos o analfabetismo. As acções a serem desenvolvidas
estão também orientadas à resolução de problemas sociais concretos alinhados às políticas
públicas do desenvolvimento do país. Da mesma sorte se enquadra o projecto, de que me
referia, sobre necessidades educativas especiais, portanto, os documentos orientadores do
desenvolvimento do nosso país deixam bem claro necessidade ou a defesa da inclusão de
pessoas com necessidades educativas especiais. Ao realizamos acções neste domínio, por
meio de um projecto, estamos precisamente a cooperar na materialização deste desiderato
estatal. Este é outros dos requisitos.
Podemos acrescentar, ainda, a necessidade de integração da comunidade. É
necessário que o projecto de extensão universitária permita identificar o que seja relevante
para o ensino (a vinculação curricular), que acção de investigação científica irá desenvolver
no âmbito da concretização deste mesmo projecto e de que modo a comunidade - quando
referimos à comunidade, integram aqui grupos sectoriais/socias diferentes, mas também
empresas. As empresas são aqui também integradas como comunidade, a acção/o projecto
pode estar orientado ou a desenvolver-se numa determinada empresa ou num espaço
empresarial como pode estar orientado para um grupo social. Esta identificação do modo
como se desenvolvem as ações relacionadas com o ensino, relacionadas com a investigação
científica e a integração da comunidade, no sentido de resolução do problema social, são
fundamentais para caracterizar um projecto de extensão universitária, distinguindo-o
deoutros projectos sociais que existam.
A extensão universitária, para alguns autores, é uma relação unidirecional no
sentido universidade comunidade, em que a universidade é encarada como
figura de autoridade. Para outros, a extensão pode ser iniciada na sociedade,
abrindo a possibilidade de diálogo. Qual a sua posição, enquanto pesquisador e
académico angolano, tendo em conta a realidade do país, quanto a esta
questão?
Talvez seja importante referir que na minha obra sobre extensão universitária
(Extensão Universitária me Angola: Acções, Tendências e Projecções) referi, dada a
existência de diferentes tipos de projectos de extensão, muitas vezes este rótulo é atribuído
indevidamente a projectos como sendo extensão. Apresento uma classificação sobre a acção
da extensão universitária com base no ciclo gnoseológico de Paulo Freire, por meio do qual
se classifica, num primeiro momento, a extensão pode ser imperfeita ou extensão ingénua,
no segundo, extensão semi- perfeita ou semi-ingénua e, em último lugar, a extensão perfeita
ou extensão gnoseológica. A extensão gnoseológica, que é o último ciclo, na minha
perspectiva, integraria as três dimensões (ensino, investigação e extensão). A relação com a
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comunidade está implícita ao termo extensão universitária. Porém, projectos de extensão
que em muitos casos deixam de fora uma ou outra dimensão, daí a variedade desta
classificação, para integrar, de uma forma mais extensiva, todo o conjunto de acções que se
desenvolvem com o rótulo de extensão universitária. Em suma, ela pode ser imperfeita ou
ingénua, semi-perfeita ou semi-ingénua, periferia ou gnoseológica.
É necessário clarificar a importância da comunidade na extensão universitária
neste diálogo universidade-comunidade-universidade, não no sentido do
contributo da universidade na mudança da realidade social. Como é que a
sociedade propõe, actualmente, para alguns autores, a extensão na direcção
sociedade-universidade (em que a sociedade propõe temas, propõe assuntos à
universidade)?
A perspectiva que temos é que a comunidade desempenha aqui um papel muito importante,
não só de beneficiária do conhecimento produzido pelas instituições do ensino superior, mas
como aquela que participa na produção do novo conhecimento. Os agentes comunitários, ou
as comunidades, têm saberes, conhecimentos, visões, sentimentos, valores que são
considerados fundamentais para a construção desse novo conhecimento. A apropriação de
novos conhecimentos, de tecnologias, de outras práticas que se julgam cientificamente
viáveis e favoráveis deve ser feita numa perspectiva de reconhecimento da actividade do
agentes e da comunidade, é esta a perspectiva com que nos guiamos. Para ser mais preciso,
no projecto de necessidades educativas especiais, são agentes da comunidade os próprios
alunos da escola especial, os seus encarregados de educação, portanto, os pais ou outros,
mas também os professores e a direcção da escola especial, bem como a Administração
Municipal, a Direcção Provincial da Educação, que desempenham, cada um, um
determinada do papel cuja acção concorre para a transformação desta realidade social
intervencionada. Não se olha para a comunidade como um grupo de sujeitos passivos. É
sempre numa perspectiva de cidadania, activa, que, em colaboração com os agentes da
universidade, participam na produção do novo conhecimento.
Numa primeira fase, o ensino superior em Angola, surgiu como uma
necessidade colmatar as “lacunas” de quadros superiores deixadas no pós-
guerra, caminhando, posteriormente para a essência da formação. Como é que
classifica o ensino superior angolano actual?
É uma opinião pessoal, como agente deste subsistema de ensino, o ensino superior,
muito que se lhe diga, porém vou-me ater no desafio do momento, que tem a ver com o
desafio da qualidade. Assistimos, nos últimos tempos, a uma proliferação de instituições de
ensino superior, pelo país, o que levanta o questionamento sobre a qualidade dos docentes,
das infraestruturas, dos alunos que chegam ao nosso subsistema e que dele saem. A questão
de qualidade é a grande preocupação do momento. de facto que olhar de forma crítica
para as condições (os recursos) colocados à disposição das instituições do ensino superior
para a realização da sua missão social. Cada uma com a sua área de actuação específica, mas
no essencial, ainda um trabalho muito grande por se fazer em relação à qualificação do
corpo docente. Qualificação porque, ultimamente, assistimos a uma maior titulação, uma
corrida aos títulos e uma baixa qualificação quer de professores quer de estudantes. O que
requer, em muitos casos, uma reflexão profunda e uma actuação diferente ou uma formação
mais sólida nos domínios específicos de actuação social de cada um.
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Há, de facto, uma procura muito alta em relação aos títulos e que, muitas vezes, não
corresponde com a qualificação das pessoas que ostentem os tais títulos. E isto também
verifica-se ao nível da classe docente. Temos, de facto, de reconhecer que professores,
investigadores e “extensionistas” de nível internacional, mas infelizmente também
aqueles que precisam ainda de alguma ajuda para que possam elevar a sua qualificação, para
que possam corresponder à titulação que têm. Neste domínio, há, de facto, uma grande
carência de ampliação de condições e de maior abertura.
A par deste quesito da qualificação do corpo docente e dos agentes do subistema do
ensino superior, também uma grande necessidade, sobretudo no sector público, de
melhoria das condições de trabalho. Refiro-me às infraestruturas físicas, aos meios técnicos
laboratoriais, para que se possa então fazer uma formação, uma investigação e extensão de
elevada qualidade. Portanto, é fundamental que as instituições tenham um orçamento à
altura da sua missão social, o que muitas vezes não acontece. Aliás, estamos num momento
muito delicado do ponto de vista económico, porém que se atribuir uma atenção muito
particular ao subsistema do ensino superior, na medida em que a sua acção redunda sempre
na elevação de qualidade de vida de toda a sociedade, pontanto, aqui um efeito em
cascata. Se não tivermos pessoas muito bem formadas, se não tivermos universidades
capazes de as formar ao nível do que se faz internacionalmente, teremos então um défice
muito grande no desenvolvimento da nossa sociedade. Estas questões julgo serem centrais
para os desafios das nossas universidades ou instituições de ensino superior de uma forma
geral, no nosso país. O momento é precisamente pela ampliação da oferta, como é óbvio,
temos uma população que cresce de uma forma exponencial, o que requer também da parte
das instituições do ensino superior uma resposta nesta dimensão. Porém, temos de afinar a
qualificação de modos a oferecermos ao mercado de trabalho e à sociedade pessoas muito
bem formadas, tanto do ponde vista instrucional como educacional, portanto, são estas as
questões que julgo serem fundamentais paras as nossas instituições, hoje em dia. A aposta
na universidade e a aposta na integração social no deselvolvimento da sociedade.
Recebido em 30 de Abril de 2019
Aceite em 19 de Maio de 2019
Publicado em 23 de Maio de 2019